REOLOGIA DE PASTAS DE REJEITO DE MINERAÇÃO E LIGNINA KRAFT VISANDO A PRODUÇÃO DE ADOBES
Reômetro extrusor, materiais sustentáveis, tijolo de terra crua, bagaço de cana, estabilização química
O trabalho visa compreender melhor o comportamento reológico de pastas de rejeito de mineração estabilizadas com lignina Kraft e partículas de bagaço de cana, visando um futuro processo de extrusão para confecção de adobes. Sabe-se que o tijolo de adobe é um material com um grande potencial construtivo, pois além de não ser submetido à queima e não utilizar cimento (resultando em geração mínima de poluição e baixo consumo energético na sua manufatura), possui vantagens como boas propriedades térmicas, absorção e liberação de umidade e fácil re-incorporação na natureza. Levando em conta que a terra é um material abundante, os tijolos de adobe são materiais construtivos sustentáveis. A depender do tipo de solo utilizado, pode ser importante fazer sua “estabilização”, que de acordo com a NBR 16814 – “Adobe, requisitos e métodos de ensaio”, consiste na incorporação, no processo de fabricação, de um ou mais tipos de estabilizantes, a fim de melhorar suas características físicas e/ou mecânicas.
Um aspecto relevante desse material é sua suscetibilidade a água, sendo interessante a adição de material hidrofóbico para melhorar suas propriedades físicas e dimensionais (retração). Nesse contexto, o uso da lignina Kraft, material de descarte da indústria de produção de papel, obtida através do processo Kraft de extração, pode atribuir ao tijolo propriedades interessantes. A lignina é encontrada na natureza como um aglutinante natural de fibras, sendo uma macromolécula que confere rigidez, resistência a compressão e de caráter hidrofóbico. Ela foi doada pela empresa Suzano, na forma de um pó fino de coloração marrom. Espera-se que ela atue na diminuição da absorção de água e promova melhorias na reologia e nas propriedades mecânicas.
A literatura já demonstrou que a adição de fibras lignocelulósicas em compósitos aumenta sua ductibilidade, tornando-o um material menos frágil. Corrêa (2013) introduziu partículas de bagaço de cana em adobes e percebeu que a adição de 6% de partículas promoveu uma melhoria significativa na resistência à compressão.
O rejeito de mineração foi proveniente da barragem do Fundão, locada no município de Mariana-MG. Sua caracterização consiste em determinar a composição granulométrica do rejeito/solo, verificar os limites de consistência e o DRX na fração argila da amostra, seguindo o procedimento de Resende et al. (1985), a fim de identificar e caracterizar a estrutura cristalina do solo. Com relação a lignina Kraft, ela será caracterizada através do FTIR, para a identificação dos grupos químicos e MEV, para a obtenção de informações de tamanho e forma permitindo a avaliação futura da sua disseminação na matriz. Para a caracterização das partículas de bagaço de cana, será analisada sua densidade e composição química, pelos métodos descritos por Corrêa (2013). Serão confeccionados 6 tratamentos de pastas, todas com adição de 6% de partícula de bagaço de cana, variando-se as porcentagens de adição de lignina Kraft: 0; 0,5%; 1,0%; 2,0%, 4,0% e 8,0%. Após confeccionadas, as pastas serão avaliadas quanto às suas propriedades reológicas, que são de extrema importância para o êxito do processo produtivo por extrusão, podendo evitar falhas no produto e desgaste excessivo da extrusora.
Através de um reômetro extrusor, equipamento que descreve o fluxo de pasta durante a extrusão, serão realizadas leituras de tensão de cisalhamento resultante, tendo como resposta a tensão de escoamento inicial e a viscosidade. Com isso, espera-se ser possível definir o teor de umidade ideal para mistura e a influência dos estabilizantes na mesma. Por fim, essas pastas serão colocadas em moldes retangulares e, após o processo de cura, serão encaminhadas para testes de absorção de água, capilaridade e compressão.