Os estudos sobre os referentes textuais são datados já na antiguidade e novas teorias foram sendo desenvolvidas para chegar ao que conhecemos atualmente, que é a potencialidade desse recurso para a produção de sentido no texto, mais especificamente abordadas nesse trabalho, as anáforas indiretas caracterizam-se por serem um processo de referenciação em que a ligação entre os elementos não está explícita no texto, podendo então estar ancorada no contexto e nas imagens que compõe o texto. O presente trabalho tem como objetivo tematizar como os referentes são construídos no texto, dessa maneira, para demonstrar como o processo das anáforas indiretas acontece, o gênero escolhido foi tirinhas. Isto posto, é fundamental o entendimento de teorias como do Funcionalismo, em que autores como Givón (1995) apontam a importância de analisar a língua em sua função, e não apenas a sua estrutura. Outra teoria base fundamental para esta análise é a da  Linguística Textual, dessa forma, autores como Koch (2005) tematizam como o conceito de texto foi progredindo até o que é compreendido hoje, além disso a teoria também explora quais conhecimentos são mobilizados para a escrita e compreensão dos textos em sua totalidade. A metodologia adotada privilegiou uma abordagem de caráter exploratório, já que juntamente com o corpus selecionado, que foram tirinhas do autor Will Leite intituladas Dona Anésia, foram analisados aspectos correspondentes ao papel das anáforas indiretas nesses textos, sendo possível demonstrar a potencialidade de seu uso. Dessa forma, foi possível descrever como as anáforas indiretas ocorrem e contribuem, entre outros aspectos, para a construção de sentidos do texto.

Neste trabalho, propusemo-nos a identificar, analisar e explorar a representação da realidade no romance Torto Arado (2018), de Itamar Vieira Júnior. Consideramos tanto a realidade sociopolítica quanto a realidade mística presentes na obra e utilizamos os conceitos de mundo visível/material e invisível/imaterial para compreender a organização dessa realidade ficcional. Para isso, exploramos a obra utilizando principalmente as cosmovisões Bantu e Yorubá como suporte para compreender as interferências e coexistências do mundo místico (invisível, imaterial) com o mundo sociopolítico (visível, material). Também verificamos como as teorias literárias e algumas vertentes do Romance Realista, como o Histórico, o Maravilhoso e o Animista, perpassam a construção da narrativa e, consequentemente, a elaboração da representação da realidade presente no romance. Desta maneira, concentramo-nos em ter como base cosmovisões e concepções de realidade que não são eurocêntricas, particularmente válidas como referência para o real na obra. No Capítulo 1, debruçamo-nos sobre o mundo místico de Torto Arado e nas cosmovisões Bantu e Yorubá, investigando e analisando a ocorrência de eventos de natureza mística na narrativa. Para isso, utilizamos pensadores como Reginaldo Prandi (2000), Gabriel Bannagia (2013) e Tiganá Santos (2019). No Capítulo 2, focamos nossa atenção na análise do mundo material, para compreender os aspectos históricos, sociais e políticos presentes na obra, e como se relacionam com o mundo imaterial anteriormente analisado, utilizando como apoio teóricos e teóricas como Aníbal Quijano (2005), Beatriz Nascimento (2006) e Lilian Schawarcz (2018). Já no Capítulo 3, procurou-se, a partir dos capítulos anteriores, compreender a forma como se dá a representação da realidade em Torto Arado, levando-se em conta, além das cosmovisões e da realidade histórica, as teorias literárias sobre a representação no romance e as concepções de realidade, com base em autores e autoras como Georg Lukács (2000), Harry Garuba (2012), Wolfgang Iser (2013) e Irlemar Chiampi (2015). Isso nos permitiu concluir que a representação da realidade na obra Torto Arado se dá de forma complexa e dialética, a partir da integração do visível e do invisível, do material e do imaterial, em consonância com as cosmovisões que a definem, ao mesmo tempo em que permanece em um diálogo contínuo com a tradição do gênero romance. Indo além do realismo convencional, a representação da realidade no romance analisado confronta o que é considerado real em uma perspectiva ocidental e eurocêntrica, sem deixar de nos mostrar o que é a realidade nessa perspectiva. Simultaneamente a isso, afirma outra realidade pautada em um referencial que vai além da perspectiva humana e tangível, mas ainda assim, uma concepção de realidade viável e válida.  Baseamo-nos, para além dos autores e autoras já citados, em Alejo Carpetier (2010), Pepetela (2015), Maldonado-Torres (2019), Erich Auerbach (2021) e Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí (2021), entre outros.

A produção poética de Marília Garcia se caracteriza pela presença de processos de hibridização. Nos versos dessa poeta, é notável a confluência de elementos que, historicamente, situam-se em pólos opostos, como: lírica e narrativa, biografia e artifício, poesia e ficção. Sabendo disso, a presente dissertação tem o objetivo de estudar os testes de subjetividade que Marília Garcia promove ao experimentar diferentes dimensões das escritas de si, já que, em sua produção, podemos encontrar: relatos de viagem, diários em versos, pesquisas poéticas pautadas no infraordinário (o termo deriva de Georges Perec) de sua própria vida. Com isso, este trabalho também se propõe a investigar as expansões do conceito de lirismo promovidas pela autora, observando os diálogos que ela mantém com a tradição lírica, em especial, com Carlos Drummond de Andrade e Ana Cristina Cesar. Considerando a dimensão diacrônica dos estudos literários, esta dissertação também propõe a revisão do uso do termo “sujeito lírico” - que surgiu no período romântico e passou por um profundo processo de despessoalização na modernidade - para o estudo de uma poesia em que vida e arte se contaminam mutuamente para se fundir de maneira indissociável. Nessa esfera, situam-se os diálogos entre lírica e a autoficção, categoria de reflexão historicamente associada à prosa, mas que, segundo Evando Nascimento (2017), pode ser expandida para as pesquisas sobre poesia. No horizonte teórico, a dissertação dialoga com pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento para analisar a complexidade do eu que se enuncia na poesia de Marília Garcia. Sendo assim, o arcabouço teórico inclui autores como: Giorgio Agamben (2018) e Jacques Derrida (1995), da filosofia, Silvina Rodrigues Lopes (2012), Dominique Combe (2010) e Michel Collot (2004), dos estudos da poesia, Diana Klinger (2006) e Manuel Alberca (2008), da crítica biográfica especializada em autoficção. Em síntese, as discussões presentes nesta dissertação apontam que a poética de Marília Garcia exercita as escritas de si para desconstruir e expandir uma série de categorias e conceitos tradicionalmente associados à poesia lírica. 

O objetivo da presente dissertação é analisar as estratégias de referenciação presentes em animações minimalistas publicadas em Reels no Instagram. Partimos de uma abordagem teórica sociocognitiva interacionista que explora a linguagem como um processo social e cognitivo, que se efetiva em contextos de interação entre sujeitos. Apesar de a referenciação ser um dos temas mais amplamente estudados na Linguística Textual, o surgimento de tecnologias digitais e os modos de comunicação associados a elas desencadearam alterações nos modos de organização e de funcionamento dos textos, o que tem culminado na transformação de gêneros textuais e no surgimento de gêneros emergentes. A metodologia deste trabalho consistiu na realização de uma pesquisa bibliográfica, constituída por uma compilação e proposição de uma sistematização de pressupostos teóricos que fundamentam o campo da Linguística Textual, bem como os estudos sobre o processo de referenciação. Além disso, foi realizada a análise dos processos referenciais em cinco produções textuais de animações minimalistas publicadas em Reels na mídia social Instagram.  A partir do estudo empreendido, foi possível constatar que o fenômeno da referenciação em produções multissemióticas se reveste de complexidade, o que exige dos leitores habilidades de leitura que contemplem a análise da diversidade semiótica e seus potenciais efeitos de sentidos. Além disso, os processos referenciais podem se configurar como elos coesivos, como processos de introdução e manutenção de referentes, sendo responsáveis pela construção textual (processos de retroação e prospecção) e pela orientação argumentativa.  A partir do estudo teórico, foi possível entender que as teorias de texto estão sendo demandadas a ampliarem abordagens de análise em função dos modos de configuração dos diferentes gêneros textuais, que estão, a partir das ferramentas de edição, apresentando, de modo cada vez mais recorrente, combinações de recursos semióticos. Além disso, foi possível constatar que o fenômeno da referenciação é, atualmente, estudado em uma perspectiva linguístico-semiótico-discursiva. A análise de animações minimalistas publicadas em Reels demonstra que as introduções referenciais e as recategorizações são relevantes para o processo de produção de sentidos, uma vez que as escolhas realizadas pelos produtores são decorrentes do projeto de dizer e são analisadas pelos interlocutores, que, por sua vez, as interpretam a partir de suas concepções de ser e de estar no mundo.

Em sua prerrogativa de manter a liberdade e combater o inimigo, o sujeito autoritário controla, priva e elimina, simbólica ou fisicamente, para que, no fim, a ordem seja mantida. A partir dos estudos discursivos desenvolvidos no Brasil, segundo a linha teórica da Análise de Discurso materialista, escolhemos como tema a ser pesquisado a constituição do discurso autoritário e seus efeitos de sentido. Nosso problema de pesquisa fundamenta-se na hipótese de que, em um cenário distópico, o governo de traços autoritários se constitui pela violência simbólica e física, explicitando seu desejo de poder. Já no recorte temporal de 2019 a 2022, podemos perceber que discursos autoritários passaram a circular com maior força em que prevalece a exclusão simbólica do outro. A partir disso, o objetivo geral desta pesquisa é compreender como o discurso autoritário se constrói na literatura distópica e no discurso da extrema-direita brasileira. Já os nossos objetivos específicos são: identificar as estratégias discursivas em 1984, de George Orwell, ancoradas na indústria cultural; detectar, pelo processo discursivo, como o sujeito constrói a imagem de si e a imagem do outro no discurso da extrema-direita brasileira, respaldada na superindústria do imaginário; comparar as análises empreendidas e os efeitos de sentidos dessa aproximação. Para composição do referencial teórico, campos diferentes, como do discurso, da literatura, da comunicação e da teoria crítica serão mobilizados e articulados a fim de construir um percurso que contribua para compreender a problemática levantada. Tendo isso em vista, partimos dos estudos discursivos de Pêcheux (1990; 1999; 2014a; 2014b), Orlandi (1995; 2011; 2015) e Foucault (1996; 2008); de Adorno e Horkheimer (1985) e Christoph Türcke (2010) da teoria crítica, Bucci (2019; 2021) nos estudos da comunicação; Booker (1994) e Claeys (2015) com trabalhos sobre distopia, para citar alguns autores que contribuem com as discussões propostas. Em síntese, a partir das análises feitas, podemos perceber que, seja na ficção, seja na contemporaneidade, o discurso autoritário se constitui pelos processos de controle e interdição e o uso da propaganda como estratégia de manutenção da instabilidade, gerando a despolitização da pólis.

