PARA ALÉM DOS FANTASMAS: O RAPTO DE PAULO E OS LIMITES DO CONHECIMENTO HUMANO NA SUMA TEOLÓGICA DE TOMÁS DE AQUINO
conversão aos fantasmas; limites do conhecimento; rapto; intelecto; imaginação.
Tomás de Aquino afirma que não é possível ao intelecto humano inteligir em ato, no estado da vida presente, sem voltar-se para as fantasias. Esta tese, da necessidade da convertio ad phantasmata, é enunciada e defendida na Prima Pars da Suma de Teologia e tem consequências importantes para as limitações do conhecimento humano na filosofia de Tomás. De fato, se todo ato intelectivo se dá por uma referência às fantasias abstraídas da experiência sensível, nosso conhecimento daquilo que é puramente inteligível só se dará do mesmo modo. Conhecemos os imateriais apenas de maneira indireta, por meio das coisas materiais. A tese da necessidade da convertio, portanto, estabelece limites rígidos ao nosso conhecimento no estado da vida presente. Apesar disto, Paulo pôde afirmar em sua Carta aos Coríntios que viu “o terceiro céu”, o que entende a tradição, e também Tomás na Secunda Secundae, que o Apóstolo teve uma visão essencial de Deus. Assim como Moisés, Paulo foi arrebatado à visão da divina essência, a qual, porém, não pode dar-se por mediação alguma, fantasias aí incluídas. O objetivo do presente estudo foi compreender como Tomás explica o rapto de Paulo, isto é, uma visão direta da essência de Deus tendo em vista a necessidade do intelecto de inteligir convertendo-se às fantasias no estado da vida presente. Para este fim, apresentamos a tese da necessidade da convertio, aprofundamos seus fundamentos e consequências; analisamos os principais artigos da questão acerca do rapto de espírito; e, por fim, tratamos de os relacionar.