A Construção do ethos de Mulheres Negras na Política: um olhar sobre perfis no Instagram de Benedita da Silva (PT) e Érika Hilton (PSOL)
Ethos. Mulheres Negras. Representatividade. Análise Do Discurso. Instagram.
A participação ativa de mulheres negras no cenário sociopolítico brasileiro é um fenômeno de alta relevância, exigindo uma investigação que aborde a interseccionalidade entre gênero, raça e classe. A histórica falta de visibilidade e voz desse grupo, agravada pelo viés midiático, ressalta a urgência de desvendar as dinâmicas sociais contemporâneas. Dados da Pesquisa Gênero e Raça nas Eleições de 2022, realizada pelo Observatório Nacional da Mulher na Política (ONMP), revelam que a taxa de sucesso das candidaturas de mulheres negras foi de apenas 5,65% nas eleições de 2022, em contraste com 11,31% e 60,62% para mulheres e homens brancos, respectivamente (ONMP, 2022). Esse cenário evidencia não apenas a sub-representação política, mas também barreiras estruturais que dificultam a participação plena das mulheres negras, como destaca Gonzalez (2020, p. 64), “ser negra e mulher no Brasil [...] é ser objeto de tripla discriminação, uma vez que os estereótipos gerados pelo racismo e pelo sexismo a colocam no nível mais alto de opressão”.
Esta pesquisa analisa a construção do ethos político de Benedita da Silva (PT) e Érika Hilton (PSOL), com foco nas estratégias discursivas e nos posicionamentos expressos em postagens no Instagram durante o período eleitoral de setembro de 2022. A investigação segue uma abordagem qualitativa, conforme proposta por Minayo (2012), considerando os elementos subjetivos presentes nas interações digitais. Inicialmente, realizamos uma descrição das formas como as deputadas se apresentam em seus perfis, destacando a autodeclaração como mulheres negras, aspecto central em seus discursos. Em seguida, observamos todas as postagens realizadas durante o mês de setembro de 2022, totalizando 224, das quais foram selecionadas 6 com base em critérios como relevância temática, engajamento e clareza na expressão de posicionamentos políticos.
As investigações centram-se nas estratégias discursivas que desafiam estereótipos e promovem a representatividade, avaliando sua eficácia em alterar representações sociais. Em consonância com os aportes teóricos de Dominique Maingueneau (2008a; 2008b; 2015; 2018; 2020; 2023), examinamos a relação entre a estruturação dos discursos e os contextos que os possibilitam. Além disso, discutimos a sub-representação das mulheres negras em cargos de poder e o papel que as eleitas desempenham na transformação desse quadro. A análise das postagens revela a importância de vozes como as de Benedita da Silva (PT) e Érika Hilton (PSOL) na luta por direitos e representatividade. Como salienta Angela Davis (2017), “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.
Entre os temas mais recorrentes encontrados em suas postagens, destacam-se segurança alimentar, direitos das mulheres, combate ao racismo e direitos LGBTQIA+. Também foram examinadas as estratégias de comunicação utilizadas para mobilizar o eleitorado, como a participação em eventos, a filiação partidária e a defesa de pautas específicas. Cada postagem selecionada foi contextualizada com informações como data, legenda e imagens. Por fim, discutimos como essas construções discursivas e visuais contribuem para a formação de novas representações sobre mulheres negras na política brasileira, questionando estereótipos e ampliando os imaginários sociais sobre sua presença nos espaços de poder.