O SISTEMA DE ÁREAS PROTEGIDAS DO BRASIL: UMA AVALIAÇÃO USANDO CORUJAS COMO
GRUPO INDICADOR
Strigidae. BrazilClim. Species Distribution Modeling. Conservation Units. |
A conservação e o manejo eficazes das espécies ou grupos delas requer conhecimento básico sobre a sua distribuição, o que é problemático no caso de espécies altamente móveis, ecologicamente diversas, pouco estudadas e noturnas como as corujas (Strigidae). Além disso, produzir distribuições detalhadas para países megabiodiversos e de tamanho continental como o Brasil é difícil, especialmente quando a informação base está dispersa e não padronizada. Usando Modelagem de Distribuição de Espécies (SDM no inglês) com base em uma abordagem de entropia máxima, avaliou-se a distribuição potencial de 21 espécies e 21 subespécies de corujas registradas no Brasil. Para isso, primeiro avaliou-se a informação sobre temperaturas mínimas e máximas, além da precipitação, fornecida pela rede de estações meteorológicas brasileiras comparando estações convencionais e automáticas. Encontrou-se que ambos conjuntos de dados tem problemas, mas a evidência avaliada sugere que as estações convencionais fornecem dados de precipitação um pouco mais confiáveis, enquanto que as automáticas são mais consistentes em relação a informação de temperaturas. Segundo, usou-se essa informação para avaliar o desempenho das bases bioclimáticas atualmente disponíveis. Encontrou-se uma melhor correspondência entre os dados climáticos medidos no campo e a informação fornecida pela Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM 3B43 v7) no caso da precipitação, e as superfícies fornecidas pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) no caso das temperaturas, fontes não tradicionalmente usadas para SDMs. Calibrou-se estas superfícies usando a informação climática obtida no campo, usando algoritmos de machine-learning (gradient boosting e random forest), e estas superfícies melhoradas usaram-se para criar uma base de variáveis bioclimáticas que chamamos de BrazilClim. Terceiro, coletaram-se e filtraram-se dados de ocorrências para os Strigidae no Brasil, e geraram-se SDMs particulares para cada espécie e subespécie, avaliando a semelhança dos nichos entre as subespécies coespecíficas. Finalmente, criaram-se mapas de riqueza das espécies, e contrastaram-se essas informações com as áreas de proteção integral no Brasil. Com 81% das espécies brasileiras registradas, tanto a Mata Atlântica quanto o Cerrado têm a maior riqueza, seguidas pela Amazônia (67%), Pampa (62%), Caatinga (57%) e Pantanal (48%). No entanto, a comparação da riqueza registrada e prevista sugere inventários incompletos, especialmente na Pampa. Por outro lado, as subespécies apresentaram marcadas divergências de nichos, sugerindo que a riqueza de espécies de Strigidae está subestimada no Brasil. O Cerrado e a Mata Atlântica são os biomas mais ameaçados, com áreas de preservação relativamente pequenas e esparsas. Assim, nosso estudo constitui um chamado urgente para explorar a diversificação das linhagens de corujas no Brasil afim de melhorar os esforços relacionados à conservação da biodiversidade |
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