PÉS NO CHÃO EM BUSCA DE OUTRAS ROTAS: O DESPERTAR DO CORPO PELA TÉCNICA KLAUSS VIANNA EM UMA EXPERIÊNCIA FORMATIVA DOCENTE
Formação docente. Técnica Klauss Vianna. Teoria Crítica. Experiência.
Este estudo recupera um sentido de técnica emergente das investigações do bailarino, coreógrafo e preparador corporal Klauss Vianna, concebida no entrecruzamento dos territórios do Teatro e da Dança, a fim de deslocá-lo para o âmbito formativo docente. Ao mergulhar nas características do trabalho desenvolvido por Vianna e após revisão bibliográfica, deparamo-nos com a ausência de investigações daquele relacionadas ao domínio amplo de formação de professores, percebendo que o reconhecimento de sua relevância se encontra ainda muito restrito a seus campos de atuação originários. O interesse pelo estudo da concepção de técnica em Vianna parte do pressuposto de que, na contemporaneidade, a formação cultural (estendida nesse estudo à docente) tem se modelado ao espírito generalizado da mercadoria, sendo mediada por conteúdos coisificados, onde a técnica é tomada enquanto próprio fim. Tal tendência é investigada pelo filósofo Theodor W. Adorno enquanto semiformação (2006). Tendo como base o pensamento adorniano para o terreno educacional, isto significa dizer que, tanto as Licenciaturas quanto as formações continuadas – apontada mais especificamente nesta pesquisa do interior do Mestrado Profissional em Educação - têm sido penetradas pelas ideologias neoliberais vigentes, primando-se pelo fomento ao tecnicismo com vistas à adaptação dos indivíduos na sociedade. Nisto, impõe-se tanto a produção enlouquecida de materiais científicos, quanto a realização de cursos atualizadores; não sendo suficiente tamanha excitação, ainda se soma a isso o excesso de estímulos a que os indivíduos acabam por se submeter através dos mais diferentes aparatos tecnológicos - agravado no atual ensino remoto pela situação pandêmica - corroborando para a insensibilização sensorial e para o distanciamento do âmbito educacional de princípios estéticos e culturais. Nesse quadro, as (os) docentes não possuem tempo e espaços que propiciem uma maior amplitude reflexiva, visto que são expostas (os) a um bombardeamento excitatório, onde conjuntamente à continuidade dos processos semiformativos, ocorre a dessedimentação do pensamento, conforme analisa Türcke (2010b), tolhendo-se a capacidade intelectual a nível biológico. Com o propósito de fortalecer resistências frente a isso, é diante do entrecruzamento teórico acima referido que nos aventuramos para esboçar fundamentos de uma formação docente pela via do descondicionamento corporal, experimentando-se a TKV no corpo da própria pesquisadora-professora e narrando-se as impressões/sensações através de escritas somáticas registradas em um caderno. Assim, considerando-se aqui o corpo e suas expressões inerentes à experiência formativa de que se trata, explicitamos a potência do entendimento da integralidade do ser humano para as formações, onde o movimento corporal pelo viés da educação somática encoraje a imaginação e o pensar emancipador, tentando ocasionar algum tipo de ruptura com lógicas neoliberais.