Solos de alta fertilidade derivados de itabiritos no Quadrilátero Ferrífero: composição e gênese
Gênese de Solo. Geoquímica do Solo. Micromorfologia do Solo. Mineralogia do Solo
Itabiritos são um tipo de minério de ferro, são rochas metassedimentares compostas essencialmente por quartzo e óxidos de ferro e, portanto, tipicamente se transformam em solos pedregosos, de
textura grossa e baixa fertilidade. No entanto, alguns solos florestais desenvolvidos a
partir de itabiritos (um tipo de minério de ferro) sob clima tropical úmido em Minas
Gerais, Brasil, inesperadamente apresentam altos teores de cátions básicos, por razões
pouco explicadas na literatura. Para investigar a gênese desses solos incomuns, foram
amostradas três topossequências, cada uma composta por pedons do terço superior,
médio e inferior, sob vegetações nativas. Análises completas de caracterização física,
química, mineralógica e micromorfológica foram realizadas nos solos e fragmentos de
material de rocha subjacentes. Todos os solos eram todos ricos em fragmentos
grosseiros (> 2 mm), com teores de argila variando de 11 a 71%, com alta ou muito alta
densidade de partículas, devido aos altos teores totais de Fe 2 O 3 (23-69%), enquanto os
teores de Al 2 O 3 eram tipicamente <13%. Embora sejam essencialmente ácidos, o Al 3+
trocável era nulo ou baixo, enquanto a disponibilidade de cátions básicos variava de
baixa nos pedons do terço superior a alta ou muito alta nos pedons do terço inferior.
Mesmo sendo compostos principalmente por quartzo e hematita, a maioria dos
horizontes apresentava pequenas quantidades de carbonatos (provavelmente de Fe, Mg
e Mn), enquanto todas as argilas apresentavam micas, vermiculitas, caulinita e óxidos
de Fe/Al em proporções altamente variáveis. Algumas argilas também apresentavam
pirofilita e estilpnomelano, um mineral raro semelhante à biotita, e apatita. A gênese
desses solos de itabirito pode ser atribuída a uma combinação de alguns fatores, sendo
eles: 1) presença de minerais ricos em nutrientes (Mg, Ca); 2) argilas de vermiculita
com alta capacidade de troca catiônica; 3) transporte de nutrientes solúveis e matéria
orgânica para posições mais baixas na paisagem e 4) ciclagem e retenção eficientes de
nutrientes sob florestas nativas. Os solos analisados apresentam um potencial ainda
pouco explorado para sistemas de agricultura de baixa intensidade, em razão de sua
fertilidade natural relativamente superior à das áreas adjacentes. No entanto, reconhece-
se a elevada complexidade envolvida em seu manejo. Independentemente do uso futuro,
seja para fins agrícolas ou para a conservação, estas áreas se configuram como espaços
de elevado valor, sobretudo pela sua associação à vegetação remanescente de Mata
Atlântica, o que por si só já justifica estratégias de preservação ou uso sustentável mais
criterioso.