INDÚSTRIAS CRIATIVAS E CULTURAIS EM PERSPECTIVA: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, FLUXOS DE IDE E DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL
Indústria Cultural e Criativa
Investimento Direto Estrangeiro
Desenvolvimento Sustentável
América Latina
Brasil
As Indústrias Culturais e Criativas (ICCs) têm ganhado destaque mundial por aliarem cultura, inovação e sustentabilidade, configurando-se como um vetor estratégico de desenvolvimento econômico e social. Ao mesmo tempo, as empresas multinacionais (EMNs), por meio do Investimento Direto Estrangeiro (IDE), exercem papel ambíguo sobre o desenvolvimento sustentável, podendo gerar tanto externalidades positivas quanto negativas. Fundamentada nas Teorias Institucional e da Legitimidade, esta tese investiga como as ICCs se relacionam com o desenvolvimento sustentável na América Latina e no Brasil, considerando seus vínculos com o IDE e sua distribuição territorial. Especificamente, buscou-se: (1) sistematizar e analisar criticamente a produção científica que aborda a interface entre ICCs e sustentabilidade; (2) examinar o papel moderador das ICCs na relação entre IDE e desenvolvimento sustentável em países latino-americanos; e (3) mapear e analisar a distribuição espacial das ICCs no Brasil, identificando regiões e cidades com maior concentração dessas atividades e sua evolução ao longo do tempo. Para alcançar esses objetivos, a tese foi estruturada em três artigos. O primeiro artigo, de natureza qualitativa, realizou uma revisão sistemática da literatura sobre ICCs e sustentabilidade, destacando a relevância da criatividade como elemento mediador de inovação e inclusão social. O segundo artigo adotou uma abordagem quantitativa, aplicando modelos de dados em painel para 13 países latino-americanos no período 2011–2021. Os resultados demonstraram um efeito negativo do IDE sobre os índices de sustentabilidade, mas evidenciaram que as ICCs exercem efeito moderador positivo, atenuando esse impacto e fortalecendo a legitimidade das práticas empresariais. O terceiro artigo mapeou as ICCs no Brasil com base em dados da RAIS (2014–2023), revelando crescimento expressivo do emprego criativo e uma dupla dinâmica territorial: concentração absoluta em grandes metrópoles e especialização relativa em municípios menores, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Os resultados indicam que o IDE isolado não promove o desenvolvimento sustentável, mas sua interação com ecossistemas criativos locais favorece práticas empresariais mais legítimas e duradouras. As ICCs emergem, assim, como mediadoras institucionais capazes de traduzir o capital econômico em valor social e cultural, reforçando a coesão territorial e a sustentabilidade. Do ponto de vista teórico, a tese contribui ao integrar as perspectivas de negócios internacionais, legitimidade e economia criativa, propondo um modelo que explica como a criatividade institucionaliza a sustentabilidade em contextos de fragilidade regulatória. Em termos práticos, os resultados reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas à descentralização criativa, ao fortalecimento de ecossistemas culturais regionais e à incorporação de critérios culturais nos instrumentos de governança e atração de IDE. Em síntese, a pesquisa evidencia que a criatividade e a cultura constituem arquiteturas institucionais essenciais para o equilíbrio entre crescimento econômico e sustentabilidade social. As ICCs, quando integradas às estratégias de investimento e desenvolvimento, podem converter legitimidade simbólica em legitimidade substantiva, promovendo um modelo de desenvolvimento mais inclusivo, inovador e sustentável na América Latina e no Brasil.