EFEITOS SUBLETAIS DE UM HERBICIDA À BASE DE FLUMIOXAZINA EM MODELOS TERRESTRES E AQUÁTICOS: UM ESTUDO INTEGRADO DE TOXICIDADE AMBIENTAL
flumioxazina; modelos vegetais; modelos aquáticos; fitotoxicidade; ecogenotoxicidade; herbicida.
A flumioxazina é um ingrediente ativo de um herbicida frequentemente empregado para o controle de plantas invasoras de folhas largas na agricultura. Devido à sua eficácia, a utilização do produto comercial tem aumentado significativamente nos últimos anos, suscitando preocupações quanto aos riscos ambientais. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos subletais de uma formulação comercial de flumioxazina em diversos organismos modelos, representativos dos ecossistemas terrestres e aquáticos através de uma abordagem integrada para analisar a toxicidade ambiental. O estudo foi iniciado investigando cinco modelos vegetais, dos quais quatro foram utilizados para análises de germinação e desenvolvimento inicial das plantas (Lactuca sativa, Raphanus sativus, Pennisetum glaucum e Triticum aestivum), e um (Allium cepa L.) foi empregado para avaliar a genotoxicidade do herbicida. A germinação foi o parâmetro menos sensível avaliado, e a espécie P. glaucum demonstrou maior sensibilidade à toxicidade do herbicida, apresentando redução da raiz, parte aérea e peso fresco. Embora tenha sido identificado o potencial mutagênico do produto, este se manifestou em doses significativamente superiores às recomendadas para uso em campo, sugerindo um baixo risco da formulação comercial da flumioxazina para o meio terrestre. Foram realizados testes de toxicidade com modelos aquáticos, incluindo uma microalga verde (Raphidocelis subcapitata) e dois organismos zooplanctônicos (Ceriodaphnia silvestrii e Daphnia magna). Os resultados revelaram que a microalga apresentou alta sensibilidade ao herbicida, manifestando fitotoxicidade a partir de 2,726 µg L-1 e acumulando carboidratos em resposta à presença da flumioxazina. Os cladóceros também foram negativamente afetados pelo herbicida, tanto em exposição aguda quanto crônica. Foram observados a inibição da imobilidade em ambas as espécies nos ensaios agudos a partir da dose de 47,2 mg L-1 e, na exposição crônica, C. silvestrii apresentou inibição da imobilidade e reprodução, a partir de 3,5 mg de flumioxazina L-1. As taxas de filtração e ingestão indicaram respostas espécie-específicas, onde D. magna reduziu a filtração do alimento e, C. silvestrii aumentou a ingestão. A exposição crônica via alimentação de D. magna as microalgas contaminadas demonstraram uma inibição de 100% na produção de ovos e, por conseguinte, na sua capacidade de reprodução. A toxicidade do herbicida também reduziu a expectativa de vida de D. magna em 13 dias, além de interferir no desenvolvimento do organismo, causando atrasos entre os estágios de vida. Diferentemente das conclusões finais obtidas para os modelos vegetais, a flumioxazina no ambiente aquático pode ser considerada de alto risco ambiental. Assim, concluímos que enquanto a baixa toxicidade no meio terrestre pode sugerir uma relativa segurança para os organismos terrestres, a alta toxicidade no ambiente aquático destaca a vulnerabilidade dos ecossistemas aquáticos e a necessidade urgente de medidas de mitigação e regulamentação para proteger esses sistemas vitais.