CARACTERIZAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA PLATAFORMIZADOS
Cooperativismo de plataforma, empreendimentos de economia solidária, plataformas digitais, precarização do trabalho.
Empresas de grande porte têm utilizado plataformas digitais como meio para externalizar seus custos de produção e estabelecer rigorosos mecanismos de controle sob sua força de trabalho, sem ofertar transparência nos mecanismos de precificação dos serviços e remuneração dos colaboradores. Tal prática vem gerando críticas sobretudo em virtude da precarização do trabalho que se exacerba. Nesse compasso, o ideário do cooperativismo ressurge como alternativa para viabilizar negócios digitais democráticos e oferecidos pelos próprios prestadores de serviços. Historicamente, essa forma de organização social tem permitido a gestão do trabalho pelos próprios trabalhadores com distribuição de renda e desenvolvimento regional, em diferentes partes do mundo. Essa capacidade pode vir a ser ampliada pela difusão do cooperativismo de plataforma como mecanismo capaz de consorciar diferentes cooperativas mediadas pela utilização de plataformas digitais. No Brasil, o cooperativismo de plataforma é incipiente e possui peculiaridades ligadas ao mercado de trabalho marcadamente informal, além de uma construção cooperativista dual. Foram realizadas pesquisa bibliográfica integrativa e bibliométrica, em que foram selecionados 20 artigos em busca na Web of Science e Portal de Periódicos da CAPES divididos em quatro categorias de análise, bem como se constatou que se trata de temática de característica multidisciplinar e recente já que grande parte da produção acadêmica despontou entre 2018 e 2020. Este trabalho também mapeou cooperativas e empreendimentos de economia solidária plataformizados existentes no Brasil, constituídos por trabalhadores cuja precarização se exacerbou com as plataformas digitais, além de analisar as postagens em redes sociais de grupos selecionados. A investigação foi realizada na rede de internet e redes sociais, e os grupos encontrados foram divididos em quatro categorias, mobilidade urbana, entregadores de mercadorias, diaristas e rede de apoio, com vistas a facilitar a elaboração de novos estudos e formulação de políticas públicas. Constatou-se que a maior parte das iniciativas se concentra na região Sudeste, que sua emergência ocorreu no contexto urbano e que os grupos escolhidos na categoria entregadores de mercadoria e rede de apoio apresentam postagens nas redes mais consentâneas com os princípios a economia solidária e categorias de análise da cidadania deliberativa. Além disso, grupos mais vulneráveis utilizam o aplicativo de telefone whatsapp para gerenciar o trabalho e contatar clientes, o que serviu de inspiração para elaboração de uma cartilha de constituição de um empreendimento de economia solidária plataformizado para distribuição em comunidades carentes e economicamente vulneráveis. Os resultados indicam a necessidade de um novo mapeamento da economia solidária no Brasil que inclua as iniciativas plataformizadas, bem como sua investigação nas redes sociais para formulação de políticas públicas. Sugere-se, ainda, que tais políticas levem em consideração a informalidade do mercado de trabalho brasileiro.