Relação entre ESG (environmental, social and governance) com a estrutura de capital e desempenho econômico-financeiro em empresas de capital aberto da América Latina: uma análise multitéorica
Environmental, Social and Governance. ESG. Estrutura de Capital. Desempenho Econômico-financeiro.
O crescente apelo global pela responsabilidade social corporativa evidencia a importância de práticas empresariais éticas e sustentáveis. O ESG (Environmental, Social and Governance) avalia as operações das empresas considerando três pilares: Meio Ambiente, Social e Governança. Os estudos sobre o tema, concentrados em mercados desenvolvidos, apresentam resultados inconclusivos. No contexto latino-americano, as empresas enfrentam conflitos entre principal e agente, e, embora estudos empíricos tenham analisado o efeito do desempenho ESG na região, nenhum adotou uma abordagem multiteórica para investigar sua relação com a estrutura de capital e o desempenho econômico-financeiro. Assim, buscou-se por meio deste estudo, analisar a relação do desempenho ESG com a estrutura de capital e o desempenho econômico-financeiro das empresas de capital aberto da América Latina. A pesquisa foi organizada em três artigos, com os seguintes objetivos: (i) realizar uma revisão bibliométrica sobre a evolução e o estado atual da pesquisa acadêmica sobre ESG no cenário corporativo, integrando dados da Web of Science e Scopus; (ii) avaliar sistematicamente como o desempenho ESG, geral e por pilares, influencia decisões sobre estrutura de capital e custos de capital das empresas latino-americanas; e (iii) analisar a relação entre desempenho ESG e desempenho econômico-financeiro, por meio da modelagem de equações estruturais (SEM) e das teorias da Agência e dos Stakeholders. Para o Artigo 2, utilizou-se a regressão multinível para dados em painel. A base Refinitiv foi utilizada para coleta de informações ESG e financeiras. No Artigo 1, observou-se crescimento exponencial das publicações sobre ESG, ainda com resultados inconclusivos. A Scopus apresentou maior volume de estudos. Identificou-se dois clusters principais: um voltado às revisões de literatura e outro aos estudos empíricos que investigam a relação entre ESG e retorno financeiro, destacando-se as teorias da Agência e dos Stakeholders. Contudo, não foi possível determinar se as práticas ESG visam aumentar a rentabilidade, atender metas sustentáveis ou cumprir exigências legais. No Artigo 2, os resultados mostraram que o desempenho ESG associa-se positivamente ao endividamento. O desempenho ambiental reduz o custo da dívida, enquanto o social reduz o custo do capital próprio. A governança relaciona-se positivamente tanto com o endividamento quanto com o custo da dívida. Testes de robustez confirmaram a consistência dos achados e indicaram que a inclusão de efeitos aleatórios por setor, país e ano melhora o ajuste dos modelos. Em geral, concluiu-se que, embora o ESG ganhe destaque no ambiente corporativo, seu impacto na estrutura de capital ainda é incipiente na América Latina. No Artigo 3, constatou-se que a relação entre desempenho ESG e desempenho corporativo é melhor explicada na direção inversa, ou seja, do desempenho econômico-financeiro e de mercado para o ESG. O desempenho contábil (ROA e ROAP) não apresentou relação significativa com o ESG, enquanto o desempenho de mercado (Q de Tobin) mostrou associação positiva, alinhada à teoria dos Stakeholders. O efeito mediador do tamanho da empresa sugere que o desempenho econômico-financeiro é condição necessária para ações ESG em grandes corporações, mas não suficiente para garantir reconhecimento do mercado. Já o efeito moderador do fluxo de caixa indica que a folga financeira potencializa investimentos em ESG.