O ENUNCIADO VERBIVOCOVISUAL E(M) NARRATIVAS DOCUMENTAIS: A ARQUITETÔNICA ESTÉTICA NA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO-LOUCO NO HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA
Documentário. Verbivocovisualidade. Projeto de dizer. Arquitetônica estética. Sujeito-louco.
A constituição dos sujeitos, sob o viés teórico-epistemológico do Círculo de Bakhtin, implica questões que estão indissociavelmente ligadas às reflexões sócio-históricas, culturais e ideológicas de uma dada sociedade. É em consonância a essas reflexões e na necessidade de investigar os silêncios constitutivos da loucura que a presente pesquisa tem como objetivo principal discorrer, essencialmente, como as narrativas do sujeito-louco são (re)contadas em filmes documentais valendo-se de estratégias narrativo-valorativas constituída na e pela linguagem verbivocovisual, a partir do olhar alteritário do outro coconstrutor [equipe autoral]. Dimensiona-se, que o foco das discussões pretendidas não é refletir sobre a loucura enquanto condição biológica, isto é, enquanto um transtorno mental, mas sobretudo como um lugar socialmente constituído que vem, ao longo do tempo, sendo ressignificado. O objetivo principal divide-se em três grandes objetivos específicos: i) investigar como se constitui o conceito de arquitetônica estética na relação equipe autoral e sujeito-louco, evidenciando as relações éticas-estéticas; ii) investigar como as estratégias estéticas do fazer cinematográfico se articulam com o ético, na medida que se constitui como ato responsável; iii) verificar como os enunciados verbivocovisuais participam do processo de alteridade narrativa na constituição desses sujeitos congregando, também, processos de silenci(ament)os. Para tanto, elegeu-se como corpus os documentários “Em nome da razão – Um filme sobre os porões da loucura” e “Holocausto brasileiro” a fim de evidenciar o fazer cinematográfico documental enquanto ato responsável (postupok) materializado em escolhas narrativo-discursivas. Pautou-se, essencialmente, nas obras dos estudiosos do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2010 [1986]; 2011; 2017; 2019 & VOLÓCHINOV, 2013; 2017), com o intuito de propor reflexões sobre o conceito de arquitetônica, arquitetônica estética, enunciado, ato responsável. No que compete aos conceitos de narrativa, documentário e montagem elegeu-se, principalmente, Ismail Xavier (2018; 2019), Fernão Ramos (2008) e Christian Metz (2018), a fim de evidenciar que representar o passado e reconstruí-lo coletivamente em uma narrativa documental marca-se como posicionamento ético/estético da equipe autoral – autor(es) criador(es) – por meio de escolhas narrativo-valorativas. Nessa direção, observou-se a constituição dinâmica e dialógica dos sujeitos no processo de loucura e de como determinados silêncios (enquanto signos) constituem esse lugar-outro e, consequentemente, o lugar-meu-outro. O silêncio assume, no presente trabalho, quatro categorias propostas e problematizadas por Villarta-Neder (2018), silêncio por excesso, silêncio por ausência, silêncio por não aparição e, por fim, silêncio por monumento. Em síntese, espera-se que as discussões empreendidas no presente trabalho suscitem reflexões acerca da constituição do sujeito-louco na e pela linguagem, evidenciando o caráter ético discursivo da filosofia bakhtiniana.