Dedico-me, neste trabalho, à análise da construção identitária de um professor de língua inglesa recém-formado, enfocando seus primeiros passos na carreira de ensino remoto individualizado. Com base em narrativas autobiográficas como fonte de dados, busco responder, por meio desta dissertação, a três indagações principais: (a) quais foram as aprendizagens necessárias para a atuação no ensino remoto individualizado?; (b) Quais foram os pontos de virada percebidos na minha trajetória profissional? e (c) Como os pontos de virada e as necessidades de aprendizagem, destacados na autobiografia, se realizaram pela linguagem? Para auxiliar a descoberta dos reforços, considero como pilares fundamentais o ensino remoto individualizado (Bleistein; Lewis 2015), o ensino na pandemia (Leurquin, 2020), (Denards, Marcos e Stankoski, 2021), (Lucena, Alves,  Ramos 2022), o conceito de identidade docente, (Barkhuizen, 2017), (Romero, 2020) agência (Allen, 2018), além dos pressupostos teóricos da Linguística Sistêmico-Funcional (Halliday; Mathiessen, 2014),(Fuzer; Cabral, 2014). Destaca-se, por meio da análise, a importância da Transitividade (Halliday, Mathiessen, 2014), bem como os detalhes significativos sobre o processo de reconhecimento como professor, enquanto a Avaliatividade (Martin, White 2005) emerge como uma ferramenta essencial para a mensuração do impacto dos eventos na minha vida e como cada evento foi essencial em minha transformação. Sublinha-se, neste estudo, assim, a relevância da linguagem, especialmente por meio dos elementos de transitividade e avaliatividade, relativos à compreensão da transformação identitária do professor, fortalecendo a compreensão do caráter social da linguagem.

No âmbito das escritas de si, a autoficção se apresenta como um dispositivo ou uma categoria (NASCIMENTO, 2017) [A1] para se pensar nas fronteiras entre vida e ficção. Nesta pesquisa, buscamos realizar uma investigação teórica sobre os principais aspectos que envolvem as mudanças de paradigmas das escritas de si, no âmbito da literatura brasileira contemporânea, mais especificamente em se tratando da produção de João Gilberto Noll e Ricardo Lísias. Pretendemos discutir a mobilidade da fronteira entre os aspectos autobiográfico e os ficcionais desses autores, tendo em vista a compreensão do sujeito pós-moderno como indivíduo desdobrável, indefinível em sua totalidade e em constante devir. Para tanto, procuramos confrontar as principais vozes teóricas que abordam esses debates na atualidade como Evelina Hoisel (2019), Silviano Santiago (2004, 2008),  Leonor Arfuch (2010), Diana Klinger (2006), Paula Sibilia (2016), Evando Nascimento (2017) dentre outros. Os resultados apontam para o fato de que na autoficção há um hibridismo entre a escrita biográfica e a ficcionalização do sujeito. Questões sobre a exposição da intimidade daquele que escreve, a fragmentação e o imediatismo da vida pós-moderna, perpassados pela noção da espetacularização, são tópicos que compõem a discussão sobre a reconfiguração das escritas de si e iluminam a compreensão da escrita autoficcional.

Tendo em vista que a aquisição da escrita, a alfabetização ultrapassam o processo de
ensino e a aprendizagem no contexto escolar, tornando-se uma necessidade dos sujeitos
inseridos em uma sociedade alfabetizada e letrada. A presente dissertação tem como
objetivo investigar e compreender a apropriação da escrita e os desvios ortográficos
cometidos por jovens, adultos e idosos de um Programa de Alfabetização do estado do
Piauí. Realiza-se uma discussão sobre alfabetização, o processo de aquisição de escrita e
o sistema de escrita alfabética, levando em consideração a influência da oralidade na
escrita, nos desvios ortográficos ou variações na escrita. A fundamentação teórica,
respalda-se em autores como Cagliari (2009), Cristófaro-Silva (2010) Ferreiro e
Teberosky (1985), Morais (2008), Lemle (1999), Oliveira (2005), Soares (2021), Zorzi
(1999) entre outros autores. Para proceder o presente estudo, foi utilizado o banco de
dados consolidados de avaliação externa gerado através dos testes de monitoramentos
iniciais do projeto PROAJA-PIAUÍ, composto de 7.720 dados no total, em específico
foram analisados os itens de escrita. Por meio da identificação desses dados, da
quantificação e da categorização dos dados, constatou-se alguns desvios ortográficos
como: o cancelamento de consoantes líquidas, o cancelamento do “r” em final de
palavras. Ademais, conclui-se que os desvios ortográficos não devem ser considerados
como falha, mas sim como parte de um processo de aprendizagem da ortografia, que
demanda tempo e precisa ser sistematizado pelo aprendiz.
 

A aquisição da escrita da língua portuguesa por alunos surdos é um tema muito debatido e
desafiador para os profissionais da área da educação, nao que tange ao processo de
alfabetização. S, que segundo as autoras Quadros e Schmiedt (2006)UADROS e SCHMIEDT .as
metodologias utilizadas não favorecem a aprendizagem dessas crianças por estarem voltadas
para o ambiente dos ouvintes, que com os quais é utilizadam a metodologia oral- auditiva, e não
visual espacial que é a característica predominante da comunicação do sujeito surdo
.(QUADROS; SCHMIEDT, 2006). Também a autora QuadrosQuadros (1997) também afirma que
“o ensino da LP sempre foi baseado no processo de alfabetização de crianças ouvintes, tendo os
resultados considerados um fracasso” (QUADROS, 1997, p 111). Tendo como foco essa
problemática da alfabetização de alunos surdos, Nesse sentido, a presente pesquisa visa
analisar a Proposta Curricular para o Ensino de Português Escrito como Segunda Língua
(BRASIL, 2021) para Estudantes do primeiro ano do Ensino Fundamental. Esse é um material
documento que aborda atrata da metodologia educação bilíngue para a educação dos surdos.
Ele, que foi elaborado por vários profissionais da área da educação de diferentes Estados e
publicado em 2021 pela Diretoria de Políticas de Educação Bilíngue de Surdos (DIPEBS), pela
Secretaria de Modalidades Especiais (Semesp) e pelo Ministério da Educação (MEC), com o
objetivo de propor um currículo para o ensino do português escrito como segunda língua para os
estudantes surdos. Tal material, que também serve de orientação curricular para os professores
que trabalham com esses alunos. Essa pesquisaA pesquisa aqui proposta é de cunho qualitativo,
propondo uma análise sobre a as metodologias utilizadas proposta no referido documento para o
ensino do pPortuguês eEscrito como sSegunda lLíngua, para a alfabetização e a educação de
surdos. O referencial teórico principal adotado percorre por (se baseia, principalmente, em
Quadros (1997),; Goldfeld (2002); Quadros e Schmiedt (2006)
e GOES, (2012). 

A aquisição da escrita da língua portuguesa por alunos surdos é um tema muito debatido e
desafiador para os profissionais da área da educação, nao que tange ao processo de
alfabetização. S, que segundo as autoras Quadros e Schmiedt (2006)UADROS e SCHMIEDT .as
metodologias utilizadas não favorecem a aprendizagem dessas crianças por estarem voltadas
para o ambiente dos ouvintes, que com os quais é utilizadam a metodologia oral- auditiva, e não
visual espacial que é a característica predominante da comunicação do sujeito surdo
.(QUADROS; SCHMIEDT, 2006). Também a autora QuadrosQuadros (1997) também afirma que
“o ensino da LP sempre foi baseado no processo de alfabetização de crianças ouvintes, tendo os
resultados considerados um fracasso” (QUADROS, 1997, p 111). Tendo como foco essa
problemática da alfabetização de alunos surdos, Nesse sentido, a presente pesquisa visa
analisar a Proposta Curricular para o Ensino de Português Escrito como Segunda Língua
(BRASIL, 2021) para Estudantes do primeiro ano do Ensino Fundamental. Esse é um material
documento que aborda atrata da metodologia educação bilíngue para a educação dos surdos.
Ele, que foi elaborado por vários profissionais da área da educação de diferentes Estados e
publicado em 2021 pela Diretoria de Políticas de Educação Bilíngue de Surdos (DIPEBS), pela
Secretaria de Modalidades Especiais (Semesp) e pelo Ministério da Educação (MEC), com o
objetivo de propor um currículo para o ensino do português escrito como segunda língua para os
estudantes surdos. Tal material, que também serve de orientação curricular para os professores
que trabalham com esses alunos. Essa pesquisaA pesquisa aqui proposta é de cunho qualitativo,
propondo uma análise sobre a as metodologias utilizadas proposta no referido documento para o
ensino do pPortuguês eEscrito como sSegunda lLíngua, para a alfabetização e a educação de
surdos. O referencial teórico principal adotado percorre por (se baseia, principalmente, em
Quadros (1997),; Goldfeld (2002); Quadros e Schmiedt (2006)
e GOES, (2012). 

Este trabalho objetiva compreender o funcionamento discursivo da resistência na arte da dança a partir do dispositivo teórico metodológico da Análise do Discurso de filiação materialista. Para isso, tomamei a escola como espaço simbólico e analisei uma apresentação de dança realizada em uma festa junina. O corpus da análise é um vídeo que circulou via plataforma digital: Youtube. Minha análise se deu sobre diferentes materialidades significantes imbricadas. No percurso, aponto que a escola não propõe espaço significativo no cotidiano para um corpo que se movimenta. Em meu trajeto, também discuto como as práticas pedagógicas permanecem centradas em uma herança racionalista/positivista, voltada para um aprendizado centrado em adaptação do sujeito, herança ainda insuficientemente revista. As materialidades analisadas fazem acessar diferentes memórias de sentidos no contraponto a ideais e valores arraigados sobre o objeto corpo na escola. Em contraponto ao corpo da racionalidade, controlado, mostra-se um corpo que é afetado e afeta, manifesta-se um corpo em fruição que produz sentidos que rompem com o entrono. A partir da escuta das discursividades no corpus pude, então, elaborar sobre alguns sentidos de escola em relação a esse certo “descabimento” do corpo que dança. Ao estar fora do lugar da memória do corpo legitimado pelo institucional, os sujeitos que dançam no vídeo trouxeram para a análise a contradição entre o corpo obediente e o corpo em movimento, o que me permitiu compreender que na escola vivenciam um corpo que está para além de um mero instrumento para reprodução das relações hierárquicas. A análise do discurso sobre o vídeo, portanto, deu visibilidade do encontro de dois mundos: o da escola cotidiana e o do equívoco desse cotidiano estranhado por um corpo “descabido”, a partir daí permitindo a reflexão de que a dança é um lugar possível de acontecimento de um corpo que (re)existe simbolicamente na escola.

