TOXICIDADE DE FUNGICIDAS UTILIZADOS NA CULTURA DO MILHO PARA Doru luteipes (DERMAPTERA: FORFICULIDAE)
Zea mays; tesourinha; seletividade.
A cultura do milho é afetada por pragas e doenças que comprometem tanto a qualidade e quanto a produtividade dos grãos. Entre os principais insetos-pragas desta cultura destaca-se Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae), cujo seu controle é realizado principalmente por meio de inseticidas químicos e tecnologia Bt. No entanto, essa praga também pode ser naturalmente regulada pelo controle biológico conservativo, desempenhado por populações de seu inimigo natural, a tesourinha Doru luteipes (Dermaptera: Forficulidae). As doenças, por sua vez, são controladas principalmente com fungicidas sintéticos, onde esses junto com as aplicações dos inseticidas sintéticos podem causar efeitos letais e subletais aos organismos não alvo. Nesse sentido, torna-se importante que os programas de manejo integrado (MIP) considerem o impacto de pesticidas em inimigos naturais. Assim, objetivou-se avaliar a toxicidade de fungicidas recomendados para a cultura do milho em ninfas de quarto instar (N4) e adultos de D. luteipes, em diferentes vias de exposição. Os fungicidas utilizados e suas respectivas doses foram: chlorotalonil (10,0 g.L-1); pyraclostrobin + epoxiconazole (5,0 mL.L-1); pyraclostrobina + fluxapiroxad (2,3 mL.L-1); mancozeb (14,0 g.L-1); azoxystrobin + carboxamide (1,0 g.L-1); azoxystrobin + difenoconazole (5,0 mL.L-1) e tiofanate-metílic (0,35 g.L-1). As testemunhas negatuva e positiva foram água destilada e o inseticida Beauveria bassiana (3,25 mL.L-1). A aplicação desses inseticidas ocorreu via via Torre de Potter ou aerógrafo, calibrados á 15 lb.pol-2 para aplicar 1,5 ± 0,5 μL.cm-2. As vias de exposição dos inseticidas foram: aplicação tópica, contato com resíduos, ingestão de presas contaminadas e persistência em superfície inerte em intervalos de três, 10, 20 dias após a aplicação. Os bioensaios foram realizados em delineamento inteiramente casualizado, com 50 insetos por tratamento (10 insetos/repetição). Avaliou-se a mortalidade diária, a viabilidade de ovos e de ninfas em todos os tratamentos. O período de observação variou conforme a via de exposição, sendo considerados 5 dias para ingestão de presas contaminadas; 10 dias para resíduos e aplicação tópica em ninfas; e 20 dias para adultos expostos a resíduos e aplicação tópica. Para adultos, os fungicidas aplicados topicamente não reduziram o tempo letal mediano (TL50). Os tratamentos com pyraclostrobin, pyraclostrobin + epoxiconazole e B. bassiana mostraram alta toxicidade para ninfas e adultos de Doru luteipes, enquanto chlorothalonil e thiophanate-methyl foram seletivos, com menor efeito sobre a sobrevivência. A toxicidade variou conforme a via de exposição, sendo a exposição de resíduos em superfície mais letal e a ingestão de presas contaminadas menos deletéria. A partir desses resultados, infere-se que Doru luteipes apresenta resistência natural a alguns compostos, possivelmente ligada a características morfológicas e mecanismos de detoxificação. Os resultados obtidos destacam a importância da avaliação da seletividade de fungicidas no manejo integrado e a toxicidade de ingredientes ativos em inimigos naturais, além de reforçar o potencial de D. luteipes como agente de controle biológico resistente e compatível com práticas de proteção de cultivos simultaneamente ao controle de doenças da cultura do milho.