A RELAÇÃO ENTRE VONTADE E INTELECTO NA PRIMA PARS (QQ. 82 E 83) E PRIMA SECUNDAE (QQ. 6-17) DA SUMA DE TEOLOGIA DE TOMÁS DE AQUINO
Intelectualismo. Voluntarismo. Ética. Ações humanas.
O presente trabalho tem por objetivo realizar uma análise da relação entre intelecto e
vontade na Suma de Teologia de Tomás de Aquino, percorrendo tanto a apresentação da Prima
Pars quanto a da Prima Secundae. Sobre isso, surgem algumas dificuldades quanto à sua
interpretação. O primeiro problema encontra-se na tradição interpretativa, que indica uma
mudança na teoria tomista, marcada pela condenação de 1270. Neste sentido, existiriam
diferenças significativas entre as duas partes, em que a Prima Pars estaria mais próxima de
Aristóteles e a Prima Secundae se distanciaria do Estagirita, propondo uma leitura mais de
acordo com uma liberdade da vontade. O segundo problema tem relação direta com o primeiro:
a teoria do Doutor Angélico seria mais voluntarista (isto é, teria a vontade como senhora de
seus atos) ou mais intelectualista (ou seja, o intelecto seria o centro da estrutura das ações
humanas, comandando a vontade e restringindo sua liberdade). A hipótese deste trabalho é a
seguinte: primeiramente, não há mudanças significativas entre a Prima Pars e a Prima
Secundae, existindo na segunda, entretanto, uma expansão de conceitos que já apareciam na
primeira; segundo, é possível propor uma interpretação mais voluntarista da teoria tomista, no
entanto esse tipo de interpretação é bastante simplista e, por vezes, não dão conta da
complexidade do texto, em que se encontra forte indicação da imbricação dos atos da vontade
com os do intelecto, e vice-versa.