A linguagem carrega sentidos que são construídos socio-historicamente, refletir como tais sentidos se constituem é buscar contribuir para a compreensão da tessitura do poder hegemônico estabelecido na sociedade, uma vez que a língua(gem) atua na arquitetura da ideologia dominante. O objetivo geral da presente dissertação de mestrado é analisar a constituição do ethos discursivo da Deputada Federal Tábata Amaral, enquanto instância política, na rede social Instagram, em sua articulação com a construção social do sujeito feminino.  Como objetivos específicos pretende-se:  a) investigar o processo de produção dos discursos selecionados a partir dos conceitos de sujeito, semiotização do mundo e contrato de comunicação da Teoria Semiolinguística; b) identificar quais imaginários sociodiscursivos emergem dos discursos proferidos por Tábata Amaral e relacioná-los às construções sócio históricas e ideológicas que envolvem o feminino; c) descrever os modos de organização do discurso, com foco no aspecto enunciativo e d) analisar o Instagram como dispositivo de criação e transmissão do discurso político. Nossa pesquisa assume uma metodologia teórico-metodológica e qualitativa, na qual buscamos na Teoria Semiolinguística do Discurso de Patrick Charaudeau (2001, 2005, 2009, 2010, 2011, 2017, 2018, 2019a, 2019b, 2020) os fundamentos teóricos balizantes do trabalho, bem como apresentamos um percurso histórico acerca do movimento feminista e da luta em busca do direito ao voto, principalmente a partir de Telles (1999), Duarte (2019) Hahner (2003), Silva (2013) e Alves (2019). Para compreender o funcionamento e as particularidades do dispositivo Instagram, tomamos como base teórica os estudos de Recuero, Bastos e Zago (2020) e Castells (2021). Espera-se, desse  modo, contribuir para os estudos de gênero na análise discursiva, com a ampliação de reflexões sobre como o feminino se coloca em uma sociedade patriarcal, cujo imaginário social que circunda a figura do político perpassa pelo gênero masculino. Ademais, buscamos trazer contribuições no âmbito do discurso político, o qual se encontra inserido em um novo dispositivo utilizado como canal de transmissão do ato de comunicação: o Instagram. Nessa investigação, verificamos que a estrutura do contrato de comunicação do discurso político (instância política, cidadã e midiática e suas estratégias) se mantem quando veiculada no Instagram, todavia há uma metamorfose no modo como esse discurso circula, e de como o conteúdo é construído de forma a atender às características da web. Acerca da imagem da enunciadora, constatamos que em períodos não eleitorais há o predomínio de ethé ligados à razão e à credibilidade, o percurso educacional é acionado como estratégia de persuasão da instância cidadã. Durante o período eleitoral de 2022, os discursos figuram ethé associados ao afeto, com imaginários sociodiscursivos ligados à religião, como culpa e redenção, mas também imaginários relativos a uma trajetória heróica, o percurso acadêmico, nesse momento, é mobilizado de forma a emocionar a instância cidadã.

Com o propósito de entendermos os modos de produção, de circulação e de recepção de
textos publicados em contextos virtuais, o presente trabalho se dedica a analisar as estratégias
linguísticas, semióticas e discursivas utilizadas para a organização do gênero notícia com
veiculação na rede social Instagram. A escolha por adotar o contexto de redes sociais como
objeto de estudo e não um suporte impresso ou um site de jornal eletrônico se justifica pelo
propósito de analisar as especificidades constitutivas do gênero notícia quando são veiculadas
em espaços mais interativos, como a rede social supracitada. Para tanto, nos baseamos em
estudos de Bakthin (2020) e Sobral (2009, 2011) para tratarmos dos gêneros discursivos; em
Marcuschi (2003) e Costa (2008) para discutirmos a questão do suporte dos gêneros; em Lara
(2007) e Lage (2011) para falarmos sobre o gênero notícia; em Rodrigues (et al 2000) para
entendermos o jornalismo on-line e em Recuero (2009) e Santaella e Lemos (2014) para
apresentarmos aspectos relacionados às redes sociais de Internet. Em relação ao nosso banco
de dados, buscamos nos perfis do jornal O Tempo e Folha de S. Paulo no Instagram notícias
que contivessem alguns elementos considerados característicos da publicação de notícias
nessa rede social, a qual trataremos aqui como suporte. Realizados os estudos, consideramos
que os fatores que mais nos chamam a atenção e marcam a diferença entre o jornalismo on-
line e o jornalismo tradicional é a interatividade e a instantaneidade com que os fatos são
noticiados. A interatividade é marcada pelo forte diálogo e sinalizações que o ciberleitor pode
dar a respeito de suas impressões sobre aquilo: comentários escritos, emojis, likes,
compartilhamento... tudo isso só é possível encontrarmos no ambiente virtual do Instagram. A
instantaneidade, por sua vez, está na rapidez com que a notícia chega até a redação e passa a
circular entre os usuários: em muitos casos, assim que um acontecimento ocorre, já é possível
ter imagens, vídeos e informações que são organizados e publicados no perfil do Instagram.
As atualizações sobre o caso também são tão velozes quanto sua divulgação.

Atualmente, devido aos avanços tecnológicos a transformação dos processos de
produção, circulação e recepção de textos midiáticos é reflexo de uma sociedade
globalizada. De maneira intensa, a disseminação dos recursos tecnológicos
proporciona um maior contato com os diversos tipos de textos. Nesse sentido, novos
textos surgem e se transmutam, provocando posicionamentos diversos ao passo
que integram as práticas de usos da linguagem nos diferentes contextos sociais.
Partindo do exposto e pautando-se nos pressupostos teóricos da Gramática do Design Visual
(GDV), idealizada e sistematizada por Gunther Kress e Theo Van Leeuwen (2006), a presente
pesquisa parte da seguinte indagação: De que modo são construídas as relações dialógicas entre
interlocutores nas interações suscitadas a partir da leitura de textos multissemióticos? Ou seja,
considerando a metafunção interacional, quais são os recursos semióticos que compõem os textos
multissemióticos e que mobilizam a atenção do leitor? Nessa perspectiva, a presente
pesquisa tem por objetivo analisar como a metafunção interacional se configura
dialogicamente na relação entre interlocutores no processo de leitura de textos
multissemióticos em movimento, de modo restrito, no gênero videoanimação.
Reitera-se que a pesquisa é de suma importância com vistas a contribuir
significativamente para o desenvolvimento de práticas de ensino e aprendizagem que
possam ir além da cultura do impresso, ou seja, somar a essas práticas, a cultura digital, os
multiletramentos e os novos letramentos que permitem uma abordagem, contemporânea, que
contemple as novas práticas sociais da linguagem, considerando sua expansão em relação aos
recursos semióticos cooperando para aproximar e sugerir novas formas de como ler e
interpretar textos em movimentos que contemplem múltiplas semioses e que contribuem no
processo de indiciamento e produção de sentidos em textos multissemióticos. A pesquisa é
baseada por um viés teórico da GDV postulados por KRESS; VAN LEEUWEN (2006);
BRITO; PIMENTA (2009); na Pedagogia dos Multiletramentos (ROJO, 2017); no gênero
Videoanimação (FERREIRA; SANTOS e SILVA (2017) (2021); FERREIRA e VILLARTA-
NEDER (2017, 2019); FERREIRA e ALMEIDA (2018); DIAS e FERREIRA (2021), SILVA
(2021); SOUZA (2021) entre outros. A partir deste estudo, foi possível observar que as
discussões sobre o trabalho com textos multissemióticos ainda são escassos e se fazem
necessários para a formação do professor para agregar às suas práticas de maneira eficaz; a
GDV contribui significativamente para a análise de textos estáticos e em movimento; as
videoanimações contribuem para o processo de leitura critico-reflexiva, de modo a
contemplar diferentes recursos e semioses presentes nas diferentes manifestações da
linguagem; iluminação, enquadramento, cores, saliências podem contribuir como
modalizadores discursivos não verbais na construção de indiciamento de sentido; a
metafunção interacional está intrinsicamente ligada dialogicamente à atuação nas relações
sociais, pois há a interação entre sujeito-produtor, o produto e o sujeito-leitor. Outrossim,
salienta-se que, o trabalho com textos em movimento pode contribuir significativamente para
o desenvolvimento de práticas de ensino que possam ir além da cultura do impresso (ou da
palavra escrita), ou seja, somar a essas práticas a cultura digital, os multiletramentos e os
novos letramentos que permitem uma abordagem que contempla as novas práticas sociais e de
linguagem.

PALAVRAS-CHAVE: GDV. Metafunção Interacional. Multiletramentos.
Videoanimações.

Atualmente, devido aos avanços tecnológicos a transformação dos processos de
produção, circulação e recepção de textos midiáticos é reflexo de uma sociedade
globalizada. De maneira intensa, a disseminação dos recursos tecnológicos
proporciona um maior contato com os diversos tipos de textos. Nesse sentido, novos
textos surgem e se transmutam, provocando posicionamentos diversos ao passo
que integram as práticas de usos da linguagem nos diferentes contextos sociais.
Partindo do exposto e pautando-se nos pressupostos teóricos da Gramática do Design Visual
(GDV), idealizada e sistematizada por Gunther Kress e Theo Van Leeuwen (2006), a presente
pesquisa parte da seguinte indagação: De que modo são construídas as relações dialógicas entre
interlocutores nas interações suscitadas a partir da leitura de textos multissemióticos? Ou seja,
considerando a metafunção interacional, quais são os recursos semióticos que compõem os textos
multissemióticos e que mobilizam a atenção do leitor? Nessa perspectiva, a presente
pesquisa tem por objetivo analisar como a metafunção interacional se configura
dialogicamente na relação entre interlocutores no processo de leitura de textos
multissemióticos em movimento, de modo restrito, no gênero videoanimação.
Reitera-se que a pesquisa é de suma importância com vistas a contribuir
significativamente para o desenvolvimento de práticas de ensino e aprendizagem que
possam ir além da cultura do impresso, ou seja, somar a essas práticas, a cultura digital, os
multiletramentos e os novos letramentos que permitem uma abordagem, contemporânea, que
contemple as novas práticas sociais da linguagem, considerando sua expansão em relação aos
recursos semióticos cooperando para aproximar e sugerir novas formas de como ler e
interpretar textos em movimentos que contemplem múltiplas semioses e que contribuem no
processo de indiciamento e produção de sentidos em textos multissemióticos. A pesquisa é
baseada por um viés teórico da GDV postulados por KRESS; VAN LEEUWEN (2006);
BRITO; PIMENTA (2009); na Pedagogia dos Multiletramentos (ROJO, 2017); no gênero
Videoanimação (FERREIRA; SANTOS e SILVA (2017) (2021); FERREIRA e VILLARTA-
NEDER (2017, 2019); FERREIRA e ALMEIDA (2018); DIAS e FERREIRA (2021), SILVA
(2021); SOUZA (2021) entre outros. A partir deste estudo, foi possível observar que as
discussões sobre o trabalho com textos multissemióticos ainda são escassos e se fazem
necessários para a formação do professor para agregar às suas práticas de maneira eficaz; a
GDV contribui significativamente para a análise de textos estáticos e em movimento; as
videoanimações contribuem para o processo de leitura critico-reflexiva, de modo a
contemplar diferentes recursos e semioses presentes nas diferentes manifestações da
linguagem; iluminação, enquadramento, cores, saliências podem contribuir como
modalizadores discursivos não verbais na construção de indiciamento de sentido; a
metafunção interacional está intrinsicamente ligada dialogicamente à atuação nas relações
sociais, pois há a interação entre sujeito-produtor, o produto e o sujeito-leitor. Outrossim,
salienta-se que, o trabalho com textos em movimento pode contribuir significativamente para
o desenvolvimento de práticas de ensino que possam ir além da cultura do impresso (ou da
palavra escrita), ou seja, somar a essas práticas a cultura digital, os multiletramentos e os
novos letramentos que permitem uma abordagem que contempla as novas práticas sociais e de
linguagem.

