Xica da Silva revisitada: o olhar de um outro tempo no romance biográfico de Ana Miranda
Ana Miranda; Xica da Silva; romance biográfico; metaficção historiográfica.
Dentre as numerosas obras da escritora contemporânea Ana Miranda, Xica da Silva: A cinderela negra (2016) representa fortemente o que acreditamos ser o projeto literário da autora, visto que suas narrativas, de formas diversas, propiciam novos olhares sobre personalidades ou anônimos da história do Brasil. A obra retrata de forma diferenciada a vida da ex-escravizada que se tornou companheira do contratador das minas de diamantes e aquela que participou ativamente da sociedade do Distrito Diamantino, nas Minas Gerais, no período colonial brasileiro do século XVIII. A protagonista, conhecida inicialmente por meio de narrativas orais, transfigurou-se de várias formas até tornar-se objeto de estudo mais detalhado para a historiografia. Portanto, com base na proposta de Linda Hutcheon, que denomina produções contemporâneas voltadas para temas históricos como "metaficção historiográfica" (HUTCHEON, 1991), e compreendendo a obra de Ana Miranda diante de uma perspectiva contemporânea, a partir de Agamben (2009) e Schollhammer (2009), esse trabalho objetiva desenvolver uma leitura analítico-interpretativa da obra de Ana Miranda visando situá-la no contexto pós-modernista proposto por Hutcheon, a partir da perspectiva historiográfica e do cruzamento dos discursos histórico e ficcional, compreender a hibridez de gêneros, tendo em vista a classificação da obra como “biografia” e a sua efetiva realização em diálogo com a ficção e, ainda, como a presença do “ex-cêntrico” e do conceito de adaptação corroboraram para a ressignificação da história de Xica da Silva.