Biogeografia de vespas solitárias (Hymenoptera, Vespidae, Eumeninae) das regiões Neotropical e Andina
áreas de endemismo; análise de endemicidade; dados genômicos; filogeografia; vespas.
Biogeografia é o estudo dos padrões distribucionais dos seres vivos e dos processos que determinam esses padrões. Esse campo multidisciplinar envolve diferentes abordagens teórico-metodológicas, que utilizam ferramentas de áreas como Sistemática, Ecologia, Genética de Populações, Geologia e Climatologia. Para grande maioria dos táxons existe um déficit de conhecimento biogeográfico que se traduz na ausência de registros de ocorrência catalogados para a maioria das espécies e também na inexistência de estudos formais descrevendo padrões biogeográficos para vários grupos de organismos. Nesse sentindo, a presente tese apresenta, em dois capítulos, estudos biogeográficos envolvendo um grupo de insetos ainda não investigado com cuidado pelas lentes da Biogeografia: as vespas solitárias construtoras de ninho de barro (Hymenoptera, Vespidae, Eumeninae) que ocorrem nas regiões Neotropical e Andina. No primeiro capítulo da tese, propõe-se identificar as áreas de endemismo (AoE) dos Eumeninae nas regiões Neotropical/Andina, utilizando como método a análise de endemicidade (EA), em diferentes escalas geográficas e com duas abordagens analíticas (explicitando ou não registros de ocorrência assumidos). A partir das AoE identificadas foram inferidas áreas consenso e a sobreposição dessas áreas em diferentes escalas resultou na determinação de componentes biogeográficos generalizados para os Eumeninae nas regiões Neotropical e Andina. Os seguintes componentes foram delimitados: (i) Antilhas (Ant); (ii) Mesoamérica (MsA); (iii) Istmo Panamenho (IstPn); (iv) Guianas (Guy); (v) Amazônia Central (AmC); (vi) Andes Norte (AnN); Andes Central (AnC); Andes Sul (AnS); e (vii) região Chaco-Paranaense (ChPa). Os componentes identificados foram discutidos e comparados com biorregionalizações propostas para outros grupos, ressaltando padrões congruentes. No segundo capítulo da tese, foi utilizada uma abordagem filogeográfica para determinar os padrões distribucionais da espécie Pachymenes ater (Hymenoptera, Vespidae, Eumeninae) na Floresta Atlântica. Foi extraído DNA genômico de amostras de P. ater, coletadas ao longo da distribuição da espécie. As amostras foram sequenciadas, buscando obter loci que correspondem a elementos ultraconservados do genoma (UCEs). Os loci capturados foram concatenados em uma única matriz; alinhados; e submetidos a uma análise filogenética utilizando como critério de otimalidade a máxima verossimilhança. A distribuição potencial de P. ater foi estimada por meio de modelagem de nicho ecológico (ENM) a partir dos registros de ocorrência da espécie presentes na literatura. A partir da árvore recuperada foi possível inferir o rio Doce como uma provável barreira geográfica dividindo duas populações de P. ater em sua distribuição na FA. Uma população foi identificada a norte do rio Doce, na região central da FA (CAF), e outra população ao sul do rio Doce (SAF). A população SAF não demonstrou estruturação geográfica e não verificamos evidências de barreiras geográficas que possam limitar a distribuição de P. ater abaixo do rio Doce tanto pela análise filogenética quanto pela ENM. Para o avanço nos estudos biogeográficos de Eumeninae, um maior esforço amostral é necessário em áreas como o nordeste e centro do Brasil. Além disso, estudos futuros devem buscar por uma integração dos dados geográficos com análises que garantam a datação de eventos de divergência das principais linhagens de Eumeninae, e a correlação entre esses eventos e processos biogeográficos.