AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE GESTANTES ATENDIDAS NA REDE PÚBLICA DE SAÚDE
Gravidez. Vigilância Nutricional. Saúde Pública.
A gestação é caracterizada por um período de intensas alterações fisiológicas, metabólicas e endócrinas, constituindo-se, assim, em momento de maior vulnerabilidade. Na área da Saúde, as famílias beneficiárias pelo Programa Bolsa Família assumem compromisso com o bem-estar de gestantes com o acompanhamento adequado de seus cuidados de saúde. No entanto para garantir a eficácia de tal benefício e verificar se o direito à alimentação adequada está de fato assegurado, é importante que a situação nutricional das gestantes atendidas seja avaliada. A insegurança alimentar e nutricional (IAN) é um fator de risco importante que pode ter implicações diretas na saúde do binômio mãe-filho. Os efeitos da insegurança alimentar e nutricional nas condições de saúde e nutrição maternas ainda são pouco investigados. Face a isso, torna-se pertinente discutir e planejar ações de segurança alimentar e nutricional articuladas à política de cuidado integral da gestante. O objetivo foi avaliar a IAN e fatores associados em gestantes atendidas na rede pública de saúde. Estudo quantitativo de corte transversal com gestantes assistidas nas Unidades de Saúde da Família de um município de Minas Gerais. Questionários estruturados com informações socioeconômicas, obstétrica e nutricionais foram aplicados. A IAN foi avaliada utilizando-se a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Para o diagnóstico do estado antropométrico calculou-se o Índice de Massa Corporal de acordo com a semana gestacional e o consumo alimentar foi avaliado através dos marcadores de consumo alimentar do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Para identificar os fatores associados a insegurança alimentar em gestantes, realizou-se análise de regressão logística univariada e múltipla hierarquizada, estimando-se as razões de odds (e respectivos intervalos de confiança de 95%) brutas e ajustadas para potenciais fatores de confusão, com nível de significância de 5%. Participaram do estudo 177 gestantes, 29,4% beneficiárias do Programa Bolsa Família, 47,5% estavam com algum grau de insegurança alimentar e 48% com excesso de peso. Na análise múltipla, permaneceram associadas à insegurança alimentar e nutricional as gestantes que eram beneficiárias do Programa Bolsa Família [OR: 2,62; IC: 1,21-5,69], ser de cor preta e parda [OR: 1,40; IC: 0,68-2,90], ter renda inferior a dois salários mínimos (p=0,000 [OR: 4,4; IC: 1,14-16,93]) e ter a mulher como responsável pelo sustento da família (p=0,015 [OR: 2,19; IC: 1,20-4,03]). Observou-se diferenças estatisticamente significativas no consumo de ovos (p=0,005 [OR: 2,615; IC: 1,13-5,20]), em que as gestantes em insegurança alimentar e nutricional fizeram um consumo maior desse alimento. O consumo de pão doce também foi diferente entre os grupos (p=0,016 [OR: 0,365; IC: 0,15-0,84]) e de doces (p=0,019 [OR: 0,389; IC: 0,17-0,87]) sendo maior o consumo nas gestantes em segurança alimentar e nutricional. Os achados do estudo destacaram a necessidade de ações de responsabilidade social e políticas públicas como garantia da segurança alimentar e nutricional das gestantes que utilizam desse programa social. Ainda, espera-se que tais resultados contribuam para auxiliar aos profissionais de saúde a estruturarem de forma mais eficaz serviços e programas voltados para a saúde materno-infantil, envolvendo ações de prevenção e promoção da saúde.