ASPECTOS DEMOGRÁFICOS, CLÍNICOS, HEMATOLÓGICOS E SOROPREVALÊNCIA DE Anaplasma phagocytophilum EM CÃES DE UM ABRIGO NO MUNICÍPIO DE LAVRAS, MINAS GERAIS
Cães, zoonose, saúde pública, abrigo de animais, anaplasmose canina, epidemiologia.
Os cães são muito importantes para a sociedade do ponto de vista afetivo, social e epidemiológico. Apesar disso, aumentam os casos de maus-tratos e abandono de animais de estimação nas ruas, situação que afeta negativamente o próprio animal e a saúde pública. Dentre as doenças com potencial zoonótico que acometem os cães, está a anaplasmose granulocítica, causada pelo Anaplasma phagocytophilum. Dada a escassez de estudos da anaplasmose granulocítica no Brasil, o objetivo deste estudo foi analisar os aspectos demográficos, clínicos e hematológicos da população canina de um abrigo localizado no município de Lavras, Minas Gerais, Brasil, bem como determinar a soroprevalência de A. phagocytophilum e seu perfil clínico-hematológico nesta população. Todos os animais residentes no abrigo foram identificados com microchips e avaliados clinicamente por médicos veterinários em formulários próprios com os dados demográficos e clínicos. Foram coletadas amostras de sangue total e soro de 329 cães nos meses de julho a agosto de 2019 e de 310 cães entre janeiro e fevereiro de 2020. As amostras clínicas foram utilizadas para hemograma (dados hematológicos) e investigação de anticorpos anti-A. phagocytophilum por meio da Reação de Imunofluorescência Indireta, esta apenas para amostras da primeira amostragem. As variáveis qualitativas foram analisadas a partir da distribuição de frequências e tabelas de contingência e para todas as variáveis quantitativas foram determinadas a média, desvio padrão, mediana e intervalo interquartil, além de sua categorização. Soros reativos com títulos ≥ 40 foram considerados positivos para Anaplasma spp., enquanto soros reagentes com títulos ≥ 320 foram considerados positivos para A. phagocytophilum. Os resultados mostraram que grande parte dos cães do abrigo eram sem raça definida, sendo todos vacinados com anti-rábica e múltipla [100% (319,50)], vermifugados [100% (319,50)] e a maioria castrados [98,59% (315,00)], com o predomínio de animais adultos [86,51% (276,00)], pelo curto [67,51% (216,00)], condição corporal normal [65,57% (209,50)], porte médio [62,57% (200,50)] e fêmeas [62,36% (199,50)]. As principais alterações clínicas verificadas foram cães com linfadenomegalia [38,69% (124,00)], lesão de pele [31,50% (101,00)], sobrepeso - gordos [23,32% (74,50)] e obesos [6,07% (19,50)], aumento da temperatura [17,05% (55,00)] e presença de secreção auricular [15,72% (49,50)]. Em relação às alterações hematológicas, foram observadas trombocitopenia [36,31% (99,00)], leucopenia [15,92% (51,00)], anemia com diminuição dos valores de hemoglobina [10,60% (34,00)], hematócrito [9,70% (31,00)], hemácias [5,14% (16,50)]. A avaliação sorológica detectou 40,12% (132/329) (IC95%: 34,78% - 45,64%) dos animais reativos com título ≥ 40 e 4,56% (15/329) (IC95%: 2,57% - 7,41%) com título ≥ 320, determinando as soroprevalências de anticorpos anti-Anaplasma spp. e anti-A. phagocytophilum na população canina do abrigo, respectivamente. Em conclusão, a maior parte da população canina do abrigo estava aparentemente saudável, mas uma parcela significativa apresentou sobrepeso, lesão de pele, alterações clínicas e hematológicas que apontam para a necessidade de mudanças no manejo em saúde dos aspectos verificados, principalmente no diagnóstico precoce de doenças. Foi observado ainda a existência de poucos animais soropositivos para A. phagocytophilum, mas o que sugere a circulação do agente entre eles e demonstra a importância dos cães como sentinelas para a vigilância em saúde.