IMANI E SEU HAVER DE SER: UMA ANÁLISE ONTOLÓGICA FANONIANA NA TRILOGIA AS AREIAS DO IMPERADOR, DE MIA COUTO
Mia Couto; Fanon; Existencialismo; Racismo; Imani.
Em meados da década de 50, o psiquiatra martinicano Frantz Fanon publicou sua obra Pele Negras, máscaras brancas na qual apontou, através da perspectiva existencial e psiquiátrica, o desmantelamento e negação da formação ontológica do negro pelo branco, obrigando o negro a viver ante o entendimento do Outro. Para o psiquiatra, os processos colonizatórios geraram uma alteração na estrutura social acarretando o racismo, além de diversas mudanças psíquicas que resulta em uma neurose coletiva. Deste modo, identificar essa desestruturação na formação do Ser do negro exige um sociodiagnóstico que revele esses alicerces e permita sua demolição, conduzindo assim à emancipação ontológica do negro. Desta forma, ampliando a pesquisa iniciada em “O Existencialismo diante da Dialética Colonial ‘Eu e o Outro’ no romance Mulheres de Cinzas, de Mia Couto” e considerando os aportes teóricos de Fanon, além de Jean-Paul Sartre, Georg Hegel, Freud, entre outros, objetiva-se verificar se, em todos os volumes da trilogia de Mia Couto – As Mulheres de Cinzas (2015), Sombras da Água (2016) e o Bebedor de Horizontes (2018) –, através particularmente da personagem Imani, é possível apurar ou não a presença dos traços para a construção ontológica proposta por Fanon, bem como analisar os conceitos de zona de não de ser, reconhecimento e luta por reconhecimento, dupla consciência, duplo narcisismo e interiorização na constituição existencial de Imani, tendo sempre como guia o questionamento: o que conecta a percepção de uma experiência colonial e discriminação racial com a constituição de uma subjetividade existencial que conduz à emancipação e luta por reconhecimento?