PALAVRAS-CHAVE: GDV. Metafunção Interacional. Multiletramentos.
Videoanimações.

O Objetivo principal deste trabalho é discutir a modalização na Língua Portuguesa a partir de uma abordagem bakhtiniana, que leva em consideração o caráter discursivo e dialógico da língua. Será feita uma discussão teórica junto à análise de um corpus exemplificativo, que consiste em dissertações de mestrado do curso de Letras de uma universidade federal. Para isso, serão utilizados os conceitos bakhtinianos de entonação, enunciado e diálogo. O objetivo principal é dividido em cinco objetivos específicos que são 1) Revisitar o conceito de enunciado, entonação e diálogo criados pelo Círculo de Bakhtin; 2)Observar o uso dos modalizadores dentro de um corpus especifico; 3) Identificar como a trajetória argumentativa da modalização se constitui como um diálogo entre sujeitos 4)Observar a relação entre a modalização e conceito bakhtiniano de entonação; 5)Analisar como o sujeito demarca seu lugar no mundo por sua entonação, a partir dos mecanismos de modalização presentes nos enunciados de que participa. A justificativa para tal trabalho é a importância de compreender os processos da língua, em especial a modalização, como processos ideológicos e não somente gramaticais∕ estruturais. Tendo em vista que a modalização acontece em projetos de dizer que surgem na e pela interação entre consciências, que estão situadas ideologicamente, historicamente e culturalmente, vê-se necessário investigá-la para que possamos compreendê-la enquanto modo de expressão de valoração e não somente como um fenômeno apartado da ideologia na linguagem. Como resultados parciais, notou-se que a(s) classificações das categorias de modalizadores não dão conta de definir sua complexidade dentro da interação verbal em acontecimento. Vimos que a modalização acontece dentro de uma trajetória argumentativa daquele que enuncia e que os recursos são mobilizados dentro de um diálogo entre enunciados. Também vimos que a modalização tem um papel importante dentro da expressão da entonação, porém o uso de modalizadores por si só não apreende a entonação por completo.

A obra de Caetano Veloso é reconhecidamente inovadora, sobretudo no contexto do Tropicalismo, período marcado pela busca de um novo dizer mediante a experimentação nas artes. Esta é a tônica que conduz o álbum Araçá Azul, provavelmente a obra mais radical do compositor baiano, tendo em vista os elementos da estética de Vanguarda do início do século XX, tanto os da Europa quanto os do Brasil, notadamente no aspecto sonoro. Nessa perspectiva, a presente pesquisa buscou problematizar em que medida a tessitura poética de Araçá Azul expandiria e/ou superaria a proposta experimental dessas vanguardas.  O objetivo principal tratou de compreender a linguagem de Araçá Azul na perspectiva do experimentalismo, e os específicos: identificar o diálogo entre o Araçá Azul e a estética de Vanguarda do início do século XX, notadamente em relação ao Modernismo de 22 (antropofagia), ao Movimento de Poesia Concreta e ao Tropicalismo, e analisar algumas letras do álbum Araçá Azul. Para tanto, mobilizou o conceito de voz e performance, de Paul Zumthor, de Antropofagia, a partir de Oswald de Andrade, além da Teoria da Vanguarda, de Peter Bürger, e perspectiva sonora, em José Miguel Wisnik. Quanto aos procedimentos metodológicos, o trabalho se dividiu em três capítulos, sendo o primeiro dedicado ao contexto estético e histórico das estéticas de Vanguarda, fundamental para compreender a produção do álbum Araçá Azul, o segundo tratou do aprofundamento conceitual e o terceiro, visou a análise de algumas músicas do álbum. Espera-se, desse modo, contribuir para o diálogo entre os estudos literários e outras artes, levando em conta a riqueza de tal articulação.

A crise global causada pela pandemia do Novo Coronavírus (Covid-19) provocou milhões de mortos no mundo todo e criou uma ruptura no funcionamento da sociedade contemporânea, especialmente ligada ao campo científico, político e midiático. Nesse momento de crise, houve o aumento de Fake News e de bolhas sociais que propiciaram a ausência de interpretação de discursos e levaram uma parte das pessoas a acreditar em tudo que ouve e/ou lê. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo analisar e compreender o discurso dito negacionista por uma autoridade brasileira durante a pandemia em 2020 e como ele se constituiu. Nesse cenário, o papel e a fala do presidente da república nessa crise são de extrema importância para informar a população. Assim, a presente pesquisa foi desenvolvida a partir de um discurso proferido no pronunciamento durante a pandemia de Covid-19, especificamente no início de 2020, pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, transmitido pela televisão aberta e publicado em sites. Nesse sentido, com base na análise desse pronunciamento, enfatiza-se o papel do discurso político do ex-presidente Bolsonaro e da priorização, por exemplo, da economia em detrimento da ciência. O trabalho debruça-se nesse discurso e argumenta que Bolsonaro subestimou a gravidade da pandemia e aproveitou dessa “desinformação” para usá-la como estratégia política. Essas questões destacam como o papel desse líder político “minou” à ciência e trouxe à tona o discurso negacionista, por isso, inclusive, esta pesquisa mostra-se relevante. Ademais, o trabalho apoia-se numa análise teórico-analítica por intermédio das referências e das discussões feitas por autores como Pechêux (2014), Courtine (2014), Maingueneau (2010, 2015) e Eni Orlandi (2005) com o conceito de condições de produção (historicidade) e com o de sujeito; Maingueneau (2006, 2015) com o de lugares de discurso (paratopia) e Jesus (2006) e Fancelli (2021) com o recorte do negacionismo. Como conclusão dessa análise, compreendemos que no interior do pronunciamento de Bolsonaro o discurso negacionista emerge a partir de estratégias negacionistas, que se afastam do discurso científico e nos leva também a compreender melhor a noção de negacionismo e diferenciá-la de um processo mais próximo ao simples ato de negar, o que implica em um discurso muitas vezes sem argumentação.

A intertextualidade e a Multimodalidade são fenômenos linguísticos que estão presentes nos
textos verbais e visuais. A intertextualidade, no âmbito da Linguística Textual, é tida como o
processo de composição do plano textual no qual um texto estabelece diálogos com outro(s), a
partir de intertextos, da estrutura composicional e de referências textuais, servindo de base
para a constituição de novos textos. A Multimodalidade está relacionada ao fato de um
mesmo acontecimento poder ser transmitido por meio de diferentes linguagens e modos
semióticos. A conciliação entre esses dois mecanismos textuais possibilita a existência de um
fenômeno linguístico cujo nome é Intertextualidade Multimodal, que se estabelece a partir da
interdependência, no interior do texto, entre a intertextualidade e a multimodalidade para
construir sentidos. O meme, por sua natureza multimodal, foi o gênero de texto selecionado
para serem elaboradas as análises de como a intertextualidade multimodal evidencia-se nos
textos, elucidando-se sob as bases teóricas da Gramática do Design Visual, doravante, GDV.
Diante disso, a intertextualidade será abordada juntamente à Multimodalidade, tendo em vista
que o meme é um gênero de texto que congrega elementos multimodais e intertextuais para
construir sentidos. Nesse contexto, a presente pesquisa tem por objetivo analisar o processo de
construção da intertextualidade multimodal em memes do Instagram, a partir da GDV. Para
tal propósito, encaminhamos nossa pesquisa à luz de teorias como a Intertextualidade, a
Multimodalidade e a GDV, a partir de autores como Koch, Bentes e Cavalcante (2012), Koch
e Elias (2006, 2008 e 2010), Koch (2015), Kress e van Leeuwen (1995, 1998, 2001, 2006),
Kress (2003, 2010), Novellino (2007) e Santos (2020). Para responder aos objetivos
propostos, adotou-se a abordagem qualitativa com objetivos exploratórios, pois cabe a esta
investigação apresentar proposições e hipóteses sobre o fenômeno da intertextualidade
multimodal, de modo que pesquisas futuras sobre esse fenômeno possam tomar como base as
discussões e análises propostas para apresentar respostas mais conclusivas. O corpus
utilizado nesta pesquisa foi composto memes 27 memes que traziam assuntos relacionados à
literatura brasileira e mundial, dos quais cinco foram selecionados para serem feitos
apontamentos relacionados aos objetivos específicos desta investigação. Diante disso, os
resultados parciais demonstram que a Intertextualidade multimodal está presente no plano
textual enquanto operadora na construção de sentidos, possibilitando a criação de proposições
e hipóteses acerca desse fenômeno linguístico que se materializa nos textos a partir da
intertextualidade e da multimodalidade.

O diálogo entre história e literatura possibilita a compreensão dos eventos que marcam a sociedade e sua cultura e, no âmbito das literaturas de matriz africana, leva a refletir sobre a diáspora, a qual, segundo o sociólogo e teórico cultural, Stuart Hall (2003), remete a questões da miséria e da busca de oportunidades que acabam por desintegrar a identidade devido a perda do contato matricial. Não obstante a perda do contato matricial, ao elevar-se como voz no sentido social, histórico e cultural conforme a perspectiva de Paul Zumhtor, o sujeito a recupera, posto que se torna voz do individual e do coletivo, reconectando-se, desse modo, com sua ancestralidade. É nessa direção que caminha a obra “Um rio chamado Tempo, uma casa chamada Terra”, do escritor moçambicano, Mia Couto, tendo em vista a questão diaspórica presentificada na voz do personagem Marianinho. Partindo de tais considerações, objetivou-se compreender como se configurou a ressignificação identitária do personagem, na medida em que seu deslocamento implicou um retorno às raízes e, portanto, à ancestralidade. Nessa perspectiva, a metodologia de pesquisa, pautada na revisão bibliográfica, mobilizou os conceitos de diáspora, a partir de Stuart Hall (2003), de oralidade e voz, em Paul Zumthor ( 1997,2005) e Laura Padilha (2007);  de experiência e memória, a partir de Walter Benjamin (1987); e de alegoria, também a partir de  Walter Benjamin (1984), os quais foram aplicados em fragmentos da narrativa, considerando as marcas orais no texto escrito.  Esta pesquisa se justificou, na medida em que permitiu-nos refletir sobre as narrativas enquanto expressões culturais da diáspora, pois este estudo possibilitou compreender a hibridização cultural e as questões identitárias, as quais se fizeram notar na obra analisada. Constatamos que os objetivos propostos foram alcançados, pois verificamos que os elementos linguísticos, sobretudo as marcas orais presentes na narrativa, corroboraram a ressignificação identitária de Marianinho, cuja voz se erigiu como ancestralidade. Sobre o problema que norteou a presente pesquisa, acreditamos que o deslocamento de Marianinho corrobora a sua identidade, e nesse sentido, sua ancestralidade, tendo em vista as cartas recebidas pelo avô Dito Mariano que, ao serem lidas durante o retorno à aldeia, o levam a reconstruir sua história, na qual estão entrelaçadas as do povo de Luar do Chão. Assim, confirmamos a hipótese sobre a conscientização de que Marianinho jamais deixara suas raízes e desse modo, o coletivo e o individual, bem como o passado e o presente, os quais foram se delineando e confirmando sua identidade. Diante disso, acreditamos ter contribuído com as pesquisas de estudiosos contemporâneos que se debruçam sobre a temática, de modo a reiterar a importância da voz na perspectiva histórica, social e cultural, levando em conta a experiência, a construção e preservação da memória, e nesse sentido, da identidade.

