O curso de pós-graduação em Agronomia/Fitotecnia da UFLA é um dos Programas pioneiros no Brasil em sua área de abrangência, o que o torna especialmente relevante. O Programa é desenvolvido sob a responsabilidade do Departamento de Agricultura (DAG) da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (ESAL) pertencente à Universidade Federal de Lavras (UFLA).
O Departamento de Agricultura foi o primeiro Departamento da antiga ESAL (Escola Superior de Agricultura de Lavras - nome anterior da UFLA) tendo sido criado no ano de 1966. Desse originaram outros: em 1973, o Departamentos de Biologia e o de Fitossanidade (que anos mais tarde foi dividido em Fitopatologia e Entomologia) e, em 1980, o de Ciências Florestais. Em sua sede abrigou no período de 2018 e 2019 o Departamento de Gestão do Agronegócio, estabelecendo uma forte parceria entre ambos.
Com a sua criação no final da década de 1960, o Departamento de Agricultura, antes mesmo de ter um programa de pós-graduação, foi pioneiro no desenvolvimento de projetos de pesquisa nessa época, realizados em parceria com o Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária do Ministério da Agricultura (DNPEA) e, posteriormente, com o Programa Integrado de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Pipaemg), que precedeu a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).
Todos os acontecimentos da ESAL sempre tiveram destaque, como foi registrado na publicação do “O Agrário” de 27/04/1972, a qual retrata as atividades desempenhadas pelos professores do Departamento de Agricultura. Nessa publicação é relatado que o Departamento possuía diversos projetos de pesquisa em andamento, assim como atendia aos agricultores com o fornecimento de sementes de soja, estimulando a expansão dessa cultura na região. Ainda, os professores ofereciam consultas técnicas aos agricultores, visando a racionalizar as atividades e aumentar a produtividade.
O interesse pela produção e publicação científica também estiveram diretamente relacionados à história da Universidade. Em 1908, foram adquiridas as primeiras máquinas e tipos para a "Tipografia Evangélica", pelo então diretor do Instituto Evangélico, Dr. Samuel Rhea Gammon, e o engenheiro agrônomo, Dr. Benjamin Harris Hunnicutt, que dirigia a Escola Agrícola de Lavras. No início da década de 1920, foi lançado o primeiro número da revista "O Agricultor" que foi publicada até 1943. Também foram publicados os primeiros Boletins Técnicos do "Serviço de Propaganda Agrícola", que tinham circulação nacional, para apoio a produtores rurais.
O primeiro livro de autoria de um professor da Escola foi publicado em 1923, com o título de "O Milho: sua cultura e aproveitamento no Brasil", de autoria de Benjamim H. Hunnicutt. A partir de então, inúmeros títulos já foram publicados pelos docentes que depois viriam a integrar o Programa de Fitotecnia, e que ainda continuam em ativa produção bibliográfica. Assim, há títulos na área de Melhoramento (Melhoramento de Plantas), Fruticultura (Cultivo de fruteiras de clima temperado em regiões subtropicais e tropicais, Compêndio da cultura da pereira, Marmelo - do plantio à marmelada; Cultura da Figueira), Floricultura (Floricultura-Produção e comercialização no estado de Minas Gerais, Produção de Flores de Corte vol 1 e vol 2), Paisagismo (Paisagismo - conceitos e aplicações; Do romantismo à atualidade: Lavras, história de uma praça; Coletânea Praças da Estrada Real – 17 títulos), Plantas Ornamentais (Árvores - campus UFLA), Olericultura (Cultura do Alho; Cultura da Cebola, Cultura do Tomate), Cultura de Tecidos (Cultura de Tecidos em Espécies Ornamentais, Cultura de Tecidos em Espécies frutíferas), Grandes Culturas (Soluções integradas para os sistemas de produção de milho e sorgo no Brasil), Cafeicultura (Extensão rural em cafeicultura; Café na UFLA: resgate histórico; Semiologia do Cafeeiro: sintomas de desordens nutricionais, fitossanitárias e fisiológicas), além da autoria de capítulos de livros em diversas áreas.
Pela importância da publicação científica, em 1971 foi criado o primeiro Conselho Editorial da ESAL, tendo como presidente o professor Maurício de Souza, do Departamento de Agricultura, e que alguns anos após veio a ser coordenador do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia, no período de 1985-1988. Por meio desse Conselho, em 1971, foi criada a revista periódica "Agros", após mais de 20 anos do encerramento da publicação de “O Agricultor”. A partir de 1977, a revista passou a ser nomeada "Ciência e Prática" e tinha como finalidade a publicação dos trabalhos de pesquisa realizados pelos professores da Escola. A revista cresceu e, em 1996, teve o nome alterado para Ciência e Agrotecnologia sendo, atualmente, um dos mais importantes periódicos na área de Ciências Agrárias, de abrangência internacional.
