Estudo das propriedades físicas e mecânicas de biocompósito de adobe com inserção de micélio para aplicações sustentáveis
Tijolo Ecológico, Micélio, Biomaterial, Compósitos, Sustentabilidade na construção.
A redução dos recursos naturais disponíveis impõe um desafio crescente à construção civil, que precisa encontrar soluções sustentáveis sem comprometer a eficiência estrutural. Nesse cenário, materiais à base de micélio têm ganhado destaque como alternativa inovadora. Embora existam obstáculos, como a necessidade de padronização e estudos sobre durabilidade, os benefícios justificam sua adoção. O micélio é cultivado a partir de resíduos orgânicos, o que diminui a dependência de matérias-primas não renováveis e favorece práticas de economia circular. Sua utilização pode reduzir significativamente as emissões de carbono em comparação ao concreto, além de demandar menos energia no processo produtivo. Além disso, sua produção aproveita insumos de baixo custo e resíduos agrícolas, o que reduz gastos e estimula cadeias produtivas locais. Assim, incorporar compósitos de micélio na construção civil contribui para mitigar impactos ambientais e, ao mesmo tempo, oferece vantagens competitivas para o setor. O objetivo do trabalho é desenvolver e validar compósitos/adobes à base de micélio da espécie Pleurotus ostreatus para aplicação na construção civil, assegurando propriedades mecânicas adequadas e durabilidade, com foco na redução da pegada de carbono e no aproveitamento de resíduos orgânicos. A otimização do processo de cultivo do micro-organismo também se enquadram no escopo da pesquisa. O micélio será cultivado em substratos lignocelulósicos, como casca de arroz e serragem, previamente higienizados e esterilizados. Sua produção, em condições controladas de temperatura (20–28 °C) e umidade (60–70%), até completa colonização, ocorrerá no Laboratório de Genética de Fungos. A produção de compósitos utilizará corpos de prova confeccionados em moldes metálicos com dimensões de (8 × 8 × 8) cm, utilizando quatro tratamentos com cinco repetições: controle (TC), caldo de batata (TCB), 2% de micélio (TM2) e 5% de micélio (TM5). Para comparação, também serão produzidos adobes de (8 × 18 × 38) cm, conforme a ABNT NBR 16814:2020. As análises do solo, incluindo limites de liquidez, plasticidade e contração, seguirão a norma DNER-ME 082/94, enquanto a granulometria será determinada pelo método da pipeta (EMBRAPA). Já os ensaios físicos e mecânicos serão realizados no Laboratório de Construção Civil da UFLA. Os testes de absorção de água por ascensão capilar e imersão, seguirão adaptações da ABNT NBR 15270-2:2023. A resistência à compressão será avaliada conforme a ABNT NBR 16814:2020. Os resultados preliminares indicam que o solo analisado apresenta 62% de areia, 13% de silte e 25% de argila, sendo classificado como franco-argiloso arenoso. Os ensaios de limites de plasticidade (20,92%) e liquidez (29,45%) resultaram em índice de plasticidade de 8,53% e limite de contração de 17,53%, valores compatíveis com os parâmetros descritos na literatura para produção de adobes de qualidade, que recomendam teor de argila entre 20% e 30% e índice inferior a 15%. Essas características confirmam a viabilidade do solo para blocos de terra crua, garantindo estabilidade e resistência adequadas. Além disso, a adoção de adobes contribui para reduzir emissões de CO₂ e consumo energético, por dispensar processos de queima, alinhando-se às práticas sustentáveis e às metas globais de descarbonização.