O CUIDADO DE SI NA HERMENÊUTICA DO SUJEITO DE MICHEL FOUCAULT
Cuidado de si, Foucault, Hermenêutica, sujeito
Essa dissertação com o título de “O Cuidado de si na Hermenêutica do Sujeito de Michel Foucault”, tem como objeto de pesquisa o cuidado de si na obra de Michel Foucault. Partindo da ideia de que a noção de cuidado de si é uma das mais relevantes para o entendimento das relações entre o sujeito e uma construção moral de si mesmo, assim apresenta-se uma análise aprofundada do conceito tal como desenvolvido pelo filósofo francês. A Hermenêutica do sujeito em Michel Foucault representa uma abordagem complexa e crítica sobre como os indivíduos se constituem como sujeitos no interior das práticas de saber ao longo da história. Foucault propõe uma reflexão profunda sobre a maneira como as formas de subjetividade são construídas, não de maneira natural ou essencial, mas como efeitos de relações históricas. A partir dessa perspectiva, ele examina as práticas de autoconhecimento e de cuidado de si “epiméleia heautoû (ἐπιμέλεια ἑαυτοῦ) ”, revelando como os sujeitos são moldados e moldam a si mesmos por meio dessas práticas. Diferentemente da tradição filosófica que associa a subjetividade à consciência ou à liberdade individual, Foucault enfoca a constituição do sujeito de maneira mais relacional e contextual, ligada a regimes que operam através de normas, discursos e práticas. Ele revisita o conceito de "sujeito" a partir de uma genealogia, no qual as práticas de autoconhecimento e a busca pela verdade não são vistas apenas como processos internos ou reflexivos, mas como resultados de regimes históricos de saber e normas sociais que determinam o que é possível dizer sobre o "eu" e o que é considerado verdadeiro ou falso. A "hermenêutica do sujeito" em Foucault não se limita à interpretação dos textos ou ao método de leitura filosófica, mas se expande para uma análise das práticas através das quais os indivíduos se constituem como sujeitos de sua própria existência. A ideia de cuidado de si (cura sui) e da práxis de autoconhecimento se tornam centrais para a sua análise, especialmente quando ele recorre aos antigos filósofos gregos, como Sócrates, e aos pensadores da Antiguidade Tardia, como os estoicos, para discutir como o sujeito busca compreender a si mesmo e como isso se liga a formas governamentalidade. Foucault argumenta que, ao longo da história, os sujeitos passaram a se ver não apenas como indivíduos com uma identidade própria, mas como objetos de conhecimento e, simultaneamente, como sujeitos ativos na construção do saber sobre si mesmos. Isso ocorre, em grande parte, por meio da relação com os discursos e práticas que, desde a Idade Média até o período moderno, e das instituições sociais. O sujeito não é apenas um centro de percepção, mas também uma construção que é governada e normatizada por essas práticas. Uma das inovações fundamentais de Foucault é a sua crítica à forma como as práticas de subjetivação e de autoconhecimento se misturam com processos de normalização e controle social. O que ele vê como sendo uma característica essencial da modernidade é, onde as instituições e os discursos tornam-se os meios pelos quais os indivíduos aprendem a se governar a partir de um sistema de normas internalizadas. Ao mesmo tempo, a hermenêutica do sujeito também é um espaço potencial de resistência, uma vez que a crítica das formas de saber pode levar os indivíduos a uma reconfiguração da maneira como se veem e se posicionam no mundo. A partir dessa análise, Foucault propõe que a liberdade do sujeito não reside em uma autonomia abstrata ou em uma verdade interior imutável, mas em um processo dinâmico e contido em práticas de resistências aos discursos dominantes. Ele vê o sujeito como produto de uma rede, mas também como um espaço de intervenção e transformação, onde é possível subverter as normas e reconfigurar as práticas de subjetivação. Para ele, a liberdade não seria a liberação do sujeito de uma condição opressiva, mas a invenção de novas formas de ser e de se compreender, num movimento constante de autoformação e autoquestionamento. Assim, a hermenêutica do sujeito em Foucault é uma ferramenta que nos permite entender como as subjetividades se constroem e se modificam dentro de um campo de saber e conhecimento, iluminando a interdependência entre a constituição do sujeito e as práticas sociais que o governam. Ao deslocar a análise do sujeito de uma abordagem essencialista para uma abordagem histórica e relacional, Foucault nos oferece uma forma radicalmente nova de compreender tanto o sujeito quanto as possibilidades de sua liberdade