"Ecologia e Conservação de Morcegos (CHIROPTERA) em cavernas no sudeste do
Tocantins, Brasil"
Conservação. Cerrado. Chiroptera. Cavernas. Preferências Ecológicas.
Existem cerca de 180 espécies de morcegos registrados no Brasil, das quais 58 ocorrem em cavernas e 13 são consideradas restritas a cavernas. Muitas espécies de morcegos fazem uso de cavernas como abrigo, pois estas lhe conferem alta estabilidade ambiental e protegem contra predadores e adversidades climáticas, permitindo interação social, reprodução e cuidados parentais. No entanto, a proteção a esses ambientes, foi flexibilizada devido a mudanças feitas na legislação brasileira em 2008, permitindo assim impactos negativos irreversíveis em cavernas sujeitas a licenciamento ambiental. Desta maneira, identificar cavernas que representem importantes abrigos para os morcegos e entender como as características da caverna e da paisagem podem influenciar a seleção de abrigo por parte das espécies torna-se necessário para definir áreas prioritárias para conservação. Assim, o estudo teve como objetivo identificar cavernas prioritárias para a conservação em três municípios no sudeste do Tocantins, levando em consideração a riqueza, a diversidade e a presença de espécies de morcegos ameaçadas e/ou residentes. Além de verificar a influência das variáveis abióticas da caverna e da paisagem sobre a riqueza, sobre a composição das assembleias de morcegos e sobre cada espécie registrada. Para tanto, foram realizadas análises de regressão linear e uma análise multivariada baseada em modelos, com as variáveis da caverna e da paisagem. Foram capturados 585 morcegos, pertencentes a sete famílias e 31 espécies. Quatro espécies ameaçadas foram registradas em 12 cavernas, oito cavernas apresentaram alta diversidade e sete elevadas riquezas. Assim, das 19 cavernas estudadas, 15 cavernas prioritárias foram identificadas para conservação e quatro novos registros foram feitos para o estado de Tocantins. A riqueza e a composição das assembleias de morcegos na região de Aurora do Tocantins, Combinado e Lavandeira são determinadas por fatores internos das cavernas, sendo esta relação mais evidente durante a estação seca. A riqueza está positivamente relacionada com o tamanho das cavernas, sua estabilidade em relação ao ambiente externo e as diferentes temperaturas e níveis de umidade encontrados em seu interior. No entanto, temperaturas médias mais altas e maior heterogeneidade de micro hábitats estão negativamente relacionadas ao número de espécies. Embora a heterogeneidade de micro hábitats não tenha sido correlacionada positivamente com a riqueza, a quantidade de cada um deles teve uma contribuição significativa na variação da composição entre as cavernas, atuando juntamente com o desenvolvimento linear. A variação na composição é um reflexo das preferências específicas de cada espécie, sendo possível observar um padrão geral de relações negativas com temperaturas mais altas e positivas com as outras características da caverna. A paisagem, no entanto, apenas mostrou influência significativa para a presença de algumas espécies, apresentando relações positivas com a porcentagem de áreas preservadas e negativas com a de áreas degradadas. Assim, destaca-se o grande potencial da área para a conservação de espécies ameaçadas e sugere-se a proteção integral de pelo menos as cavernas classificadas com a máxima relevância. Além disso, o presente estudo traz informações relevantes sobre a preferência ecológica dos morcegos para seleção de abrigos que podem ser úteis na tomada de decisões em processos de licenciamento ambiental.