Esta dissertação tem por finalidade analisar marcas de oralidade presentes na escrita em textos
multimodais e multissemióticos, focalizando o gênero charge, publicado em variados meios
de comunicação. A presença de marcas de oralidade de diferentes tipos, como as que são
relacionadas aos marcadores conversacionais e à variação linguística na fala, apontam para a
interação fala e escrita, que não são polos opostos como na visão dicotômica sobre essas duas
modalidades da língua (MARCUSCHI, 2008). A pesquisa teórica baseou-se em autores como
Marcuschi (2001, 2008), Cafiero (2005), Koch (2006), Rojo (2012), Elias (2017), Castilho
(2002) e Tfouni (2014). Para a análise, foi constituído um corpus formado por charges que
circulam em jornais, revistas e sites da internet. A análise indicou que há presença de marcas
de oralidade que sinalizam marcadores conversacionais e variação linguística, principalmente.
E, que em questão das variações linguísticas alguns fatores, como por exemplo, fatores
históricos, regionais, sociais e entre outros.

Este trabalho busca discutir sobre as relações de memória através de narrativas de oito ex-militantes femininas que passaram por trajetos de tortura, estupro, sequestro e demais atrocidades durante o período de ditadura civil-militar brasileiro (1964-1985). Tais narrativas se encontram presentes na obra cinematográfica “Que Bom Te Ver Viva”, lançada em 1989, sob direção da cineasta Lúcia Murat, no qual evidencia a participação política da mulher no período ditatorial que, devido a isso, era torturada, silenciada e muitas vezes apagada socialmente, visto que sua imagem era associada apenas aos cuidados e submissão ao lar, marido e filhos. Nesse viés, analisando o contexto histórico e as identidades femininas, bem como a relação de mulheres em cena, tanto no cinema quanto fora dele, o objetivo principal se pauta em compreender e discutir a representação do feminino, através dos pressupostos teóricos apresentados e contexto de produção memorialística e historiográfica sobre a ditadura militar, no que concerne às narrativas testemunhais, a identidade social e a relação passado-presente. Ao narrarem suas experiências, essas mulheres tornam comunicável o que se achava ser incomunicável, oferecem indícios de como estava estruturada a máquina da repressão e de como as esquerdas agiam naquele momento. As nove mulheres contribuíram ainda com importantes elementos que nos permitem conhecer as particularidades da memória individual de uma experiência coletiva.  

A Análise do Discurso literário estuda, entre outras coisas, as formações discursivas na Literatura, buscando compreender a constituição do sujeito-autor na prática discursiva pelas influências externas ao qual está exposta, sejam elas ideológicas, políticas, sócio-históricas, culturais etc. No caso da Literatura, em especial a literatura feminina, sabemos que a Arte literária foi importante para dar voz às experiências das mulheres e levá-las a terem um espaço de pertencimento, contudo ainda se sabe pouco como se dá o discurso literário sobre o sujeito feminino-autor e como impacta sobre as mulheres em sua constituição crítica e sobre si para atuar na sociedade. Desse modo, o presente trabalho analisará o discurso literário e o sujeito-autor na poesia sob a poética de Ana Cristina César, poeta brasileira da chamada Geração Mimeógrafo da década de 1970, focando em dois tópicos a serem analisados: sujeito-autor e paratopia, visando compreender como o sujeito-autor feminino se constitui e o espaço em que pertence dentro da poesia. O estudo se embasará nos preceitos teóricos sobre o discurso literário, embasados em autores como Maingueneau (1987; 2005; 2008; 2008; 2010; 2010; 2010; 2010; 2018), Foucault (1969), Mello (2005), Galinari (2005), Almeida (2012), Mazière (2007), além de abordar sobre o feminismo e a figura feminina na perspectiva de autoras como Friedan (2020), Butler (2018), Duarte (2019) e Garcia (2015) e outros autores, que nos leva a entender o sujeito-autor feminino presente na prática discursiva poética. Espera-se, portanto, que possamos compreender o discurso literário e o sujeito-autor feminino no espaço literário em sua completude, de maneira a contribuir para futuros estudos acerca da temática na Análise do Discurso.

Este trabalho tematiza o humor, juntamente com gênero tirinha e busca analisar os diferentes recursos linguísticos, semióticos e discursivos que contribuem para a produção do cômico. Visto que as tiras cômicas é um gênero que carrega em sua gênese a temática humorística, assim como pautado por Nepomuceno (2005), elegemos a seguinte problemática: quais os recursos linguísticos, semióticos e discursivos que contribuem para a produção do humor nas tiras de Adão Iturrusgarai? Diante deste questionamento, estabelecemos como objetivo de pesquisa analisar os recursos verbais e imagéticos empregados nas tiras de Adão Iturrusgarai que contribuem para a produção do efeito de humor, bem como relacionar esse sentido cômico aos estudos sociais acerca de como o campo humorístico é visto e estudado. Diante desses aspectos,  como ponto de partida para a discussão dessa questão, apresentamos algumas teorias que abordam o humor dentro de aspectos filosóficos, sociológicos e psíquicos a partir dos estudos de autores como   Freud (1905), Eagleton (2020), Bergson (1983), Magalhães (2008)  com vistas a compreender o funcionamento social do humor. Posteriormente, realizamos uma discussão sobre configurações acerca da tirinha, um gênero multimodal que prioriza o hibridismo sígnico entre verbal e imagético. Para isso, partimos de aspectos teóricos de autores como Ramos (2007; 2013; 2009), Possenti (2019; 1998; 2003), Nepomuceno (2005), Cagnin (1975), Koch e Elias (2003), Vieira e Silvestre (2015), Nascimento, Bezerra e Heberle (2011), Vieira e Ferreira (2017), com o objetivo de apresentar um panorama sobre as características do gênero tirinha, tendo em vista questões verbais e visuais. A metodologia privilegiou uma abordagem analítico-descritiva de pesquisa, haja vista que analisamos 5 tirinhas de autoria do cartunista Adão Iturrusgarai que foram publicadas do jornal online “Folha de São Paulo”. A escolha privilegiando as tiras de Adão, se dá por termos apreço por suas publicações e por conseguirmos autorização do artista para a utilização de suas tiras para a construção do corpus. A partir das análises e descrição das tirinhas, conseguimos observar alguns aspectos: I) As tirinhas fazem parte hipergênero dos quadrinhos, assim como as charges e os cartuns; II) Apesar de fazerem parte de um hipergênero, as tirinhas são textos que passaram por diversas mudanças até o formato e nomenclatura que têm hoje e possuem especificidades que as caracterizam como únicas; III) Por ser um texto curto, cada recurso, seja ele verbal ou imagético, é dotado de grandes potencialidades significativas; os recursos visuais, como cores, expressões faciais, sinais gráficos e outros artifícios; IV) Nas análises feitas, notamos que os recursos linguísticos de ordem fonológica, textual, discursiva, denotativa e conotativa contribuem para que percebamos o humor nas tirinhas; V) E, por fim, conseguimos perceber que teoria da incongruência, principalmente no que tange os estudos de Veatch (1998), consegue responder o porquê do sentindo do humor em relação as 5 tirinhas analisadas. Portanto, além de verificarmos as potencialidades dos recursos semióticos verbais e imagéticos, percebemos que os aspectos da seara humorística também contribuem para a construção do gênero tirinha.

A presente pesquisa pretende desenvolver uma análise de parte dos
contos do escritor Machado de Assis, grande crítico da sociedade de seu tempo,
com o objetivo de discutir problemas estruturais de nossa sociedade como as
sequelas contemporâneas da escravidão oitocentista. Segundo Gotlib (p.42, 2004),
“o modo pelo qual o contista Machado representa a realidade traz consigo a
sutileza em relação ao não-dito, que abre para as ambiguidades, em que vários
sentidos dialogam entre si”. Assim, a pesquisa mostra que precisamos fazer uma
leitura atenta às entrelinhas para percebermos os posicionamentos políticos do
autor que, muitas vezes, foi acusado de não se posicionar em relação ao problema
da escravidão. A seleção do corpus foi realizada em relação ao problema que se
investiga, ou seja, foram selecionados contos que melhor representam a
consolidação da burguesia em nosso país e o modo como essa sociedade lidava com
o problema da escravidão. Para a análise do corpus, considerou-se principalmente
os estudos de Chalhoub (2003), Duarte (2009/2013/2020), Faoro (2001), Muricy
(1988) e Bosi (1982).

Este trabalho investiga o processo de interincompreensão polêmica na produção do discurso político, e a forma com que, a partir dele, pode-se desenvolver um discurso violento. A pesquisa insere-se na Análise do Discurso, tendo como base principal os estudos de Maingueneau (2008; 2010; 2015), e é realizada no âmbito dos estudos e das pesquisas desenvolvidas no Grupo de Pesquisa Leitura e Produção de Discursos (GPLPD-UFLA). A questão política sempre esteve presente na sociedade, uma vez que ela faz parte da constituição do ser humano (político), e o leva a modular o uso que faz da língua, com o intuito de persuadir o outro, em benefício próprio ou do grupo de que faz parte. Assim, a constituição desse discurso apresenta diversas faces e lados, sendo eles, por vezes, opostos. Dessa forma, tem-se notado que o discurso político é atravessado pelo discurso da violência, uma vez que este último tem contribuído bastante para ressaltar a interincompreensão, que já era existente entre os sujeitos. Para a realização deste estudo, baseamo-nos nas afirmações apresentadas por Maingueneau (2008), segundo as quais existe, no interior desses discursos, a presença de semas que possibilitam a compreensão da interincompreensão polêmica. Embasamo-nos, também, na análise que investiga de que modo esse fenômeno resulta no discurso da violência, realizada por Michaud (1989) e Odália (2012). Ainda, leva-se em consideração os estudos das Condições Sócio-Históricas de Produção dos Discursos, a partir dos trabalhos de Courtine (2014) e Orlandi (2015) e das investigações sobre a polêmica feitas por Amossy (2017) e os estudos sobre o discurso político e a mídia desenvolvidos por Charaudeau (2007; 2011). O corpus constituído se insere no campo discursivo político e é constituído de postagens da rede social Twitter e de uma notícia elaborada pelo jornal Folha de S.Paulo. Reconhecemos que a forma com que os discursos são constituídos podem resultar em atos e estados de violência, pois isso faz parte do processo de interincompreensão polêmica.

