Biocarvão de casca de pequi: desempenho como remediador dos efeitos da salinidade da água de irrigação
Água salina. Caryocar brasiliense. Qualidade da água de irrigação. Biochar. Condicionante do solo.
Aliada à disponibilidade hídrica, a qualidade da água torna-se um fator determinante a ser considerado nos sistemas agrícolas irrigados, cuja análise permite predizer a viabilidade de sua aplicação, sobretudo quanto aos efeitos deletérios decorrentes da salinidade no sistema solo-planta-água. Nesta perspectiva, objetivou-se a avaliação do biocarvão obtido a partir da casca do pequi (Caryocar brasiliense), como uma alternativa mitigadora aos efeitos ocasionados pelo uso da água salina na irrigação. Para isso, foram produzidos três biocarvões: sem modificação química (BC) e ativado em duas proporções de magnésio, 1:20 (BCA-20) e 1:5 (BCA-5) (resíduo/MgCl2), em três classes granulométricas distintas (< 0,5; 0,5 – 1,0 e 1,0 – 2,0 mm). Os ensaios foram realizados em duas fases experimentais: em meio aquoso e em matriz solo, sob diferentes condições de aplicação. Por meio de ensaios adsortivos, na primeira fase do estudo, os biocarvões de granulometria intermediária foram analisados em quatro níveis de aplicação (0,5; 1,0; 1,5 e 2,0 g) em água salina sintética com condutividade elétrica de 4,5 dS m-1. A partir da interação com o (Na), cálcio (Ca) e magnésio (Mg), principais íons associados aos teores salinos, efetuou-se o posterior cálculo da razão de adsorção de sódio (RAS). A segunda fase do estudo foi conduzida em colunas individuais de solo, de textura argilosa, condicionadas com os respectivos tratamentos a uma taxa de aplicação de 1% (m/m) em relação à massa de solo. A partir da simulação de irrigação com a água salina sintética, por meio de ensaio de lixiviação, avaliou-se a influência simultânea entre os níveis granulométricos, em função dos biocarvões e tempo de interação dos tratamentos (incubados e sem incubação), sob os atributos físico-hídricos do solo: condutividade hidráulica (K0) e argila dispersa em água (ADA). Para os testes em meio aquoso, os BCA-5 proporcionaram melhores resultados, alcançando-se uma redução da RAS de até 76%, constatando-se uma tendência de redução proporcional ao incremento das doses utilizadas. Em contrapartida, observou-se o aumento da condutividade elétrica (CE) do extrato em até 14 dS m-1. Em matriz solo, a incorporação dos biocarvões ativados quimicamente apresentou, em geral, melhorias satisfatórias, sobretudo para o aquele aplicado em maior classe granulométrica. Os valores de K0 alcançaram 76 cm h-1, quando não incubados e 52 cm h-1, quando em maior tempo de contato. Os tratamentos controle, sem biocarvão, por sua vez, apresentaram valores inferiores, 21 e 38 cm h-1, respectivamente. Apesar dos efeitos positivos para K0, os biocarvões analisados não conferiram influência na atenuação da ADA. Além disso, os resultados não indicaram correlação entre K0 e ADA para solo argiloso testado.