ESTRUTURA DA COMUNIDADE DA MESOFAUNA E MACROFAUNA DO SOLO EM CAFEZAIS E ÁREAS DE FLORESTAS ADJACENTES NO BIOMA MATA ATLÂNTICA
Artrópodes. Biodiversidade. Bioindicadores. Coffea arabica. Monocultivo. Mudança de uso da terra.
O estado de Minas Gerais responde por aproximadamente 72% da produção nacional de café arábica. Grande parte dessa produção ocorre em sistemas de monocultivo, o que contribui para um ambiente com restrição de diversidade de recursos alimentares e de micro habitats para os organismos benéficos do solo. As comunidades da mesofauna e macrofauna habitam tanto o solo como a serapilheira, e, por meio de suas atividades, têm o potencial de alterar a estrutura do solo, realizando de forma direta ou indireta funções ecológicas e serviços ecossistêmicos. Alguns desses serviços, como a ciclagem de nutrientes, possuem uma íntima relação com a fertilidade do solo e consequentemente com a produtividade das culturas estabelecidas no sistema de cultivo. Diante do exposto, o objetivo geral deste estudo é avaliar a estrutura da comunidade de mesofauna e macrofauna em áreas de café de maior e menor produtividade, utilizando áreas de florestas adjacentes como sistema referência. Este estudo foi conduzido na cidade de Santo Antônio do Amparo, Minas Gerais, Brasil. A amostragem foi realizada por meio de armadilhas de queda, tipo pitfall, iscadas com de fezes humanas, instaladas no nível do solo em cafezais com maior e menor produtividade e em florestas adjacentes localizadas no bioma Mata Atlântica. As armadilhas permaneceram em campo durante 48 horas. Nos mesmos pontos em que foram amostrados os pitfalls, foram coletadas amostras de solo para a análise química e física, utilizadas como variáveis explicativas. O material foi submetido ao processo de triagem e contagem e a identificação foi realizada no nível dos grandes grupos taxonômicos. Coleoptera foi identificado até o nível de família, Araneae foi identificada por morfoespécies. Modelos lineares generalizados (GLMs) foram estimados para avaliar o efeito da mudança no uso da terra sobre a diversidade das comunidades edáficas. Uma análise de redundância baseada em distância (dbRDA), seguida de seleção de variáveis, foi utilizada para avaliar mudanças na estrutura das comunidades entre os usos da terra. Análise de partição de variância (APV) foi usada para avaliar a contribuição das variáveis físico-químicas do solo e do uso da terra sobre a estrutura da comunidade. Houve uma redução na abundância relativa, riqueza e nos números de Hill 1 e 2 das comunidades de Coleoptera e Araneae com a conversão de floresta para cafezais. Entretanto, para os táxons da mesofauna e macrofauna geral do solo, foram observadas reduções apenas na abundância relativa, com exceção de Gastropoda. A análise APV revelou forte influência do uso da terra sobre a estrutura de Coleoptera e da macrofauna geral. Contudo, para Araneae, a maior contribuição observada foi a dos fatores combinados (uso da terra e variáveis ambientais). A análise dbRDA mostrou um claro padrão de separação entre as comunidades da fauna do solo das florestas adjacentes e dos cafezais. Em todos os casos, as variáveis correlacionadas com as florestas foram acidez potencial (H+Al), capacidade de troca de cátions potencial (CTCp), Fe, Al3+ e saturação por alumínio (m%), as variáveis explicativas correlacionadas os cafezais foram observados para Na+, saturação por bases (V%), pH, fósforo remanescente (Prem), densidade do solo (Ds) e Zn. A partir desse estudo, foi possível conhecer a estrutura das comunidades de mesofauna e macrofauna do solo no monocultivo de cafés e nas florestas adjacentes no bioma Mata Atlântica, e a relação desses invertebrados do solo com as variáveis ambientais.