O Paradoxo da Inércia: Uma Análise Institucional sobre Mudança e Estabilidade na Apropriação da Sustentabilidade no Setor da Cachaça Artesanal.
Palavras-chave: Trabalho institucional; sustentabilidade; inércia institucional
O presente trabalho investiga o processo de apropriação da lógica da sustentabilidade por micro e pequenas destilarias de cachaça de alambique, um setor produtivo de grande relevância cultural e econômica para o Brasil, mas marcado por fortes tradições, inércia e vazios institucionais. Diante da crescente pressão por práticas socioambientais responsáveis, a pesquisa busca responder por que e como essas organizações, inseridas em um campo institucional complexo, assimilam, praticam ou resistem à lógica da sustentabilidade. A análise se fundamenta na Teoria Institucional, com foco nos conceitos de lógicas, trabalho e inércia institucional, em diálogo com as Teorias da Prática. A metodologia de abordagem qualitativa e orientada por pressupostos do construcionismo empírico baseia-se em um estudo de múltiplos casos com oito destilarias que representam a diversidade do setor. A tese está estruturada em uma sequência de artigos que, partindo de uma metassíntese e de uma revisão integrativa para a construção do arcabouço analítico, aprofundam-se na investigação empírica dos casos. Os resultados revelam que a apropriação da sustentabilidade é um fenômeno heterogêneo, desdobrando-se em múltiplas trajetórias que são contingentes à natureza da agência dos atores (empreendedora, herdeira ou coletiva), à lógica institucional dominante em cada organização (de mercado, da tradição ou política) e ao papel paradoxal da inércia, que se manifesta tanto como barreira quanto como ativo estratégico. Conclui-se que a compreensão da transição do setor para a sustentabilidade exige um modelo analítico que integre essas variáveis de forma recursiva, superando visões lineares de mudança.