ENTRE CONCRETO E FLORES: INVESTIGANDO O EFEITO DA URBANIZAÇÃO NA POLINIZAÇÃO POR ABELHAS NATIVAS E EXÓTICAS
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A urbanização é um dos principais fatores que moldam a estrutura morfológica e ecológica de comunidades de abelhas, afetando diretamente suas interações com plantas. Este estudo avaliou o efeito da urbanização sobre a morfometria e a diversidade de pólen transportado por três espécies de abelhas (Apis mellifera, Tetragonisca angustula e Trigona spinipes) em uma cidade de médio porte no Brasil. Foram coletados 150 indivíduos em áreas com diferentes níveis de urbanização (alta, média e baixa), e mensuradas as variáveis distância intertegular e largura da corbícula. As análises revelaram variações morfométricas significativas entre os níveis de urbanização. Em A. mellifera, a distância intertegular foi maior em baixa urbanização em relação à alta (p = 0,0076) e média (p = 0,0073), e a largura da corbícula apresentou diferenças marcantes entre alta e baixa (p < 0,0001), além de diferença marginal entre alta e média urbanização (p = 0,0397). Em T. angustula, a distância intertegular foi maior na baixa urbanização em comparação com a alta (p < 0,0001) e média (p = 0,0048); a largura da corbícula variou entre média e alta (p = 0,0180) e entre baixa e média (p = 0,0293). Em T. spinipes, a distância intertegular diferiu entre alta e baixa (p = 0,0086) e entre alta e média (p = 0,0261), enquanto a largura da corbícula foi maior na urbanização média (p < 0,0001). Abelhas maiores, especialmente A. mellifera, transportaram maior diversidade de pólen, sugerindo que o tamanho corporal está positivamente relacionado à capacidade de forrageamento. Os dados indicam que a urbanização atua como um filtro ecológico, favorecendo abelhas de menor porte, possivelmente devido à predominância de plantas exóticas e ornamentais nos centros urbanos. A. mellifera demonstrou maior plasticidade em ambientes urbanizados, ao passo que as espécies sem ferrão se mostraram mais sensíveis às mudanças ambientais. Estes resultados ressaltam a importância da conservação de áreas com menor grau de urbanização para a manutenção da diversidade funcional de polinizadores em paisagens urbanas.