MITIGAÇÃO DAS EMISSÕES DE METANO ENTÉRICO COM PASTAGENS CONSORCIADAS: Estratégia para promover a sustentabilidade na pecuária
Desmodium ovalifolium. Emissão de metano entérico. Pecuária. Sustentabilidade.
As emissões de metano entérico (CH4), processo biológico realizado pelos ruminantes, contribuem expressivamente para as emissões de gases do efeito estufa. Nesse contexto, o uso de leguminosas, por meio dos taninos condensados (TC), é capaz de mitigar esse poluente e aumentar a eficiência do uso da energia. O objetivo do trabalho foi avaliar a emissão de CH4 entérico, juntamente com desempenho e o metabolismo de novilhas Nelores em pastagens mistas de Urochloa brizantha (BB) e Grona ovalifolium (DO), em comparação à monocultura de U. brizantha, fertilizada ou não com nitrogênio (N), sob lotação rotativa com taxa de lotação variável. A hipótese do trabalho é que os animais consumindo DO irão reduzir as emissões entéricas de CH4 sem alterar o padrão de consumo e desempenho. O projeto foi realizado na Estação Experimental do Extremo Sul da Bahia – CEPLAC – ESSUL, Itabela-BA, onde implantou-se três tipos de pastagens em blocos casualizados com três repetições, sendo: 1) consórcio de BB + DO; 2) monocultura de BB fertilizada com 150 kg/ha/ano de N; e 3) monocultura de BB sem adubação nitrogenada. O manejo adotado foi de lotação rotativa, com sete dias de pastejo seguido por 28 dias de descanso. Utilizou-se 18 novilhas, com peso corporal médio de 236 kg durante todo o experimento. A taxa de lotação foi ajustada com base na oferta de forragem de 1 kg de forragem verde/kg de peso corporal, com a utilização do método “put and take” para adição/remoção de animais reguladores. Amostras de massa de forragem foram coletadas a cada 14 dias nas condições pré e pós-pastejo. Os animais foram pesados mensalmente, a fim de quantificar o ganho médio diário, taxa de lotação e ganho por área. Avaliou-se o valor nutritivo, dieta, consumo, digestibilidade, emissão de CH4 e balanço de nitrogênio uma vez por estação do ano. As variáveis mensuradas foram agrupadas por estação do ano e avaliadas como medidas repetidas no tempo pelo PROC MIXED do SAS e as médias comparadas pelo teste de Tukey, a 10% de probabilidade. Efeito de tratamentos e estações do ano foram considerados como fixo, e de blocos e anos como aleatórios. A massa de forragem pré e pós-pastejo foi semelhante entre os tipos de pastagem (P ≤ 0,570), com as médias de 3351 kg/ha e 2603 kg/ha, respectivamente. No BB+DO, à proporção de leguminosa foi 25,2% na condição pré-pastejo e 26,4% na condição pós-pastejo. Não houve diferença estatística para o peso médio (233 kg; P = 0,288); ganho médio diário (0,460 kg/dia; P = 0,405), taxa de lotação (1,85 UA/ha; P = 0,254) e ganho por área (98,5 kg/ha/estação; P = 0,785). A dieta dos animais no BB+DO apresentou um aumento de 5% na proteína bruta, 58% nos TC, 0,54% na matéria orgânica e 19% na fibra indigestível em detergente neutro em relação às monoculturas (P ≤ 0,040), sem alterar o consumo de matéria seca (1,88% do peso corporal; P = 0,755) e digestibilidade da matéria seca (média de 54%; P ≤ 0,569). A eficiência da utilização do N foi superior no BB+DO, pois reduziu a excreção de N na urina (P = 0,003) e aumentou a eficiência de síntese de proteína microbiana (168,2 g de Pmic/kg de MOD; P = 0,036). As emissões deCH4 por animal (P < 0,001), por peso corporal P = 0,013), por peso metabólico (P = 0,001), por ganho médio diário (P =0,019), por consumo de matéria seca (P = 0,074) e por área (P = 0,055) foram menores nas novilhas no tratamento BB+DO, sendo 25% inferior em relação às emissões dos animais nos demais tipos de pastos, mas sem afetar o desempenho animal. O estudo evidencia que a introdução de DO nas pastagens é uma estratégia robusta para mitigação das emissões de CH4 entérico, sem comprometer o desempenho animal. Apesar da produtividade semelhante entre os sistemas avaliados, o uso de leguminosas demostrou potencial para a sustentabilidade na pecuária. Práticas para a produção de carne com baixo carbono não beneficia somente o meio ambiente, mas também pode atender à crescente demanda dos consumidores e das indústrias por produtos com menor impacto ambiental.