EXPLORANDO O POTENCIAL DE DORU LUTEIPES (DERMAPTERA: FORFICULIDAE) COMO PREDADOR E SUA ATUAÇÃO SOBRE SPODOPTERA FRUGIPERDA
Tesourinha. Controle biológico. Lagarta-do-cartucho. Atividade predatória.
Doru luteipes (Scudder, 1876) (Dermaptera: Forficulidae) é o predador mais comumente observado em cultivos de milho no Brasil, presente nas principais regiões produtoras do grão. Na cultura, a tesourinha é considerada um importante inimigo natural de lepidópteros, como Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) e Helicoverpa zea (Boddie, 1850) (Lepidoptera: Noctuidae), dos quais se alimenta preferencialmente dos ovos e lagartas neonatas, e de diferentes espécies de afídeos. D. luteipes apresenta hábito onívoro, se alimentando do pólen do milho e de esporos de fungos, que possibilitam sua permanência na lavoura mesmo quando há baixa disponibilidade de presas. Várias pesquisas foram desenvolvidas nas últimas três décadas, explorando o potencial predatório desta tesourinha e avaliando a seletividade dos principais inseticidas utilizados no manejo de insetos-praga com ocorrência na cultura. Entretanto, as informações sobre seu papel como inimigo natural são ainda muito escassas e dispersas. Além disso, mesmo que a ocorrência de D. luteipes no campo esteja diretamente relacionada a redução populacional da lagarta-do-cartucho, vários aspectos de sua atuação predatória ainda não foram estudados. Neste trabalho, escrevemos um artigo de revisão objetivando agrupar as informações sobre a atuação da tesourinha como inimigo natural de pragas agrícolas e estimular o desenvolvimento de novos trabalhos. Investigamos aspectos da atuação de D. luteipes sobre S. frugiperda pouco explorados até então, como efeitos de não-consumo ou não-letais sobre mariposas, a preferência predatória entre ovos e neonatas, a resposta funcional sobre ovos e atração a voláteis de plantas infestadas por ovos e neonatas. Adicionalmente, avaliamos a atração da tesourinha a voláteis de a plantas de milho que sofreram herbivoria por Rhopalosiphum padi (Linnaeus, 1758) (Hemiptera: Aphididae), buscando analisar seu potencial na localização de afídeos no campo. Mariposas de S. frugiperda depositaram um menor número de ovos em plantas com a presença prévia da tesourinha, indicando que a ocorrência precoce deste predador no campo pode prejudicar a colonização da praga. A tesourinha prefere se alimentar de ovos da lagarta-do-cartucho, e machos e fêmeas apresentam uma resposta funcional tipo II, mas os machos apresentam melhor desempenho quando expostos a maiores densidades de ovos. Assim, machos e fêmeas de D. luteipes são hábeis na busca e consumo de sua presa preferencial e o aumento na densidade populacional de ambos seria favorável ao controle biológico de S. frugiperda. Fêmeas da tesourinha são fortemente atraídas por plantas danificadas por neonatas, entretanto, não se direcionam aos voláteis de plantas infestadas por adultos de R. padi. Estes achados agregam conhecimento sobre a atuação predatória de D. luteipes e expandem as perspectivas para futuros estudos visando favorecer a ocorrência e atuação deste notável inimigo natural.