A EXPERIÊNCIA DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DE PESSOAS TRANSGÊNEROS PARA O MERCADO DE TRABALHO FORMAL
processo seletivo, transgênero, ; diversidade; identidade de gênero
Pautas de diversidade são cada vez mais consideradas no âmbito organizacional, principalmente quanto à prática das políticas de gestão da diversidade. Dentre as possibilidades de abordagem, está a perspectiva de gênero, que contempla, também, a diversidade das identidades de gênero. Nessa temática, a literatura mostra que para as pessoas transgêneros o mercado de trabalho é permeado de desafios mais complexos, resultado do processo de marginalização social que essa população sofre, em função do binarismo de gênero existente nos padrões normativos sociais. De forma relacionada a esse contexto, esta pesquisa qualitativa teve como objetivo geral compreender como ocorre a participação de pessoas transgêneros nos processos de recrutamento e seleção do mercado de trabalho formal de organizações privadas, a partir da percepção dos candidatos e dos profissionais de recursos humanos atuantes nesses processos. Para isso, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dois grupos de sujeitos: dez pessoas transgêneros que já participaram de ao menos um processo de recrutamento e seleção para o mercado de trabalho formal e oito profissionais de RH que já elaboraram e/ou conduziram esses processos com, pelo menos, um candidato transgênero. Por meio da análise de conteúdo temática a posteriori os dados foram analisados e, na sequência, interpretados à luz do referencial teórico. Foi percebido que as pessoas transgêneros buscam por espaços seguros e que possibilitem o desenvolvimento profissional; que a transfobia é presente nos processos de recrutamento e seleção, principalmente quando há interseccionalidade, o que gera inseguranças para novas candidaturas às vagas; e que as pessoas transgêneros não consideram que, em geral, as organizações são interessadas pela diversidade, mas sim, pelos retornos estratégicos que essa prática oferece. Os profissionais de RH, por sua vez, mostram que a cultura organizacional é fundamental para identificar o interesse das organizações pela diversidade e que há despreparo dos seus pares e demais profissionais de outras áreas para a condução de processos de recrutamento e seleção com pessoas transgêneras. A escolaridade das pessoas transgêneros, a passabilidade e o despreparo dos profissionais frente à diversidade foram pontos fundamentais nos apontamentos dos dois grupos de sujeitos de pesquisa. Para além da inserção, propõe-se a realização de estudos futuros que avaliem como ocorre o processo de permanência dos indivíduos transgêneros nas organizações.