Discursos de culpabilização da mulher vítima de violência: uma análise dialógica
Círculo de Bakkhtin; discursos de culpabilização; violência contra a mulher
Assim, a presente pesquisa, cujo embasamento teórico recai, especialmente, sobre os conceitos extraídos das obras de Bakhtin e dos ensinamentos de Volóchinov, visa a demonstrar a importância da linguagem como elemento que estabelece a relação entre os seres humanos e propicia a interação entre interlocutores. Para Bakhtin (2003), “todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem.” Entendendo essa vital importância da linguagem, esse trabalho acadêmico, alicerçado nos pensamentos bakhtinianos, reforça a ideia de alteridade, ou seja, de se colocar no lugar do outro e perceber o outro como uma pessoa singular e subjetiva. Para Bakhtin, “a alteridade define o ser humano, pois o outro é indispensável para sua concepção: é impossível pensar no homem fora das relações que o ligam ao outro” (Bakhtin apud Brait, 1997, p. 35-36). Não se pode deixar de frisar que a linguagem, intrínseca a todas as relações humanas, apresenta-se em diversos gêneros discursivos, sendo, ainda, importante definir quem propaga esses diferentes discursos, para quem eles se dirigem e por que eles são difundidos. Para o Círculo de Bakhtin, (Bakhtin, 2010; 2011; 2018; Volóchinov, 2013; 2017), o enunciado é compreendido como processo, ele não se encerra no ato de dizer e está sempre em relação a outros enunciados. E os discursos podem ser traduzidos como manifestações do pensamento que, inegavelmente, sofrem influências do poder público, da igreja, do ambiente familiar e escolar e das condições socioeconômicas e culturais que envolvem os sujeitos nelas inseridos. É por meio do discurso que o homem transforma a sociedade em que vive, dá sentido à existência humana e materializa ideologias, difundindo-as, para alcançar o maior número de pessoas possível.