Para além dos fantasmas: epistemologia do conhecimento profético em Tomás de Aquino
Intelecto, profecia, Fantasma, Aristóteles, Iluminação.
Sob forte influência de Aristóteles, Tomás afirma que o intelecto humano, em vida, necessita para seu ato de uma “conversão aos fantasmas”. Apesar de muito se debater acerca da natureza e do modo em que ocorre tal conversão, certo é que tal postulação repercute no caráter negativo de sua teologia. Porque nosso intelecto, por sua natureza, tem como objeto as naturezas existentes na matéria, necessitando da convertio para inteligir, é que, de Deus e das coisas do Céu conhecemos antes o que não são, antes do que realmente são tais realidades. Apesar disto, o que aconteceu à caminho de Damasco continua sendo um fato essencial para o cristão, e afirma mesmo o apóstolo: “Conheço o terceiro céu” (2Cor 12,2). Ainda, toda a tradição cristã, desde os primeiros Padres, está repleta de diversas experiências cognitivas que parecem, senão ir além das abstrações, ao menos, ir muito além dos conhecimentos naturais que se podem obter através do uso natural da razão. O mundo de Tomás não é o mundo de Aristóteles. Nele houve a Encarnação, há profetas e profecias, visões e arrebatamentos místicos, a influência direta de Deus e das hierarquias angélicas e demoníacas. É preciso, portanto, se queremos compreender a perspectiva de Tomás acerca do conhecimento humano e de seus limites, ir além dos estudos epistemológicos tais como aparecem no conjunto de questões que mencionamos. Sem esquecê-los, precisamos buscar os pontos em que tais limites se expandem, onde se borram as fronteiras entre o pensamento humano e a iluminação divina, em suma, onde a convertio ad phantasmata se abre aos diversos efeitos da ação da gratia.