MANUAL DA PAIXÃO SOLITÁRIA, DE MOACYR SCLIAR: DIÁLOGO ENTRE LITERATURA E TEOLOGIA
Moacyr Scliar; Intertextualidade; Paródia; Criação; Teoliterária.
Pretendemos, nesse trabalho, demostrar a relação existente entre a Literatura e a Teologia na obra Manual da paixão solitária, de Moacyr Scliar. Sabemos que essa relação é antiga – pode ser percebida nos escritos de Dante Alighieri (1265), Gil Vicente (1465), padre Antônio Vieira (1608), entre outros – mesmo não compreendendo a profundidade dessa relação. A partir do século XX, autores como Erich Auerbach, Jack Miles, Haroldo de Campos, Robert Alter, Northrop Flye, Harold Boom e Antônio Magalhães se interessaram pelos aspectos literários da Bíblia. Atualmente vem crescendo o número de trabalhos interessados em abordar o texto bíblico a partir das teorias e técnicas de análise literária, contribuindo para uma leitura profunda e criativa desse texto, inclusive para o exame teológico, a partir daquilo que a teoria literária pode oferecer de recursos para analisar sua forma e conteúdo. Assim, neste trabalho, buscamos traçar os caminhos que estabelecem as “possíveis contribuições do diálogo entre teologia e literatura” (BOAS, 2016, p. 11), visando compreender essas duas áreas do conhecimento e investigar as contribuições que uma pode oferecer a outra. Portanto, procuramos abordar o processo histórico, as afinidades e os métodos de pesquisa entre Literatura e Teologia; as relações do escritor Moacyr Scliar com a Bíblia, a cultura judaica que influencia suas obras e as memórias individuais e coletivas do povo hebraico presentes no romance. Abordamos a conexão entre a obra e o capítulo 38 do Gênesis à luz da intertextualidade estabelecida com o Midrash, gênero judaico de leitura e interpretação do texto bíblico, e da paródia, como forma de reconstrução do texto com linguagem contemporânea, cheia de paixão e humor, subvertendo o texto original. Também realizamos uma reflexão antropológica-teológica aproximando a Teologia contida do romance, que promove uma reflexão sobre a condição do ser humano frente a questões como a morte, o ser humano em frente a si mesmo, a homossexualidade, o suicídio, a masturbação, o problema existencial e a as convicções de Tamar. Por fim, compreendemos que é possível um diálogo entre Literatura e Teologia tomando o romance de Moacyr Scliar como um “lugar teológico”, recriando a saga de Judá e Tamar (Gn 38) sob um olhar literário.