O conceito sistemático de gênio em Hegel
Hegel, Gênio, Criação artística. Fantasia, Entusiasmo
A dissertação detém-se na compreensão da genialidade e da criação artística na filosofia de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, adotando para isto um recorte em sua obra, que permite focar na passagem da leitura sistemática da Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio para a exposição nas aulas ministradas e posteriormente transcritas e editadas como a Estética. Introduz-se a figura do gênio como meio pelo qual a filosofia moderna discute a criação artística, para mostrar como as reflexões hegelianas se inserem nesse contexto. Tem-se como propósito, assim, a exposição da crítica de Hegel ao gênio romântico, visto como exaltação de um mero entusiasmo, que é insuficiente para compreender a figura do espírito criador artístico. Para Hegel, a chave é a atividade da fantasia, que avança das formas interiores em direção ao aspecto transformador da materialização das representações em formas exteriores. Se até então o gênio era a faculdade daquele dotado para a imaginação, um engenhoso quase ingênuo, Hegel integra a genialidade a um movimento necessário de criação artística, que vai do talento, da imaginação e do entusiasmo, à exposição objetiva da obra, efetivada em formas que são a exterioridade imanente de um conteúdo espiritual. O desafio do gênio é transpor um conteúdo fantasiado para uma forma exterior. Com base num exame da seção da Estética dedicada a O artista, mostrar-se-á que o gênio autêntico é aquele que lida facilmente com os aspectos externos da execução técnica, conduzindo as formas interiores da fantasia à materialização na obra de arte, ainda que lidando com os mais pobres e inadequados materiais. Tal operação manifesta-se como um trabalho que considera sensibilidade, fantasia e memória, ímpeto e particularidades, compenetrando as formas do espírito subjetivo com os conteúdos do espírito objetivo. A leitura proposta busca compreender a originalidade e a pertinência do conceito hegeliano de genialidade artística e comprovar a hipótese de que o aspecto positivo da fantasia não esgota o conceito de gênio, mas precisa ser complementado por um aspecto negativo, que concerne à necessária e desafiadora materialização das formas.