INSEGURANÇA ALIMENTAR E ANEMIA FERROPRIVA: DUAS CONDIÇÕES QUE COMPROMETEM O CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
anemia ferropriva; insegurança alimentar; programas e políticas de alimentação e nutrição; saúde da criança.
A segurança alimentar é um direito humano fundamental e sua violação representa um fator de risco significativo para o crescimento e o desenvolvimento infantil, comprometendo diretamente o estado nutricional e o perfil sérico de micronutrientes. Entre as carências nutricionais, a anemia ferropriva destaca-se como a mais comum, sobretudo entre gestantes e crianças. O objetivo do estudo foi verificar a relação entre o risco de insegurança alimentar dos domicílios e a presença de anemia ferropriva nas crianças menores de cinco anos no município de Lavras – MG. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, com delineamento transversal vinculado ao projeto "Avaliação da efetividade da política pública de segurança alimentar e nutricional no sul de Minas Gerais: um estudo de caso do Banco Municipal de Alimentos". A amostra foi composta por 72 famílias com 105 crianças menores de cinco anos de ambos os sexos, sendo coletados dados socioeconômicos, o consumo alimentar do dia anterior, estado nutricional (peso e altura), níveis de hemoglobina e risco de insegurança alimentar, avaliado por meio da Triagem de Risco para Insegurança Alimentar (TRIA). O estado nutricional infantil foi avaliado, por meio das medidas peso e altura, utilizando-se os pontos de corte da Organização Mundial de Saúde e analisado no software WHO Anthro. Para a dosagem de hemoglobina, foram coletadas amostras de sangue capilar da polpa digital e analisadas in loco com hemoglobinômetro portátil (Hemocue®). As análises estatísticas foram realizadas no software Jamovi (v2.3), com aplicação dos testes qui-quadrado e exato de Fisher. A prevalência de anemia foi de 41,9%, sendo 21,9% leve e 19% moderada. O risco de insegurança alimentar moderada ou grave foi identificado em 86,1% dos domicílios e esteve associado à menor renda familiar (p = 0,021) e ao aumento do consumo alimentar após o recebimento da Cesta Verde (p = 0,020). Embora não tenha havido associação entre insegurança alimentar e níveis de hemoglobina (p = 0,801), observou-se que famílias em risco consumiram menos verduras (p = 0,039), frango (p = 0,027) e mais guloseimas (p < 0,01). Além disso, a presença de anemia ferropriva foi significativamente maior entre crianças que consumiram alimentos ultraprocessados no dia anterior à entrevista, como petit suisse (p = 0,002), salgadinhos (p = 0,023), sorvete (p = 0,022), salgado frito (p < 0,001) e pipoca salgada (p = 0,041). Em contrapartida, o consumo de azeite esteve associado à menor prevalência de anemia (p = 0,019). Os achados reforçam a necessidade de políticas públicas intersetoriais voltadas à promoção da alimentação saudável e da soberania alimentar para populações em situação de vulnerabilidade.