RECONFIGURAÇÕES DO SUJEITO AUTOFICCIONAL EM MENINO SEM
PASSADO (1936-1948), DE SILVIANO SANTIAGO
Autoficção. Reconfiguração da subjetividade. Menino sem passado. Silviano Santiago
Nesta dissertação, analisamos as reconfigurações do sujeito autoficcional na obra Menino sem
passado (1936-1948), de Silviano Santiago. Assim, construímos este estudo a partir de três
distintas faces do sujeito Silviano: (1) o autor de autoficção, (2) o personagem de autoficção e
(3) o leitor de memórias. No primeiro capítulo, ensaiamos conceitos de autoficção com base
em teóricos como Doubrovsky (1977, 2005, 2014), Colonna (2014), Nascimento (2010) e
Santiago (2008), evidenciando que a autoficção não é um gênero literário strictu sensu, mas
uma “categoria de reflexão” (NASCIMENTO, 2017) que abarca diferentes perspectivas e
experimentações teórico-literárias. Na sequência, discutimos, com o respaldo de Nascimento
(2010, 2017), Arfuch (2010, 2012), Collot (2004, 2006), Santiago (2004a) e Klinger (2006), a
ideia de que a obra Menino sem passado é movida pela alteridade. No segundo capítulo,
investigaremos a face de Silviano enquanto um “menino sonâmbulo” que se (re)configura
como personagem e narrador de lembranças. Pensando nisso, trabalharemos a constituição das
memórias na narrativa a partir de autores como Miranda (1992, 2008, 2016), Souza (2007a,
2007b), Halbwachs (1990), Silva (2009) e Sarlo (2007). Em acréscimo, refletiremos sobre a
relação entre o corpo e a subjetividade, já que é por meio da dor física e das sensações
corpóreas que o menino, imerso no sonambulismo, é trazido de volta à realidade. Essa relação
sujeito-corpo será estabelecida com o aporte teórico de Merleau-Ponty (1994), Collot (2004),
Figueiredo (2022) e Barthes (2005). Por fim, no terceiro capítulo, a face do leitor de
memórias será analisada considerando um diálogo intertextual (CARVALHAL, 2006) de
Silviano Santiago e Carlos Drummond de Andrade. Para tanto, traçaremos pontos de
aproximação entre os dois “meninos mineiros”, bem como as dissonâncias entre os dois
escritores, já que Drummond narra suas memórias sob as lentes do patriarcalismo, ao passo
que Silviano propõe a desconstrução das “tábuas da lei mineira de família”, sustentando suas
grafias de vida na presença-ausência da mãe. Essa conversa entre o formiguense e o itabirano
será subsidiada pelo próprio Santiago (2005, 2006, 2015, 2021b) e por Miranda (1992), além
de Candido (2000), Villaça (2006), Pedrosa (2011) e Merquior (2012).