A CIÊNCIA EM CIRCULAÇÃO NAS ESFERAS PÚBLICAS: O JORNALISMO CIENTIFICO EM UNIVERSIDADES DE MINAS GERAIS E SUAS REPERCUSSÕES
Jornalismo Científico. Comunicação Pública da Ciência. Popularização da
Ciência. Universidades. Teoria da Ação Comunicativa.
Esta pesquisa projetou um olhar retrospectivo sobre a produção discursiva do jornalismo científico
praticado em três universidades de Minas Gerais (UFMG, UFLA e UFV), considerando notícias de
texto disponíveis on-line em seus portais, publicadas no intervalo de 15 anos (2004-2018) e
referentes a pesquisas relacionadas ao tema água. O estudo estendeu-se também a textos
jornalísticos de repercussão, publicados pela imprensa e outros emissores. O objetivo foi o de
compreender a atuação de tais textos no estímulo ao diálogo e ao debate sobre as pesquisas
científicas nas esferas públicas. Para isso, utilizamos referencial teórico habermasiano,
considerando a Teoria da Ação Comunicativa como parâmetro para a análise da popularização da
ciência (PC) e da comunicação pública da ciência (CPC). Pautamo-nos, assim, em uma perspectiva
dialógica, capaz de colaborar para a formação de um conhecimento prático esclarecido na opinião
pública e para o subsídio a decisões políticas nos contextos democráticos. Para contemplar esse
último aspecto, analisamos também a argumentação de projetos de lei que tramitaram na ALMG
tendo a água como tema, de forma a observarmos possíveis relações com o discurso argumentativo
do jornalismo científico. Os textos noticiosos incluídos na amostra passaram pela Análise de
Discurso Crítica (ADC), com ênfase na análise de aspectos textuais relacionados à
compreensibilidade e organização jornalística e análise da estrutura do texto como argumento. Os
discursos do legislativo foram analisados na perspectiva da estrutura argumentativa. Entre as
principais conclusões, estão: 1) Levantamentos preliminares mostram que a publicação pelas
universidades de textos do jornalismo científico ocorreu em fluxo relativamente baixo, comparado
ao total de publicações de notícias em seus portais (menos de 3% são matérias de pesquisa) e que
esses resultados são melhores quando há melhores condições de investimento na comunicação
organizacional. 2) Pela via do jornalismo científico, estamos distantes das práticas de PC e CPC na
perspectiva do diálogo com a comunidade, proposta pela TAC. Os textos se apresentam mais sob
perspectiva difusionista, destacando-se que: 2.1) possuem algumas fragilidades quanto à
acessibilidade da linguagem a um público não especializado; 2.2) embasam-se em valores que
representam uma perspectiva limitada de sustentabilidade, e estão na forma de pressuposições, o
que limita o diálogo e o debate sobre pontos que possivelmente ainda não são consenso entre a
população; 2.3) trazem ausências discursivas, que limitam o estímulo ao diálogo - destacamos a de
atores e vozes da comunidade; 2.4) embora estejam constituídos em torno de pretensões de validade
passíveis de questionamentos, trazem poucas questões críticas aos argumentos, inclusive nos
comentários dos leitores; 3) Há pouca interface entre as pautas do jornalismo científico e os textos
discutidos na ALMG. 4) A prática empreendida até o momento para compartilhar ciência com a
sociedade por meio do jornalismo tem mobilizado fluxos ainda frágeis no mundo da vida, e entre
ele e o Sistema, quando o tema em questão é a água. Avaliamos que uma política pública efetiva de
PC/CPC (ou ao menos políticas institucionais) representaria a institucionalização de dispositivos
necessários para aproximar essas iniciativas da ação comunicativa, de forma a atualizar os
componentes do mundo da vida em perspectiva emancipatória.