O conto Demônios de Aluísio Azevedo destoa da maior parte de sua obra por envolver elementos que não são caros à estética naturalista da qual o autor era adepto. Observa-se que a literatura do fim do século XIX sofreu forte influência de aspectos românticos, em especial, de sua faceta sombria: o gótico (MELLO, 2018; SENA, 2017a). Sendo a estética gótica utilizada, aqui, em um contexto no qual era rejeitada, a definimos como uma estética transgressora e, portanto, grotesca ao levarmos em consideração a definição desse último termo por autores como Kayser, Hugo, Harpham, e Sodré & Paiva. O conceito de gótico foi trabalhado a partir de Botting, Kilgour e Punter, assim como tratamos de elementos naturalistas a partir da perspectiva de Baguley. A partir disso, buscamos descobrir como Aluísio Azevedo trabalhou com essa estética híbrida que utiliza de elementos naturalistas e góticos grotescos no conto supracitado. Estabelecemos como objetivo principal compreender a configuração da estética híbrida utilizada em Demônios, e como objetivos específicos, identificar elementos convergentes entre o gótico, o grotesco e o naturalismo, e analisar fragmentos da obra na perspectiva da estética híbrida. Levamos também em consideração que a versão original da obra foi publicada em 1891, às vésperas da primeira eleição presidencial da então nova república brasileira. Assim, partimos do pressuposto que tal estética foi utilizada a fins de metaforizar um desconforto social presente no contexto de produção do conto. Ainda que utilizemos da versão de 1893 do conto, a proposta inicial não se altera ao considerarmos que apenas um breve trecho foi suprimido em relação à primeira versão. Entre os resultados, foi possível confirmar a utilização de uma estética híbrida em Demônios, sendo que o autor mescla elementos naturalistas e góticos grotescos para criar um sentimento negativo e desconfortante. Elementos da trama também sugerem uma antecipação de eventuais mudanças no país que poderiam ser positiv(ist)as ou negativas, sendo que Aluísio trabalha com essa dupla possibilidades, inclusive, ao final do conto.

Esta pesquisa tem como objeto de estudo a novela “A hora e a vez de Augusto Matraga”, presente no livro “Sagarana”, de João Guimarães Rosa, na qual foi adotada, como foco principal, a saga do personagem Augusto Matraga. Nesse contexto, buscou-se responder ao seguinte problema de investigação: como se configura o rito de passagem do personagem Matraga? Fundamentado nos conceitos de cronotopo, acontecimento e mito, assume-se como objetivo geral nesta pesquisa: a partir de tais conceitos, uma análise interpretativa da constituição do rito de passagem do personagem Augusto Matraga. E, como objetivos específicos, buscou-se investigar as nuances da filosofia kantiana na elaboração do conceito bakhtiniano e identificar os elementos constitutivos do embate na novela roseana. Quanto à metodologia, trata-se de estudo qualitativo com procedimento de revisão bibliográfica e ancora-se no referencial teórico de Mikhail Bakhtin e Immanuel Kant para uma delimitação conceitual das ideias de cronotopo e de acontecimento na perspectiva bakhtiniana, além de outros que dialoguem com a temática apresentada. Com esta pesquisa, foi possível alcançar a conclusão segundo a qual a trajetória do personagem se define na relação com os espaços que percorre e com o tempo no qual vai se delineando uma travessia, através da sequência dos acontecimentos que leva ao embate do personagem consigo mesmo.

Dentre as numerosas obras da escritora contemporânea Ana Miranda, Xica da Silva: A cinderela negra (2016) representa fortemente o que acreditamos ser o projeto literário da autora, visto que suas narrativas, de formas diversas, propiciam novos olhares sobre personalidades ou anônimos da história do Brasil. A obra retrata de forma diferenciada a vida da ex-escravizada que se tornou companheira do contratador das minas de diamantes e aquela que participou ativamente da sociedade do Distrito Diamantino, nas Minas Gerais, no período colonial brasileiro do século XVIII. A protagonista, conhecida inicialmente por meio de narrativas orais, transfigurou-se de várias formas até tornar-se objeto de estudo mais detalhado para a historiografia. Portanto, com base na proposta de Linda Hutcheon, que denomina produções contemporâneas voltadas para temas históricos como "metaficção historiográfica" (HUTCHEON, 1991), e compreendendo a obra de Ana Miranda diante de uma perspectiva contemporânea, a partir de Agamben (2009) e Schollhammer (2009), esse trabalho objetiva desenvolver uma leitura analítico-interpretativa da obra de Ana Miranda visando situá-la no contexto pós-modernista proposto por Hutcheon, a partir da perspectiva historiográfica e do cruzamento dos discursos histórico e ficcional, compreender a hibridez de gêneros, tendo em vista a classificação da obra como “biografia” e a sua efetiva realização em diálogo com a ficção e, ainda, como a presença do “ex-cêntrico” e do conceito de adaptação corroboraram para a ressignificação da história de Xica da Silva.

Esta pesquisa tem por finalidade estudar a aquisição da fala de uma criança com síndrome de Down em um estudo longitudinal, buscando-se investigar suas produções orais. Objetiva-se também descrever a aquisição de sua fala, observando características individuais do desenvolvimento linguístico, levando em consideração essa própria forma de aquisição (SLOBIN, 2015). O enfoque da pesquisa é o estudo da aquisição das consoantes líquidas (/l, R, ʎ e ɾ/) na posição de onset simples e nos encontros consonantais tautossilábicos do português brasileiro. Segundo Lamprecht (2004), as consoantes líquidas são os últimos sons a serem adquiridos e, devido à sua complexidade, a criança busca utilizar estratégias de reparo com o intuito de atingir a língua-alvo, ou seja, a do adulto. Sabendo da complexidade de sua aquisição por crianças de fala típica, foi observado por meio desse estudo de caso longitudinal, a aquisição dessa classe de sons por uma criança de fala atípica (SD). Esse estudo tem por fundamentação teória a Teoria de Exemplares e os Sistemas Adaptativos Complexos (SAC’s). A Teoria de Exemplares é um modelo baseado no uso e multirrepresentacional que defende que o falante estoca em sua mente múltiplos exemplares para o mesmo item linguístico, sendo a palavra o objeto de análise (PIERREHUMBERT, 2001). Os SAC’s defendem que a linguagem é um sistema adaptativo complexo, variável e não linear. Esse modelo dinâmico trata do desenvolvimento infantil de forma geral, porém, pode ser acomodado ao desenvolvimento linguístico infantil. Apontam também para a relevância do estudo longitudinal que permite observar e refletir sobre os avanços e regressões durante o período aquisicional (MILTON; PAIVA, 2011; OLIVEIRA, 2016). É na retroalimentação positiva que esse percurso apresenta momentos de descontinuidades, modificando o estado inicial gerando um desequilíbrio que será recuperado ao longo do percurso, alcançando a estabilização através da retroalimentação negativa em busca da auto-organização (MILTON; PAIVA, 2011; OLIVEIRA, 2016). O modelo de exemplares e o modelo dinâmico possuem pontos em comum como a importância do papel da frequência na organização da língua e a gramática emerge do uso e a não-linearidade, e que a experiência além de afetar a produção, afeta a percepção e o armazenamento dos itens fonológicos. Ao longo da pesquisa, foram realizadas gravações periódicas com a criança e anotações de sua fala, com o envolvimento de membros da família em situações do dia a dia, de forma espontânea, com o intuito de não interferir nas atividades da criança. Observou-se nos dados da informante que a aquisição fonológica se dá de forma complexa e variável e que cada indivíduo utiliza diferentes estratégias para alcançar a mesma estrutura lexical, conforme postula a Teoria de Exemplares. Verificou-se também, a importância do estudo longitudinal para se compreender a variabilidade e a dinamicidade da aquisição fonológica, sendo possível fazer reflexões e levantar hipóteses a partir dos momentos de avanços e regressões, continuidades e descontinuidades presentes nesse percurso na busca do alvo adulto (auto-organização).

O presente estudo tem como tema pensar a linguagem nas mensagens trocadas via aplicativos de comunicação instantânea. Seu objetivo geral consiste em analisar pesquisas acadêmicas buscando verificar se elas apontam como os aplicativos de mensagens instantâneas – ICQ, MESSENGER, TWITTER, WHATSAPP, INSTAGRAN - influenciam a estrutura da linguagem na escrita da língua portuguesa. Tem como base teórica os estudos de Barton e Lee (2015) sobre linguagem online e Laurence Bardin (2011) com a Teoria de Análise do Conteúdo como escopo metodológico. A pesquisa em questão se constitui por meio de um levantamento bibliográfico de estudos acadêmicos que investigaram a linguagem mediada pelas tecnologias digitais. Portanto, se configura em uma pesquisa qualitativa de características bibliográfica e exploratória, pois tem seu foco na análise de dados de estudos acadêmicos que discutem a linguagem online.

O ser humano relaciona-se com seus semelhantes por meio da língua(gem) que é considerada o pilar de toda sociedade. Dessa forma, estudos como o do Círculo de Bakhtin consideram o diálogo como um processo de interação mútua, ou seja, a constituição do sujeito acontece a partir do encontro com o outro na/pela linguagem, no qual os sujeitos constituem-se mutuamente e, a partir disso compreendem o mundo, atribuindo sentidos a tudo que está a sua volta. Nesse sentido, o Círculo de Bakhtin, a partir de suas reflexões, deixaram uma vasta obra rica em contribuições acerca da Filosofia da Linguagem e muitas dessas contribuições estão relacionadas à constituição dos sujeitos e à singularidade desses dentro de um acontecimento, ou seja, um processo dialógico que se fundamenta no eu-outro. Isso posto, o objetivo principal desta pesquisa é verificar o processo de formação e constituição do sujeito espectador do espaço de cineclube a partir dos debates presentes nesse ambiente. Para tanto, este estudo de caráter qualitativo, teve como embasamento teórico-metodológico os pressupostos dos estudos do Círculo de Bakhtin a partir de conceitos como sujeito, enunciado, acontecimento, arquitetônica e excedente de visão, bem como os estudos de pesquisadores que se debruçam sobre a questão da imagem e do audiovisual. Para alcançarmos nossos objetivos a metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa realizadas a partir da entrevista com grupo focal, no qual, a partir da transcrição das falas dos sujeitos participantes analisamos esse corpus mediante as relações arquitetônicas e os processos de constituição dos sujeitos e do acontecimento do espaço de cineclube, sob o ponto de vista discursivo do Círculo. Dessa forma, as teorias bakhtinianas nos possibilitaram realizar uma abordagem a partir da sistematização dialógica da linguagem e da constituição dos sujeitos em uma inter-relação constitutiva mútua, com isso, foi possível observar a constituição dos sujeitos a partir das discussões presentes no espaço do cineclube e como as interações entre os participantes possibilitaram a sua formação a partir da representação do eu-outro. Portanto, esta pesquisa apresenta grande relevância ao possibilitar que os debates sobre as temáticas abordadas nas sessões do cineclube permitam aos sujeitos discutir e conhecer opiniões diferentes das suas, assim como promove uma formação mais crítica e consciente sobre diferentes temáticas presentes na situação social na qual os participantes estão inseridos. Esperamos, portanto, que essa pesquisa possa vir a contribuir para os estudos referentes aos espaços de cineclube e do sujeito participante desse acontecimento, a partir dos referenciais teóricos bakhtinianos.

