Bakhtin, leitor de Husserl: um correlacionamento entre a fenomenologia de Investigações lógicas e a teoria de Para uma filosofia do ato
Mikhail Bakhtin; Edmund Husserl; fenomenologia; antropologia filosófica; Investigações lógicas; Para uma filosofia do ato.
A pesquisa que ora se apresenta, circunscrita pelo quadrante maior de um projeto investigativo a respeito das fontes teóricas e das relações epistêmicas do pensamento de Mikhail M. Bakhtin, institui-se como um movimento inicial de averiguação, através do correlacionamento filosófico, tanto das possíveis influências da fenomenologia de Investigações lógicas de Edmund Husserl na teoria de Para uma filosofia do ato de Bakhtin, quanto dos paralelos prováveis aí contidos, sobretudo no que refere a determinadas temáticas idiossincraticamente fenomenológicas que, ou parecem ter-se reelaboradas e subscritas pelo gesto agregador ou assimilador de Bakhtin, ou parecem ter-se transformadas em fundamentos epistêmicos para que o filósofo russo, ao seu modo, então estabelecesse o seu autônomo caminho teórico, em consonância com o projeto programático de antropologia filosófica que em sua obra se quer constituir. Inicialmente, parte-se de uma discussão fundamentada a respeito de dados temas da filosofia husserliana, sob o amparo de análises e de comentários de pesquisadores que lhe destinaram uma atenção teórica. Em seguida, busca-se correlacionar a discutida posição de Husserl com a citada teoria filosófica de Bakhtin, com a finalidade de evidenciar as convergências e as divergências no que concerne às temáticas de que tratam ambos em seus respectivos tratados, a partir do entendimento da presença constitutiva de influxos fenomenológicos na obra bakhtiniana. Apesar da sua eminente característica filosófica, o mote desta dissertação, por meio de uma lógica interdisciplinar, justifica-se ao se tratar de um trabalho que almeja trazer às claras uma das mais importantes fontes da teoria do filósofo russo, particularmente na vindicada na obra de Bakhtin em questão, considerada ela essencialmente como um dos mais profícuos embasamentos para a concepção dialógica que se desenvolveu posteriormente nos seus demais textos. Assim, deseja-se aqui abordar um assunto fundamentalmente filosófico com vistas à natureza do tratado bakhtiniano, mas com o objetivo de fornecer outras lentes interpretativas que possam vir a aclarar os debates por Bakhtin instituído em suas obras sobre a literatura, a cultura e a linguagem.