Com o crescimento da Escola e o impacto da formação acadêmica e das pesquisas realizadas, aliados à crescente demanda por profissionais com elevada especialização, devido ao rápido crescimento econômico que o Brasil experimentava na década de 1970, surgiu então a proposta de criação do curso de pós-graduação. Ainda, destaca-se ainda que nessa época alguns professores estavam afastados para realizar seus cursos de pós-graduação, alguns no exterior. Assim, foram iniciados os estudos para implantação do curso de mestrado na área de Fitotecnia. E a concretização ocorreu graças à iniciativa e à capacidade empreendedora do professor Fábio Pereira Cartaxo, professor do Departamento de Agricultura que na época era diretor da ESAL. Assim foi constituída uma comissão para estudar a viabilidade de implantação de cursos de pós-graduação, que após criterioso estudo, emitiu parecer favorável. A aprovação oficial de criação do curso ocorreu em 1974, tendo a comunicação da aprovação sido feita por meio do Ofício nº 4177, de 23 de agosto de 1974, do Ministério da Educação. Nesse mesmo ano foi criada a Coordenadoria de Pós-Graduação na ESAL, sob a coordenação do Professor Paulo Roberto Silva.
O curso de Pós-Graduação em Fitotecnia iniciou suas atividades no início de 1975. As disciplinas eram distribuías em duas áreas: de Concentração (20 disciplinas) e de Domínio Conexo ou Complementar (21 disciplinas). Na área de Concentração contemplava-se temas em Fruticultura, Cafeicultura, Melhoramento de Plantas, Olericultura, Leguminosas, Tabaco e Solos. Em Domínio Conexo envolvia a formação em Estatística, Bioquímica, Fisiologia Vegetal, Genética, Solos, Fitossanidade, Sementes, Economia Agrícola, Comercialização, Irrigação e Drenagem. O Programa era composto por 40 docentes e 3 pesquisadores da EPAMIG. Os discentes tinham a possibilidade de solicitar bolsas de estudo à CAPES e ao Conselho Nacional de Pesquisas.
O curso de Mestrado em Agronomia/Fitotecnia tinha como finalidade contribuir para o aprimoramento de profissionais para as atividades de ensino superior de pesquisas da área agrícola, colaborando para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Foi o primeiro Programa de Pós-graduação quando a Universidade ainda era Escola Superior de Agricultura de Lavras. A primeira dissertação foi defendida em novembro de 1976 com o tema "Efeito de dosagens e número de aplicações de Cycocel, Ethrel e Ácido Giberélico na formação de mudas de cafeeiro Coffea arabica L. var. Mundo Novo", pelo Engenheiro Agrônomo Márcio Bastos Gomide, sob orientação do Prof. Sarasvate Hostalácio.
Em 1989, foi criado o curso de Doutorado cuja primeira tese intitulada “Desempenho do melhoramento genético do arroz de sequeiro e irrigado na década de oitenta em Minas Gerais”, foi defendida em 1992, pelo pesquisador Antônio Alves Soares, sob orientação do Prof. Magno Antônio Patto Ramalho.
Desde a criação do curso, o Programa já teve a oportunidade de ver concluídas 930 dissertações de mestrado e 494 teses de doutorado.
Como forma de excelência, o Programa sempre teve uma grande preocupação com o processo de Internacionalização. Para isso o intercâmbio de docentes sempre foi bastante estimulado, seja no aperfeiçoamento por meio de treinamentos realizados no exterior, como no início os professores eram estimulados a obter a titulação de doutor no exterior (mesmo antes da criação do Programa de Pós-Graduação), mas também, ao longo da história, a realizar treinamentos de pós-doutoramento. Também, o Departamento sempre teve a oportunidade de receber professores visitantes estrangeiros. O treinamento de discentes no exterior é bastante incentivado, sobretudo para a realização de doutorado-sanduiche. O Programa participou efetivamente do Ciência sem Fronteiras, programa do Governo Federal nos anos 2011 a 2017 e, a partir de 2019, do Print Capes. Como resultado, nesse período 46 discentes tiveram a oportunidade de realizar o doutorado-sanduiche. Em sua maioria, 67% dos discentes realizaram o treinamento nos EUA, mas também houve discentes que foram para Holanda, França, Irlanda, Portugal, Escócia, Nova Zelândia, Israel, Turquia, Espanha e Bélgica.