A Análise do Discurso possibilita reflexões sobre os sentidos, os sujeitos e a sociedade, considerando a inscrição histórica deles. O interesse desta pesquisa está nas relações raciais, principalmente no lugar ocupado pela branquitude, como forma de questionar a ação dos sujeitos brancos nas desigualdades raciais. Para analisar essa questão, buscou-se constituir um corpus de análise a partir da interação dos sujeitos em redes sociais virtuais. As redes sociais tomaram grande proporção nas últimas décadas e recorrentemente pautas sociais viram discussões entre os sujeitos nesse espaço. Desse modo, esta pesquisa reúne o estudo do discurso em um espaço virtual buscando problematizar o lugar do sujeito branco nas relações raciais, ou seja, o discurso da branquitude nas redes sociais. No aporte teórico foram utilizados os estudos da Análise do Discurso de Maingueneau (2007; 2008; 2015; 2016), bem como os estudos de importantes pesquisadores das Ciências Sociais, como Bento (2002; 2014) e Cardoso (2008; 2010; 2014; 2017). A principal pergunta para o desenvolvimento deste trabalho é de que modo o discurso da branquitude faz perpetuar, tanto simbólica quanto materialmente, o racismo, o privilégio dos brancos e todas as desigualdades em torno das relações raciais. Como objetivo central procuramos verificar, no Instagram, como se constituiu o discurso da branquitude, a partir das noções de ethos discursivo e de cenografia. Além disso, como objetivos específicos, procurou-se definir as características do discurso da branquitude; como os sujeitos pertencentes ao grupo social branco podem ser identificados, utilizando os conceitos de branquitude crítica e branquitude acrítica; a forma como o discurso da branquitude atravessa o discurso das redes sociais; e a relação interdiscursiva que sustenta os ideais da manutenção do lugar social dos brancos. Por meio de análise teórico-metodológica e qualitativa, a constituição do corpus se deu a partir de uma postagem no Instagram feita por uma atriz que relata sobre o relacionamento interracial que teve com um ator; além disso, complementando a constituição do corpus, foram selecionados alguns comentários publicados por sujeitos (coenunciadores) que interagiram nessa publicação. Os resultados da análise mostraram estratégias discursivas da branquitude para modalizarem as ações racistas propagando o discurso da branquitude que se assegura na estrutura social racista.

A Rainha Ginga Mbandi Kakombe é uma das mais célebres personalidades de Angola. No século XVII, Ginga protagonizou um governo marcado pela imposição ao domínio dos portugueses e, ao mesmo tempo, de negociações com os citados europeus. Ela foi uma figura importante, pois os seus deslocamentos geográficos e a luta pela manutenção de seus reinos – Ndongo e Matamba – foram elementos fundamentais para a construção territorial de Angola. Por ter sido uma personagem de importância no contexto sociopolítico angolano seiscentista, foi imortalizada como um mito nacional. Ginga Mbandi pode ser compreendida como uma mulher, no mínimo, contraditória. A história e a literatura procuraram recriar a sua figura através de diferentes perspectivas ao longo dos tempos, demonstrando o quão enigmática ela foi. O corpus desta investigação conta com as obras Nzinga Mbandi (1975), de Manuel Pedro Pacavira, e A Rainha Ginga: e de como os africanos inventaram o mundo (2015), de José Eduardo Agualusa. A justificativa desta pesquisa é a necessidade de se conhecer e analisar a mulher-mito que Ginga Mbandi Kakombe é hoje considerada. Objetiva-se, com este trabalho, apresentar a ngola através de diferentes perspectivas – literárias e históricas – e corroborar com a manutenção de sua memória como importante personagem para a consolidação sociopolítica, cultural e identitária de Angola.

Esta dissertação tem como objetivo investigar, com vistas a compreender parte do processo de aquisição da escrita, o seguinte fenômeno: a representação gráfica do fonema /s/ por alunos do 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental- EF.  Realiza-se aqui uma discussão sobre a alfabetização, o processo de aquisição da escrita infantil e o sistema de escrita alfabético, considerando a interferência das práticas do uso linguístico oral na escrita, nas variações ou desvios ortográficos (FERREIRO E TEBEROSKY, 1985; ALVARENGA et al., 1989; ABAURRE, 1999; CAGLIARI, 2009; LEMLE, 1994; OLIVEIRA, 2005; MIRANDA; CAGLIARI, 2009; MORAIS, 2012; SOARES, 2016).  Este estudo tem como suporte teórico o Modelo Baseado no Uso, segundo o qual a experiência de uso da língua é fundamental para a organização da informação linguística na mente humana (BYBEE, 2001; FERRARI, 2011). Nessa teoria, a questão da frequência é central, pois quanto mais frequente é um item lexical ou um padrão linguístico, mais forte será a sua representação mental, bem como mais fácil será o acesso. Para proceder ao presente estudo, realizou-se uma coleta de dados de produção escrita por alunos do 3^o, 4^o e 5^o anos do EF, em fase de consolidação da alfabetização, de uma escola pública, do Município de Bom Sucesso (MG). Os procedimentos metodológicos basearam-se em Rocha et al. (2010). Os resultados deste trabalho indicam que o conhecimento linguístico é baseado no uso, na experiência e que, além disso, o fator frequência de ocorrência é relevante para o aprendizado da criança que se encontra no processo de aquisição ortográfica quanto ao fenômeno linguístico investigado neste estudo.

A língua é a marca identitária e cultural importante para seus falantes, registra a história de um povo. O guineense é uma língua que ilustra bem esse aspecto, uma língua proveniente do contato entre português e algumas línguas étnicas da costa oeste africana e desempenha o papel da língua de unidade nacional entre os vários grupos étnicos que compõem a população da Guiné-Bissau. A presente dissertação tem por objetivo descrever os aspectos fonético-fonológicos e morfossintáticos do guineense comparando-os com os do português e de quatro línguas étnicas africanas: pepel, balanta, mandinga e mandjaco. Para realizar este objetivo, o estudo se pautou em gramáticas históricas acerca das mudanças sofridas pelas palavras ao longo do tempo. A partir de uma revisão da literatura dos escassos estudos que descrevem o guineense, apresentam-se aspectos sumários que podem contribuir para a descrição dessa língua e refletir sobre a necessidade de estudos para aprofundar a temática. Para validar alguns dados fonéticos, elaborou-se um instrumento de coleta de dados com base no Questionário Fonético-Fonológico do Projeto ALiB (COMITE NACIONAL DO PROJETO ALiB, 2001). As entrevistas foram feitas com oito informantes falantes do guineense, sendo quatro de ensino superior e quatro com ensino médio concluído. A entrevista foi feita à distância e de duas maneiras: para os informantes com ensino médio completo, foram aplicados os questionários fonético-fonológicos por meio da chamada de vídeo pelo aplicativo WhatsApp, com devidos cuidados a fim de obtenção dos dados o mais fidedignos possíveis; para os do ensino superior, foram elaborados os questionários dos aspectos morfossintáticos e enviados para responderem pelo e-mail. Os resultados apontaram, no concernente aos aspectos fonético-fonológicos e morfossintáticos, para o fato de que o guineense é resultante do processo de transmissão linguística irregular (LUCCHESI; BAXTER, 2009) e, por ser produto de línguas diferentes, está no meio entre essas línguas, ou seja, no que diz respeito à estrutura gramatical, recebe a influência de igual modo do português e línguas da Guiné-Bissau (COUTO, 1996). Igualmente, verificou-se que o guineense moderno difere do antigo, apontando para a obsolência deste em prol daquele. Com efeito, conclui-se, por meio de todas as discussões nesta dissertação, que a base do guineense é o português e que o uso do termo “crioulo” para designar a língua é inadequado por seu caráter estigmatizante.A língua é a marca identitária e cultural importante para seus falantes, registra a história de um povo. O guineense é uma língua que ilustra bem esse aspecto, uma língua proveniente do contato entre português e algumas línguas étnicas da costa oeste africana e desempenha o papel da língua de unidade nacional entre os vários grupos étnicos que compõem a população da Guiné-Bissau. A presente dissertação tem por objetivo descrever os aspectos fonético-fonológicos e morfossintáticos do guineense comparando-os com os do português e de quatro línguas étnicas africanas: pepel, balanta, mandinga e mandjaco. Para realizar este objetivo, o estudo se pautou em gramáticas históricas acerca das mudanças sofridas pelas palavras ao longo do tempo. A partir de uma revisão da literatura dos escassos estudos que descrevem o guineense, apresentam-se aspectos sumários que podem contribuir para a descrição dessa língua e refletir sobre a necessidade de estudos para aprofundar a temática. Para validar alguns dados fonéticos, elaborou-se um instrumento de coleta de dados com base no Questionário Fonético-Fonológico do Projeto ALiB (COMITE NACIONAL DO PROJETO ALiB, 2001). As entrevistas foram feitas com oito informantes falantes do guineense, sendo quatro de ensino superior e quatro com ensino médio concluído. A entrevista foi feita à distância e de duas maneiras: para os informantes com ensino médio completo, foram aplicados os questionários fonético-fonológicos por meio da chamada de vídeo pelo aplicativo WhatsApp, com devidos cuidados a fim de obtenção dos dados o mais fidedignos possíveis; para os do ensino superior, foram elaborados os questionários dos aspectos morfossintáticos e enviados para responderem pelo e-mail. Os resultados apontaram, no concernente aos aspectos fonético-fonológicos e morfossintáticos, para o fato de que o guineense é resultante do processo de transmissão linguística irregular (LUCCHESI; BAXTER, 2009) e, por ser produto de línguas diferentes, está no meio entre essas línguas, ou seja, no que diz respeito à estrutura gramatical, recebe a influência de igual modo do português e línguas da Guiné-Bissau (COUTO, 1996). Igualmente, verificou-se que o guineense moderno difere do antigo, apontando para a obsolência deste em prol daquele. Com efeito, conclui-se, por meio de todas as discussões nesta dissertação, que a base do guineense é o português e que o uso do termo “crioulo” para designar a língua é inadequado por seu caráter estigmatizante.

