Al-Ghazali, a filosofia e a eternidade do mundo
Eternidade do mundo; Filosofia Medieval; Filosofia Árabe.
Como é comum dos textos filosóficos do medievo, al-Ghazali inicia seu prefácio com uma espécie de pedido de permissão a Deus para tratar sobre os temas que serão descritos em sua obra. Isso demonstra além de sua devoção e reverência (entre outros adjetivos que ele mesmo usa), a posição que a religião ocupa de primazia não somente do ponto de vista pessoal, mas também político e intelectual de sua época. Apesar de toda a retórica que o estilo apresenta, normal para seu período, é perceptível a julgar pelo título de sua obra, ainda sem ler o seu conteúdo, que a verdade que deve ser seguida e procurada, se trata da verdade revelada. No outro oposto, aquilo que deve ser evitado e até detestado, comparado a uma ilusão, ressaltando a limitação e tendo como limite não a razão, mas a imaginação, é a filosofia. Ele ainda cita o profeta, sua família e amigos como “chaves da orientação, e as lanternas na escuridão.” (Incoerência dos filósofos, Prefácio; trad. 2023, p. 45), mais uma vez hierarquizando a revelação sobre a filosofia. Al-Ghazali não tem em boa conta seus contemporâneos praticantes da falsafa, vendo-os como pessoas que “desprezam os ritos, a abstenção das coisas proibidas, desdenhando as devoções e os estatutos da lei religiosa, e não se detiveram perante as suas proibições e restrições.” (Ibidem). Isso é visto como um abandono do vínculo à religião. Contudo, não bastasse isso, ainda afastam outros do bom caminho pois são incrédulos quanto a “vida no mundo que há de vir.” (Idem, 2023, p. 46). Ele não apresenta uma justificativa para tal postura de impiedade, mas uma explicação/descrição que remonta a tempos antigos. Cita cristãos e judeus que caíram no mesmo erro de imitação de uma tradição que não segue a religião islâmica.