MOVIMENTOS POR VACINAS CONTRA COVID-19 PARA MÃES E CRIANÇAS NO BRASIL: EXPLORANDO
PROPICIAMENTOS DA COMUNICAÇÃO MEDIADA POR COMPUTADOR
Comunicação Mediada por Computador; propiciamentos; parentalidade; vacinas; pandemia.
A pandemia da COVID-19 teve extenso impacto na sociedade brasileira, afetando a saúde, a educação, o mercado de trabalho e diversas outras áreas da vida da população. Durante a época de emergência de saúde pública de importância internacional, protocolos de contenção e prevenção do vírus incluíam distanciamento social, o que também modificou as formas de interação entre as pessoas. A predominância de regimes de ensino remoto e híbrido nas escolas e universidades, e de home office nos trabalhos, é um exemplo dessas mudanças. Outro exemplo é a articulação de ciberativismo materno, que se mostrou crescente na pandemia devido aos impactos da COVID-19 nas mães e nas crianças brasileiras em diferentes esferas da vida. Essa articulação aconteceu através de redes sociais e plataformas online, ou seja, por meio de Comunicação Mediada por Computador (CMC). O presente trabalho se volta às comunidades brasileiras de mães que se organizaram, nessa época, em movimentos pleiteando vacinas contra COVID-19 para gestantes, puérperas, lactantes, bebês e crianças. O objetivo da pesquisa é analisar os propiciamentos da CMC que foram explorados pelas comunidades nesses movimentos, que se articularam online em um contexto de muitas restrições presenciais. Para subsidiar as análises foi realizada uma pesquisa bibliográfica e netnográfica sobre os movimentos relacionados às vacinas contra COVID-19 para mães e crianças, e a articulação de ciberativismo e ciberfeminismo em CMC. Essa pesquisa compôs o capítulo de referencial teórico da pesquisa, “O capítulo perdido na história da pandemia da COVID-19”. Como resultado das análises, foram listados 7 propiciamentos da CMC. Eles foram observados e selecionados considerando as implicações do conceito de “propiciamento/affordance” (Gibson, 1986) para a pesquisa, e analisados um a um, tecendo reflexões de natureza empírica e caráter qualitativo, conforme o método netnográfico proposto por Kozinets (2014). São eles: distanciamento social, divulgação científica, flood, inclusão social, mamaço virtual, networking, e tagging. O distanciamento social é a possibilidade de manter distância física entre os usuários de CMC. A divulgação científica é a possibilidade de divulgar dados, informações e pesquisas de cunho científico por meio de CMC. Flood, ou floodar, é a possibilidade de mandar mensagens em massa na internet. Inclusão social é a possibilidade da CMC facilitar as interações sociais e a participação de grupos minoritários nos diversos setores da sociedade. Mamaço virtual é um mamaço (manifestação política por meio de amamentação coletiva em público) realizado no ambiente digital online. Networking é a possibilidade de formar redes de contatos e de relacionamentos que colaboram para troca de informações, ideias e/ou apoio, por meio da CMC. Por último, tagging é a possibilidade de interações mediadas por computador por meio de marcação de contas eletrônicas ou palavras chave. Foi possível concluir que esses propiciamentos foram fundamentais para a articulação dos movimentos maternos no ativismo por vacinas contra COVID-19. Além de ter o potencial de indicar caminhos de ação e participação política por meio de CMC, as reflexões também podem contribuir para debates feministas sobre parentalidade, e/ou para discussões teóricas em diversas áreas de conhecimento envolvidas na pesquisa.