EXPLORANDO A MACROEVOLUÇÃO DE CRYPTANGIEAE (CYPERACEAE): CITOGENÉTICA E BIOLOGIA REPRODUTIVA DE UMA TRIBO NEOTROPICAL
Macroevolução. Anatomia Floral. Correlação evolutiva. Cromossomos holocêntricos. Disploidia. Palinotaxonomia.
Cyperaceae apresenta inflorescências complexas e diversidade dos sistemas sexuais, tornando-a um objeto de estudo interessante para questões evolutivas. Cryptangieae, uma de suas tribos, possui sete gêneros (Cephalocarpus, Cryptangium, Didymiandrum, Exochogyne, Krenakia, Koyamaea, Lagenocarpus) e exibe características únicas, como os estigmas avermelhados, predominância de espiguetas unissexuadas e morfologia diversa das inflorescências. Com o intuito de realizar uma abordagem integrativa, este estudo apresenta análises de citogenética, palinologia, anatomia floral e biologia reprodutiva para melhor compreender a evolução de Cyperaceae, com ênfase em Cryptangieae. Através de métodos comparativos filogenéticos, foi verificado que em Cyperaceae houve correlação entre o aumento do número de espiguetas e a presença de ramificações, o que pode beneficiar a dispersão e a captura de pólen. É provável que as flores unissexuadas sejam uma característica plesiomórfica para a família, enquanto as bissexuadas são derivadas. Em Cryptangieae, os principais eventos de cladogênese foram possivelmente marcados por disploidia ascendente, sendo demonstradas evidências de holocentria. As espécies de Cryptangium, Krenakia e Lagenocarpus possuem 2n = 32, 42 e 34, respectivamente. A tribo é palinologicamente diversa e há uma tendência evolutiva para o aumento do tamanho do pólen e redução do número de grãos produzidos por antera. Em Cryptangieae, a presença de tricomas glandulares nos pistilos fornece uma evidência para a atração dos visitantes florais. Esses visitantes são capazes de carregar grãos de pólen, mas experimentos controlados de polinização ainda são necessários para confirmar a ambofilia na tribo. Por fim, a partir de uma árvore filogenética datada, foi detectado que a tribo se divergiu há cerca de 25 Ma (Oligoceno), com radiação evolutiva a partir de 2.6 Ma (Pleistoceno). De modo geral, os gêneros com distribuição Amazônica divergiram anteriormente àqueles com distribuição no Cerrado. Em Cryptangieae, é provável que o aumento do número de flores femininas se deu preferencialmente em espécies cespitosas. Essa situação pode beneficiar o aumento da captura de pólen e a produção de sementes, principalmente em Krenakia e Cryptangium. Por outro lado, em Lagenocarpus, as inflorescências dimórficas foram consideradas inovações-chave, uma vez que o clado dos campos rupestres é potencialmente mais diverso que o grupo Amazônico. Ademais, a emergência dessa característica coincidiu com a separação dos referidos clados, sugerindo um papel significativo na explosão de diversidade do gênero e da tribo como um todo. As diferentes condições paleoambientais, especialmente as flutuações climáticas e de paisagem entre o Mioceno e o Pleistoceno, podem ter influenciado na seleção de diferentes estratégias reprodutivas em espécies de Krenakia e Lagenocarpus que ocorrem nos campos rupestres.