Desnaturalizando significados sociais hegemônicos: articulações entre a psicologia soviética e a educação ambiental crítica nos anos iniciais do ensino fundamental
Educação decolonial; consciência; eurocentrismo
Para a psicologia soviética, a formação social da consciência se dá em unidade com a atividade. Uma vez que a consciência individual se constrói a partir da internalização das práticas sociais e do sistema de significações de um dado modo de produção, Leontiev (2004, p.101) assevera que o ser humano pensa e percebe o mundo “armado e limitado pelas representações e conhecimentos de sua época e momento histórico”. Na sociabilidade capitalista, os significados sociais que interpretam a realidade na consciência dos sujeitos conformam a ideologia burguesa. Destarte, a estrutura curricular eurocêntrica das escolas brasileiras se configura em um instrumento de cooptação das consciências pelo sistema de significados sociais hegemônicos que eternizam a ordem social capitalista. Esse processo obstaculiza a educação ambiental crítica ao apresentar as formas sociais burguesas, tais como a apropriação privada da terra e a destruição socioambiental, como inerentes às relações humanas. De acordo com Leontiev (2021, p.174), para superarmos o falseamento da representação burguesa do real é necessário “que se realize na consciência do indivíduo uma transformação dos sentidos pessoais subjetivos em outros significados, adequados a ele (...) no contexto da luta pela consciência que ocorre na sociedade”. É importante explicitar, aos leitores não familiarizados com a psicologia histórico-cultural, que Leontiev não defende a desconstrução idealista dos significados dominantes, como na tradição derridiana, mas sim a crítica materialista histórico-dialética das representações sociais que emergem das relações de produção capitalistas. Por conseguinte, a pesquisa em tela visa construir práticas pedagógicas voltadas para a educação ambiental crítica nos primeiros anos do ensino fundamental que abordem os modos de vida dos povos originários, no intuito de desnaturalizar a relação predatória do ser humano com a natureza e a apropriação privada dos meios de produção e subsistência. Será adotada a metodologia de pesquisa-ação, que permite a articulação entre teoria e prática, engajando professora-pesquisadora e crianças em um processo colaborativo de investigação e intervenção pedagógica. As etapas da pesquisa incluirão planejamento, ação e avaliação. Serão realizadas atividades que permitam avaliar as mudanças na compreensão das crianças sobre os diversos modos de organizar a produção e a reprodução da vida material.