Desde a sua criação, o Programa tem sido responsável pela formação de profissionais especializados para atuar na área de Fitotecnia, atendendo às exigências de uma agricultura norteada em tecnologia e inovação, mas sempre considerando a sustentabilidade com inerente preocupação com o meio ambiente. As primeiras pesquisas seguiram as aptidões agrícolas da região, onde sempre foram importantes as culturas do milho, soja, feijão, café, além de produção de alimentos destinados a suprir a produção animal como bovinocultura de leite, suinocultura e avicultura. Também destacaram-se as pesquisas em fruticultura e olericultura, para produção em larga escala e pequenos agricultores, sempre com enfoque em auxiliar os produtores no aumento de produtividade. Reflexos esses ainda da Revolução Verde, iniciada no final da década de 1960 nos EUA, mas que norteou a agricultura na década seguinte, tanto nos EUA quanto também no Brasil. Dessa forma, o incentivo ao desenvolvimento tecnológico foi base para aumento de produtividade das produções agrícolas. Além dessas, no final da década de 1970, outras culturas passaram a ser foco das pesquisas como o tabaco, algodão, eucalipto e plantas ornamentais. Dessa forma, atendia-se às aptidões agrícolas regionais, mas também os resultados já visavam a um caráter nacional, dada a importância que a Escola exercia na época e que ainda continua até os dias atuais.
Ao longo do tempo as abordagens vêm sendo aprimoradas, tendo como premissa sempre acompanhar a evolução e as mudanças mundiais para assim também nortear a formação dos discentes. Assim, abordagens relativas ao ambiente, considerando as mudanças climáticas e as alterações ocasionadas na produção agrícola em regiões tropicais e subtropicais, atendendo ao mercado interno e externo, são temáticas que levaram à criação de novas disciplinas, ou atualização de ementas, além de nortear pesquisas. Também, o efeito de estresses bióticos e abióticos e como mitigar, criando soluções para manutenção da produção agrícola também são temas de pesquisa e de conhecimento transmitido nas disciplinas. Seguindo tendências atuais, as pesquisas também são direcionadas para desenvolver a produção agrícola de forma a proporcionar segurança alimentar com a preocupação nutricional e sustentabilidade. Outro foco são os estudos de áreas verdes, envolvendo suas características e impactos, assim como novas tendências de agricultura urbana, temáticas essas desenvolvidas para atender à qualidade de vida das sociedades. Ainda, a Nova Agricultura é contemplada com o estudo e integração de sistemas agrícolas de produção, uso sustentável dos recursos naturais, com aplicações de tecnologias relativas à agricultura digital, monitoramento remoto, automação, Data Science, entre outras, fazem parte das temáticas básicas do Programa.
O Programa atua proporcionando uma abordagem integrada e multidisciplinar no contexto da Fitotecnia. Aliado a isso, no âmbito da inovação tecnológica, a UFLA tem investido fortemente na pós-graduação, cujo crescimento sempre tem sido pautado em condições excelentes de recursos humanos e de infraestrutura. O curso, inserido na área de Ciências Agrárias I, tem caráter multidisciplinar, congregando diferentes áreas do conhecimento em torno de temas inseridos nas três linhas de pesquisa do Programa. Também valoriza o caráter da interdisciplinaridade, convergindo e aliando diferentes áreas do conhecimento essenciais para a consolidação das linhas de pesquisa. Dessa forma, conhecimentos nas áreas de Botânica, Fisiologia Vegetal, Genética, Bioquímica, Estatística, Ciências Ambientais, Solos e Nutrição de Plantas, Agricultura Digital, Automação e Inteligência Artificial, Urbanismo e Novas Tendências de Vida no séc. XXI, além de técnicas relativas à Produção Agrícola e Agronegócio são aspectos valorizados na formação discente.
O programa apresenta-se consolidado, desfrutando de alto conceito na área agrícola nacional e extraordinário crescimento da inserção internacional. O elevado percentual de egressos com sucesso em sua atuação profissional tem comprovado a coerência e a consistência do programa e do corpo docente.
Atualmente, 154 discentes estão regularmente matriculados no Programa, sendo 105 de doutorado e 49 de mestrado, quase todos contemplados com bolsa de estudos, concedidas pelas agências oficiais de apoio ao ensino e pesquisa, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
Texto elaborado em 2020 por Profa. Patrícia Duarte de Oliveira Paiva, Coordenadora do Programa 2017-2021, Coordenadora-adjunto 2012-2016