“CAMINHANTE, NÃO HÁ CAMINHO. SE FAZ CAMINHO AO ANDAR”: NARRATIVAS DE PESQUISADORES DOS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS SOBRE A EXPERIÊNCIA SENSÍVEL DE PESQUISA
Experiência Sensível. Conhecimento. Ciência. Pesquisa. Decolonial.
Esta tese propõe pensar o processo de produção de conhecimento da perspectiva da experiência sensível de pesquisa, na qual a sensibilidade se relaciona com a maneira com que pesquisadores e pesquisadoras vivenciam as múltiplas relações que acontecem durante esse processo. Partimos da crítica à ciência moderna feita pelo pensamento decolonial para revelar as experiências de conhecimento desperdiçadas, orientando-nos pela noção de experiência/sentido, de Bondía, e de condição sensível, de Haroche. A experiência sensível de pesquisa contrapõe a concepção de experimento de pesquisa, pautado na universalidade, neutralidade e objetividade. Nesse sentido, perguntamos: como se constroem as experiências sensíveis de pesquisa e como contribuem para a produção de conhecimento? Não restringimos a pesquisa à pesquisa de campo, mas a todos os acontecimentos e interações que vivenciamos nesse processo. A ciência moderna desconfia do conhecimento que emerge da experiência. Os afetos, desconfortos e equívocos vivenciados no processo de produção de conhecimento são desprezados, considerados como externalidades. Diante disso, o objetivo geral desta tese é compreender os processos de pesquisa de doutorandos e doutorandas dos Estudos Organizacionais da perspectiva da experiência sensível de pesquisa, e como tal perspectiva afeta escolhas, decisões, histórias e a construção de conhecimento. Como objetivos específicos, pretendemos: (i) resgatar as histórias sobre as experiências de doutorado de pesquisadores e pesquisadoras de EOR; (ii) identificar elementos que revelam a condição sensível das experiências de pesquisa; (iii) analisar as implicações pessoais, sociais e cientificas das experiências sensíveis de pesquisa. Para revelar a condição sensível dessas experiências, construímos um caminho que se fez no caminhar. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que produziu as informações utilizando relato autoetnográfico; pesquisa documental; entrevista semiestruturada. A escolha das/dos participantes baseou-se nos seguintes critérios: (a) serem do campo dos Estudos Organizacionais; (b) terem desenvolvido pesquisas qualitativas em suas teses; (c) terem realizado pesquisa de campo no doutorado; (d) terem defendido a tese nos últimos 10 anos. A seleção de novas e novos participantes foi feita pela técnica “bola de neve”. Entrevistamos 17 pesquisadoras e pesquisadores, de oito instituições diferentes, sendo onze mulheres e seis homens. A análise das informações privilegiou o método de Análise de Narrativas. Construímos oito categorias de análise, as quais são: (1) Um gesto de interrupção; (2) Uma abertura para o desconhecido: pesquisas imprevisíveis; (3) Antiexperiências; (4) O tempo da tese: tempo de entregar-se e conectar-se; (5) Os outros que nos apoiam em nossas vulnerabilidades; (6) Envolver-se e deixar se envolver com os sujeitos do campo; (7) Tornar experiências visíveis e credíveis; (8) Dar sentido a quem somos e ao que nos acontece. Compreender a condição sensível das experiências de pesquisa revelou que as dúvidas, culpas, angústias, preocupações não as/os fizeram pesquisadoras e pesquisadores menos competentes, mas as/os tornaram pessoas mais humanas. Romper com as formas estreitas de produzir conhecimento e com ideia de um pesquisador impávido, implica em dar mais vida ao processo de pesquisa, um processo mais prazeroso, mais pulsante, mais condizente com a nossa condição humana.