SOBREVIVENDO AO DESERTO: O IMPACTO DA SILVICULTURA NA DIVERSIDADE DE FORMIGAS
Myrmecofauna, Catalisadores de regeneração, Savana brasileira
O desmatamento é uma das maiores ameaças à manutenção da biodiversidade mundial e
representa uma preocupação de destaque global. Este tipo de alteração representa o impacto humano mais substancial no ecossistema. Dentre as causas do desmatamento tem destaque a silvicultura, que no Brasil ocupou cerca de 7,83 milhões de hectares em 2018, produzindo cerca de 91% da madeira utilizada na indústria local. Há um crescente debate na comunidade científica sobre as florestas plantadas, onde se discute principalmente se elas podem, ou não, ter seu valor na conservação da biodiversidade. De forma sumária, o debate ainda é polivalente e ainda carece de pesquisas mais detalhadas e conclusivas. A presente tese busca auxiliar na compreensão e elucidação de problemas relacionados ao potencial da utilização da silvicultura na conservação da biodiversidade. Portanto, o objetivo geral desta tese foi avaliar a eficiência das áreas de cultivo comercial de Eucalyptus spp. como áreas temporárias de abrigo da diversidade, por meio da análise de atributos das assembleias de formigas. Especificamente, buscou-se, utilizando as formigas como modelo, compreender: (1) como se dá a dinâmica temporal da riqueza e composição de espécies e de grupos funcionais de formigas em áreas de eucalipto de diferentes idades e em diferentes estágios de produção; (2) como se estabelece o efeito de borda em áreas de uma fitofisionomia florestal do Cerrado, o Cerradão e áreas convertidas em eucaliptais. No primeiro capítulo observamos que: o aumento da idade dos talhões não afetou os parâmetros analisados. Embora as áreas de eucaliptais em idade de pré-corte tenham apresentado menor riqueza de espécies do que as áreas naturais de Cerrado, as
áreas de eucaliptais em idade de corte não apresentaram diferença na riqueza de espécies com as áreas de pré-orte nem às das áreas naturais de Cerrado. Em relação à composição de espécies, as áreas de pré-corte e corte dos eucaliptais foram semelhantes entre si, porém diferiram das áreas naturais de Cerrado. No que diz respeito aos grupos funcionais, não houve diferença na riqueza e na composição entre as áreas. Nenhuma das variáveis respostas estudadas (locais, paisagem e proximidade) foram influenciadas pelas variáveis explicativas consideradas. No segundo capítulo observamos que a riqueza de espécies de formigas epigéicas das áreas de eucaliptais e de Cerrado não foram afetadas pela distância da borda. Somente a riqueza de formigas arborícolas das áreas de Cerrado apresentou relação negativa com a distância da borda. Para a composição, o único grupo que apresenta diferença de composição entre borda e interior são as formigas epigéicas em áreas de Cerrado. Formigas arborícolas de reserva de Cerrado, ou formigas arborícolas e epigéicas em eucaliptais apresentam composição da borda e interior semelhante. A riqueza de espécies de formigas arborícolas e epigéicas em áreas de eucaliptais e de Cerrado não tiveram relação com a cobertura de dossel. Nossos resultados, de maneira geral, explicitam o impacto de longo prazo da silvicultura de eucaliptais na biodiversidade, reduzindo a riqueza e alterando a composição de espécies, funcionando de certa forma como uma barreira impedindo a recuperação da biodiversidade.