Diminuição das estruturas dispersivas em áreas urbanas: Efeito da urbanização sobre os traços funcionais de
dispersão em plantas espontâneas
Ecologia urbana, Síndromes dispersivas, Traços funcionais, Vegetação urbana
A urbanização é uma das maiores formas de modificação da paisagem e através da alteração das
condições naturais promove desafios à permanência de espécies impulsionando processos de
homogeneização taxonômica e funcional. Diferentes espaços ao longo da impermeável matriz urbana
oferecem condições para o estabelecimento da vegetação espontânea, como terrenos baldios e frestas
em calçadas, e o alcance desses ambientes é dependente do processo dispersivo. As características dos
propágulos de dispersão foram evolutivamente delineadas através das condições do ambiente e
interação com a biodiversidade local. Logo, a alteração ambiental pode promover impactos nessas
características. Dessa forma, o presente trabalho avaliou o efeito da urbanização sobre traços funcionais
de dispersão de plantas espontâneas. Investigamos (i) o efeito da intensidade de urbanização sobre a
altura, quantidade, tamanho e peso de frutos e sementes de plantas espontâneas; (ii) se existe diferença
na variação dos traços funcionais para plantas com diferentes síndromes dispersivas e status de invasão;
e (iii) o efeito da urbanização sobre a proporção de espécies por síndromes dispersivas. Nós coletamos
plantas do estrato herbáceo e arbustivo em quatro diferentes classes de intensidade de urbanização,
definidas através do percentual de área pavimentada dos bairros da cidade de Lavras-MG: classe muito
baixa (0-15%), baixa (25-40%), moderada (50-65%) e alta (75-90%). Em cada classe, projetamos três
áreas de amostragem circulares (r=200m) onde distribuímos 10 parcelas de 1m² para coleta do material.
Analisamos os dados utilizando modelos lineares generalizados de efeito misto (GLMM) para avaliar a
variação dos traços em função do percentual de área pavimentada. Identificamos 88 espécies de plantas,
43 espécies nativas, 24 naturalizadas e 21 invasoras. Houve diminuição nos valores dos traços
funcionais conforme o aumento da intensidade de urbanização. Nas áreas mais urbanizadas a altura das
espécies autocóricas e espécies exóticas invasoras foi menor. A urbanização também afetou
negativamente o tamanho dos frutos das plantas anemocóricas e o peso dos frutos e das sementes das
espécies zoocóricas. Nessas áreas, as espécies nativas apresentaram redução na quantidade e tamanho
dos frutos, enquanto as naturalizadas demonstraram diminuição na quantidade de sementes. Não houve
variação na proporção de espécies por síndromes dispersivas em diferentes classes. Nossos resultados
demostram que a redução nos valores dos traços funcionais de dispersão pode indicar maioradaptabilidade a áreas urbanizadas devido a redução da quantidade e tamanho dos locais para
germinação.