"Ideias para adiar o fim do mundo”: contribuições da obra de Ailton Krenak para a Educação Ambiental
Ailton Krenak; Cosmovisão; Povos originários; Educação Ambiental
O presente trabalho teve como objetivo analisar as ideias apresentadas por Ailton Krenak no livro “Ideias para adiar o fim do mundo” e seus possíveis diálogos com a Educação Ambiental, visando compreender, a partir dos conceitos trazidos pelo autor na referida obra, a cosmovisão de mundo apresentada no livro, identificando os elementos que podem contribuir para a Educação Ambiental, bem como evidenciar o nível de importância dessa visão para o debate da temática. Nesse contexto, elencaram-se os conceitos que deram suporte aos debates propostos pelo autor, sendo apresentados três eixos temáticos presentes na obra - Tempo e Espaço; Terra; Memória, Ancestralidade e Coletividade – permeados pela cosmovisão dos povos originários. A metodologia constou de pesquisa qualitativa, com análise crítica das percepções do escritor e análise de conteúdo. Na obra, Krenak discorre sobre aqueles que considera como os principais problemas acerca das questões ambientais e sociais do mundo contemporâneo, reconhecendo a sua complexidade e oferecendo uma perspectiva de solução enraizada nas tradições e sabedoria das culturas indígenas. O olhar do autor é centrado na questão da conexão espiritual e, neste sentido, o livro reflete a emergência de reconexão com a natureza e a valorização de práticas tradicionais. Embora a obra traga questões relevantes para o debate atual sobre a sustentabilidade e a crise ambiental, o autor não traz na sua centralidade alguns dos aspectos que, nas últimas décadas, têm marcado a resistência dos povos indígenas nas lutas pelo direito de existir, a exemplo da organização política e dos movimentos reivindicatórios que marcam fortemente a atuação desses povos originários que, ao longo das últimas décadas, vêm ressignificando sua relação com a sociedade. Constatou-se, dessa forma, que a visão trazida por Krenak na obra estudada apresenta questões específicas das culturas indígenas como soluções universais para problemas complexos da área ambiental, o que pode levar a um idealismo que não considera a diversidade deste debate. Se faz importante uma interpretação crítica dos modelos de desenvolvimento adotados, que respeitem o meio ambiente. Contudo, o pensamento não pode ser único, homogêneo ou uniforme, pois também a educação ambiental precisa ser crítica e plural, aberta ao questionamento e ao diálogo. Conclui-se com este estudo que mesmo considerando a necessidade de preservação dos territórios e dos modos de vida e do respeito à natureza, uma educação ambiental que se pretenda crítica deve, também, estar atrelada aos interesses das classes populares, dos historicamente oprimidos que, em uma situação limite, buscam romper com as relações de desigualdades e de dominação presentes nas sociedades.