O problema da distinguibilidade do objeto: uma análise da proposição de número 2.0233 do Tractatus
Lógica, aplicação da lógica, Tractatus, Wittgenstein
Wittgenstein nos oferece na proposição 2.0233 do Tractatus uma espécie de enigma. Falar em objetos de um mesmo tipo lógico tem a ver com o quê? Com a lógica ou com a aplicação da lógica? Em 5.557 aprendemos que a aplicação da lógica decide sobre quais proposições elementares existem. O que pode querer dizer que só descobriremos de quantos tipos os objetos simples são, por exemplo, depois, com a aplicação da lógica. Qual a função de 2.0233? Como o aforismo nela registrado se relacionaria, em harmonia, com as demais proposições da obra? Será que a definição de um objeto logicamente simples desse tipo não implicaria a possibilidade de um outro do mesmo tipo? A indiscernibilidade nesse caso passaria a ter um caráter unitário, e essa incomunidade entre os objetos iguais, segundo a sua forma, seria porque eles “diferenciam-se um do outro apenas por serem diferentes”. Como medir o grau de “apoditicidade” da proposição de número 2.0233 dentro do Tractatus, que tem 2.02331 como seu apêndice? Isso envolve analisar se a ideia de “objetos simples do mesmo tipo lógico indiferenciáveis” se sustenta: seja por ser ela ser uma noção deduzível do restante da obra, e, portanto, algo que a lógica pode antecipar, ou seja por ela ser algo que surge, posteriormente, com a “aplicação da lógica” (5.557). A suposição da existência de objetos de um mesmo tipo lógico não enfraqueceria o conceito de “objeto”, que se define como coisa irredutível e simples? Dizer quantos são é algo diferente de dizer de quantos tipos são? Ou dizer de quantos tipos são é o mesmo que dizer quantos existem? Ora, estamos falando da própria substância do mundo. Se tivermos em vista 2.0233, 5.557 parece permitir-nos pensar algo de caráter essencial “depois” da lógica, com a sua aplicação. Este trabalho pretende urdir algumas interpretações sobre esse tópico e, por essa via, retomar o tema da coerência interna do Tractatus, que se pretendeu irrepreensível na época em foi escrito.