O presente trabalho investiga sobre as condições de produção dos discursos das feminilidades e os efeitos de sentidos produzidos a partir deles. A pesquisa insere-se nos estudos da Análise do Discurso (AD), e no âmbito do Grupo de Pesquisa de Leitura e Produção do Discurso (GPLPD-UFLA). A partir dos estudos feministas e de gênero, as feminilidades se tornaram um tema de relevância social e acadêmica. Visto o caráter multidisciplinar da Análise do Discurso, busca-se articular os saberes de outras áreas para que funcionem a serviço da AD. Assim, o corpus da pesquisa é constituído por postagens de fan pages do Instagram que tem como temática a feminilidade. O corpus foi separado em três tipos a partir dos seus posicionamentos em relação às condições de produção, sendo eles, a feminilidade enfatizada, a feminilidade idealizada e a feminilidade resistente. As cenas de enunciação, em especial a cenografia e as condições de produção sócio-históricas foram as categorias de análise usadas para compreender os discursos das feminilidades. Além disso, também abordamos a questão do sujeito discursivo e como ele é constituído e encenado, a partir dos estudos de Orlandi (2015), Maingueneau (2015), e Goffman (1995). As cenas de enunciação, categoria desenvolvida por Maingueneau (2015), possibilitam pensar na dimensão da enunciação e dos papéis que os coenunciadores assumem no discurso. A cenografia ainda compreende a encenação do dizer e as cenas mobilizadas para validar o discurso. As condições de produção, trabalhadas a partir de Courtine (2014) e Orlandi (2015), assumem centralidade no trabalho, pois elas são pensadas a partir do seu potencial de encapsulamento dos sujeitos e dos sentidos. Dessa forma, foi feita uma recuperação histórica das condições de produção das feminilidades, a partir, principalmente, dos trabalhos de Priore (2005) e Wolf (2019). Os resultados da pesquisa apontam para a complexidade do sujeito da feminilidade, revelando múltiplas identidades possíveis na contemporaneidade. Além disso, percebe-se a disputa de sentidos das feminilidades, que se colocam no limite entre a memória e a reformulação do discurso e das identidades, destacando a relação interdiscursiva que se estabelece nesses discursos.

Recorrentemente, as imagens têm assumido posição de destaque na ciência linguística, visto que congregam diferentes recursos multissemióticos que integram a textualização das produções textuais e que são decisivos para o processo de produção de sentidos. Nesse seguimento, diante da nova configuração textual, a intensificação de circulação dos textos multissemióticos na sociedade da informação exige do sujeito letrado novas habilidades interpretativas básicas para atender as necessidades da vida diária, como as que são exigidas pelos locais de trabalho e do mundo contemporâneo. Diante do exposto, a Gramática do Design Visual, (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006 [1996]) revela-se como uma proposta teórica que possibilita a análise de recursos semióticos na textualização de textos multissemióticos. Com vistas a problematizar os processos de leitura de textos multissemióticos, este trabalho elege como objeto de estudo o processo de textualização do gênero multissemiótico videoanimação.  Nessa direção, a questão que norteia essa pesquisa é: De que modo as metafunções propostas pela Gramática do Design Visual podem contribuir para a compreensão do processo de produção dos sentidos na leitura de videoanimações? Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo apresentar por meio da análise da videoanimação Snack attack as contribuições das diferentes linguagens para a produção de sentido, a partir das metafunções representacional, interacional e composicional da Gramática do Design Visual, proposta por Kress e van Leeuwen (2006 [1996]). Para a realização da pesquisa proposta empreendeu-se um estudo teórico acerca de teorias que abarcam o gênero textual/ discursivo videoanimação (Ferreira, Cardoso, Furtado, 2019; Ferreira, Villarta-Neder, 2017,2018); a Semiótica Social (Moran, 1995; Lima, 2015; Silveira, 2019); e a Gramática do Design Visual (Kress e van Leeuwen (2006 [1996]); Novellino, 2007; Silva, 2017; Brito e Pimenta, 2009) entre outros autores. Além da pesquisa teórica, o presente trabalho apresenta um corpus de análise da videoanimação Snack attack em busca de uma reflexão sobre os processos de sentido. Espera-se que as discussões decorrentes deste trabalho possam favorecer avanços para novas pesquisas sobre os textos multissemióticos em movimento.

Expressão da singularidade dos sujeitos, o tom é um aspecto que permeia toda enunciação, em maior ou em menor grau. Na dinâmica discursiva, o tom está intimamente ligado às representações que um enunciador tem acerca do seu auditório social, o que pressupõe a atribuição de um dado peso sócio-hierárquico ao(s) seu(s) interlocutor(es). Com base nessas representações do outro e, ainda, da situação enunciativa, do contexto sócio-histórico e do partilhamento de saberes (conhecidos ou pressupostos) entre os sujeitos envolvidos, o enunciador assume esse ou aquele tom emotivo-volitivo nos enunciados que profere, o que, na linguagem verbal, revela seus traços em escolhas lexicais, sintáticas e/ou de entonação da voz. Contudo, o Círculo de Bakhtin tem uma concepção mais ampla de enunciado, compreendendo como tal qualquer conjunto coerente de signos partilhados e passíveis de compreensão por uma coletividade. Assim assimiladas, as considerações do Círculo quanto aos enunciados contemplam o fato de que eles também se manifestam tendo como suporte signos de natureza diversa da do signo linguístico, razão pela qual assumimos a premissa de que, uma vez inerentes a qualquer enunciado, os tons atravessam não só a linguagem verbal, mas qualquer materialidade sígnica por meio da qual os enunciados venham a se concretizar. Em acréscimo a essas ideias, Paula e Serni (2017), ao investigarem as potencialidades extraverbais do enunciados, trazem ao estudo dos mesmos o conceito de verbivocovisualidade, com o qual dão conta das suas dimensões sonora e visual e do qual lançaremos mão nesse trabalho.  Levando em conta essa visão expandida das enunciações, esta pesquisa pretende demonstrar como tons emotivo-volitivos determinam a escolha e o arranjo das diferentes semioses que compõem de forma integrada filmes publicitários dedicados à preservação ambiental. Pensando ainda na influência que fatores socioideológicos exercem sobre os processos enunciativos e, consequentemente, sobre os tons que assumem, selecionamos três filmes publicitários oriundos de diferentes esferas sociais e com projetos de sentido divergentes, no intuito de evidenciar com mais clareza o impacto desses fatores sobre os seus respectivos e distintos tons emotivo-volitivos. Para tanto, selecionamos um filme institucional do Ministério do Meio Ambiente, outro promovido pelo conglomerado Unilever e um terceiro de iniciativa da organização não governamental SOS Mata Atlântica. Pretendemos comeste enfoque no tom pelo viés da verbivocovisualidade contribuir para o enriquecimento das pesquisas devotadas ao estudo dos gêneros do discurso, visto que o conceito é ainda pouco explorado, sobretudo no tocante aos enunciados que congregam expressamente semioses verbais e não verbais.

O ser humano relaciona-se com seus semelhantes por meio da linguagem, assim a língua(gem) é considerada o pilar de toda sociedade. Dessa forma, estudos como o do Círculo de Bakhtin consideram o diálogo como um processo de interação mútua, ou seja, a constituição do sujeito acontece a partir do encontro com o outro na/pela linguagem, no qual os sujeitos constituem-se mutuamente e, a partir disso compreendem o mundo, atribuindo sentidos a tudo que está a sua volta. Nesse sentido, o Círculo de Bakhtin, a partir de suas reflexões, deixaram uma vasta obra rica em contribuições acerca da Filosofia da Linguagem e muitas dessas contribuições estão relacionadas à constituição dos sujeitos e à singularidade desses dentro de um acontecimento, ou seja, um processo dialógico que se fundamenta no eu-outro. Isso posto, o objetivo principal desta pesquisa é verificar o processo de formação e constituição do sujeito espectador do espaço de cineclube a partir dos debates presentes nesse ambiente. Para tanto, este estudo de caráter qualitativo, teve como embasamento teórico-metodológico os pressupostos dos estudos do Círculo de Bakhtin a partir de conceitos como sujeito, enunciado, acontecimento, arquitetônica e excedente de visão, bem como os estudos de pesquisadores que se debruçam sobre a questão da imagem e do audiovisual. Para alcançarmos nossos objetivos a metodologia utilizada foi a entrevista com grupo focal, no qual, a partir da transcrição das falas dos sujeitos participantes analisamos esse corpus mediante as relações arquitetônicas e os processos de constituição dos sujeitos e do acontecimento do espaço de cineclube sob o ponto de vista discursivo do Círculo. Dessa forma, as teorias bakhtinianas nos possibilitaram realizar uma abordagem a partir da sistematização dialógica da linguagem e da constituição dos sujeitos em uma inter-relação constitutiva mútua, com isso, foi possível observar a constituição dos sujeitos a partir das discussões presentes no espaço do cineclube e como as interações entre os participantes possibilitaram a sua formação a partir da representação do eu-outro. Portanto, esperamos que essa pesquisa possa vir a contribuir para os estudos referentes aos espaços de cineclube e do sujeito participante desse acontecimento, a partir dos referencias teóricos bakhtinianos.

Conforme os relatos oriundos de Couto e Embaló (2010) e Namone e Timbane (2017), a Guiné-Bissau é um país que conta com um conjunto de mais de 20 línguas nacionais e tendo o português como a única língua do ensino, uma das línguas menos falada e conhecida entre o povo guineense. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho centra-se em compreender as concepções de linguagem de professores de português de Guiné-Bissau, bem como identificar as teorias de linguagem mais privilegiadas por professores de língua portuguesa. A discussão teórica deste trabalho correlaciona-se aos conceitos de lingua(gem), gramática, função de língua dentro da perspectiva das três teorias de linguagem, conforme apontadas por Fuza; Ohuschi e Menegassi (2011); Barcellos (2013); Koch (2015) e Possenti (2012). Discutimos também a teoria Linguística Sistêmico-Funcional (LSF) de Michael A. K. Halliday (1994), uma vez que serviu para analisar os dados e compreender a maneira como os docentes manifestam linguisticamente as suas práticas através de suas atitudes e suas crenças na aula. Nessa teoria, embasemos as nossas discussões em Santos (2014); Vian Jr. (2012); Oliveira (2014); Farencena e Fuzer (2018); Hood (2019). Em relação à metodologia, este trabalho centra-se na pesquisa qualitativa e interpretativista de natureza etnográfico (BORTONI-RICARDO, 2008; GRANDE, 2011; SOUZA; KERBAUY, 2017; PROETTI, 2018). Os colaboradores desta pesquisa foram os professores de escola pública do ensino médio de 10º a 12º ano. A metodologia também compreendeu a coleta e discussão/interpretação de dados por meio de aplicação de questionários aos nove professores residentes em Guiné-Bissau.  Os resultados finais desta pesquisa demonstram que os professores colaboradores privilegiam a concepção da linguagem como instrumento de comunicação, a teoria que descreve as normas a serem seguidas, com vista a ter sucesso em aprendizagem. Sendo assim, percebe-se, também, que esta pesquisa se relaciona a teoria de decolonialidade, pois trata-se de propor o ensino que contemple a realidade local dos alunos sem ter que referenciar no modelo do ensino de língua estabelecido pelo sistema educacional do colonizador.