BIOFORTIFICAÇÃO DE TRIGO E TRITICALE COM ZINCO E SELÊNIO COMO FERRAMENTA CONTRA A FOME OCULTA
Triticum aestivum; Deficiência nutricional; Desnutrição; Micronutrientes; Elementos benéficos.
A fome oculta afeta cerca de um terço da população mundial devido à deficiência de minerais e vitaminas, também em razão das características naturais dos solos (e.g. baixos teores de elementos essenciais e benéficos). A falta de difusão de conhecimento para os agricultores, pelo pouco incentivo de políticas públicas, aliado ao monocultivo intensivo, são fatores que reduzem a diversidade de nutrientes disponíveis na dieta, resultando em deficiências nutricionais que podem não ser imediatamente aparentes, mas que, a longo prazo, podem comprometer a saúde de grande parcela da população. Como resultado, culturas básicas (staple foods) cultivadas em países em desenvolvimento frequentemente apresentam deficiências de nutrientes e vitaminas essenciais ao bem-estar humano. O trigo, 3º cereal mais produzido no mundo, está na dieta de milhões de pessoas há milhares de anos, fornecendo cerca de 20% dos carboidratos e proteínas. Porém, os teores de zinco (Zn) e selênio (Se) nos grãos de trigo são geralmente baixos, o que nos leva à busca por estratégias para aumentar a concentração desses elementos. A biofortificação agronômica é uma das práticas mais utilizadas para essa finalidade, com diferentes estratégias (e.g. aplicação via solo, folha, tratamento de sementes, etc). Neste estudo, a estratégia para a biofortificação escolhida foi a aplicação foliar. Para tal, foram conduzidos dois experimentos em condições de campo, em três municípios de Minas Gerais (Lavras, Lambari e Itutinga). O primeiro experimento, com o objetivo de avaliar o efeito fenotípico da biofortificação com Se e Zn, foi montado em delineamento em blocos casualizados (DBC), em esquema fatorial 23 x 2, com quatro repetições, tendo como primeiro fator os genótipos de trigo e como segundo fator a não aplicação (controle) ou aplicação do coquetel Zn + Se (1% ZnSO47.H2O + 0,002% Na2SeO4), m/v, com vazão de 360 L ha-1. O segundo experimento, que objetivou avaliar um possível efeito sinérgico da biofortificação combinada desses elementos, foi montado em DBC, em esquema fatorial 4 x 4, com quatro repetições, sendo o primeiro fator os diferentes genótipos de trigo e o segundo fator as formas de aplicação dos elementos, sendo um controle sem aplicação, aplicação isolada de Se (0,002% Na2SeO4), aplicação isolada de Zn (1% ZnSO47.H2O) ou coquetel Zn + Se (1% ZnSO47.H2O + 0,002% Na2SeO4), m/v, com vazão de 500 L ha-1. Os resultados demonstraram que a aplicação conjunta de Zn e Se foi sinérgica, visto que essa promoveu o aumento dos teores de Se nos 4 genótipos do experimento de interação, em relação ao controle. No experimento com 23 genótipos, a aplicação do coquetel de Zn + Se resultou em aumento da concentração desses elementos nos grãos biofortificados.