SUBVERSÃO OU CONSERVAÇÃO DO CAMPO DE PODER DA CAFEICULTURA: O CASO DO CAMPO SOCIAL IWCA MANTIQUEIRA DE MINAS
Mulheres. Cafeicultura. IWCA Mantiqueira de Minas. Agentes Sociais. Campo de Poder. Habitus. Pós-colonial.
Por meio deste projeto de tese buscamos compreender como as mulheres agentes sociais do campo social IWCA Mantiqueira de Minas conservam ou subvertem a estrutura e dinâmica do campo de poder da cafeicultura. Os conceitos adotados de agentes sociais, campo social e campo de poder são propostos pelo sociólogo Pierre Bourdieu. Para o referido autor as sociedades são espaços sociais formados por campos diversos, englobando agentes sociais heterogêneos, cujas práticas são orientadas pelo habitus. Esses agentes ocupam diferentes posições nos campos –dominantes, intermediários e dominados – e quando as relações entre elas são de poder, os campos passam a ser denominados campos de poder, envolvendo lutas entre os agentes sociais: dominados buscam a subversão do campo, enquanto os dominantes procuram a conservação e, consequentemente, manter o poder que detêm. Essas relações de poder entre os agentes sociais de um campo podem ser baseadas na quantidade e/ou qualidade de capital – econômico, cultural, social e simbólico – que detêm e em aspectos construídos socialmente, como as interseccionalidades entre gêneros, raças/etnias e classes sociais, defendidos pela epistemologia pós-colonial, adotada neste projeto de tese. Ao analisarmos especificamente a cafeicultura do Brasil, maior país produtor e exportador mundial de café, observamos um campo de poder cuja estrutura e dinâmica refletem traços de um passado histórico colonial, com a presença de essencialismos que dividem e hierarquizam os espaços, além do patriarcado, da dominação masculina, da heteronormatividade e do racismo, responsáveis por silenciar as vozes e invisibilizar a presença e o trabalho das mulheres, submetidas à subalternidade. Buscando subverter essa estrutura e dinâmica que remontam ao colonialismo, período histórico no qual a atividade cafeeira surgiu e foi estruturada no Brasil, essas mulheres subalternas se unem, formando campos sociais que buscam, em teoria, a subversão do campo de poder da cafeicultura, e um deles é a International Women’s Coffee Alliance Capítulo Brasil (IWCA Brasil) que busca retirar das condições de subalternidade as mulheres que atuam na cafeicultura brasileira. A referida organização é subdividida em diferentes subcapítulos que atuam regionalmente, como a IWCA Mantiqueira de Minas, campo social formado pelas mulheres que atuam na cafeicultura da região Sul de Minas, maior produtora de café de Minas Gerais que, por sua vez, é o maior estado brasileiro produtor. Embora seja um campo criado, em teoria, para subverter o campo de poder da cafeicultura, nos questionamos se essas agentes sociais realmente subvertem a dinâmica e estrutura desse campo de poder ou se na realidade, em suas práticas, conservam-nas. Buscando respostas para esse questionamento, utilizamos da praxeologia social de Pierre Bourdieu que propõe a reflexividade do pesquisador e a construção do objeto de pesquisa, além de adotarmos como estratégia de pesquisa o estudo de caso do campo social IWCA Mantiqueira de Minas, recorrendo às técnicas de entrevista em profundidade com as agentes sociais que nele estão inseridas, à observação não participante e à pesquisa documental para reunião do material empírico. Posteriormente, esse material será analisado por meio da análise de conteúdo de caráter qualitativo, com base nas recomendações de Bardin (2011).