A OBRA DISTÓPICA DE ZAMIÁTIN SOB UM OLHAR BAKHTINIANO
Literatura Distópica. Teoria do Romance. Heterodiscurso. Cronotopo
Este estudo se propõe a demonstrar, através de uma análise discursivo-enunciativa, o caráter predecessor da obra Nós, do escritor russo Ievguêni Ivánovitch Zamiátin, em relação à Literatura Distópica do século XX. Para tanto, em contraponto ao romance Nós, - obra central no corpus deste trabalho, escalamos três romances, a nosso ver, emblemáticos para Literatura Distópica do século XX: 1984 de George Orwell; a obra Fahrenheit 451 de Ray Bradbury; e O conto da aia da escritora canadense Margaret Atwood. Para o manejo estilístico dessas obras literárias mobilizamos a Teoria do Romance de Mikhail Bakhtin – enriquecida por concepções adjacentes atribuídas ao chamado Círculo de Bakhtin -, e, dentro do vasto arcabouço teórico bakhtiniano, convocamos dois conceitos, ao nosso entendimento, norteadores para a análise estilística da prosa romanesca: o heterodiscurso e o cronotopo. Nesse sentido, a possibilidade de demonstrar a atualização da própria Teoria do Romance bakhtiniana perfaz um objetivo contíguo à proposição geral do presente trabalho. Embora, a literatura analítica sobre a prosa distópica do século XX seja profusa e diversificada – assim como, o exame sobre a explosão editorial do gênero averiguada no início do século XXI -, consideramos que o termo “distopia”, quando atrelado à Literatura, notadamente no século XX, ainda admite reflexões de cunho discursivo e enunciativo. Portanto, assinalamos, aqui, uma possível lacuna de tratamento estilístico, científico, metodológico, e sobretudo, sociológico do discurso literário distópico. Para tal empreitada, este estudo busca embrenhar-se por uma metodologia essencialmente investigativa, com mergulho interpretativo nas obras distópicas elencadas, e consentâneo cotejamento no que se refere aos conceitos teóricos propostos por este trabalho. Desse modo, a presente proposta enforma-se como uma pesquisa qualitativa, e, a estrutura do seu planejamento prevê o primeiro capítulo “A Teoria do Romance Bakhtiniana” como nossa particular visada do quadro teórico mobilizado; a seguir, com “A predecessora proposta cronotópica de Nós” almeja-se penetrar aos romances distópicos elencados através de suas dimensões espaçotemporais; o último capítulo “De Zamiátin à Atwood: a heterodiscursividade no Romance Distópico” pretende inserir o dialogismo perpetrado pelas linguagens sociais que povoam os romances distópicos escalados por este estudo. Os resultados colhidos por esta pesquisa apontam para a possibilidade de ratificação do aspecto predecessor da obra distópica de Zamiátin através de um olhar discursivo-enunciativo, portanto para além de uma análise puramente estilística. Paralelamente, o presente trabalho indica condições propícias para aplicação da Teoria do Romance, - formulada por Mikhail Bakhtin -, quanto a uma lida satisfatória da Literatura contemporânea.